Entenda em 5 pontos o novo relatório sobre mudanças climáticas



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O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aprovou, na manhã desta quarta-feira, dia 07 de agosto, o novo Relatório Especial sobre Mudanças Climáticas e Uso da Terra. 

Desde a última sexta-feira, dia 02 de agosto, delegações de 195 países estavam reunidas em Genebra (Suíça), para examinar, detalhadamente, a versão preliminar do novo relatório especial.

O documento considerado é do IPCC, ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). Com a aprovação da versão definitiva do relatório, as conclusões da análise científico-política foram divulgadas nesta quinta-feira, dia 08 de agosto. 

Após uma longa noite de sessão plenária ininterrupta, no dia 06 de agosto, com debates que ainda se estenderam durante toda a manhã de quarta-feira, os integrantes do IPCC decidiram pela aprovação do Relatório

O relatório especial foi elaborado por 107 pesquisadores, oriundos de 52 países. Do total, 96 cientistas contribuíram como autores e apenas 11 como líderes de capítulos. Foi um exaustivo trabalho que durou mais de dois anos para finalizar. 

Uma das novidades desta edição do relatório é um capítulo exclusivo sobre degradação das terras, que teve como autor líder o pesquisador brasileiro Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

Foi a primeira vez que um representante brasileiro foi escolhido pelo IPCC para coordenar a construção de um capítulo especial do relatório.

O vídeo abaixo mostra como foi o momento da aprovação do Relatório. No final deste post, está disponível a versão final do relatório. 

Com base nesse relatório do IPCC, serão estabelecidas metas e compromissos dos países para reduzir os impactos da mudança climática sobre o Planeta, nas próximas décadas.

Explicamos neste post, com mais detalhes, as consequências da mudança climática e suas implicações para a vida humana. 

Dentre os temas discutidos no novo relatório especial, estão: mudança climática, desertificação, degradação dos solos, gestão sustentável das terras, segurança alimentar e fluxos de gases que provocam o efeito estufa nos ecossistemas terrestres.

Tivemos acesso, com exclusividade, aos cinco principais pontos do relatório debatido em Genebra. Confira a seguir os destaques. 

1) A degradação da terra afeta pessoas e ecossistemas em todo o Planeta, é afetada pela mudança climática e contribui para ela

No relatório do IPCC, os especialistas exploram como a forma de uso da terra contribui para as alterações climáticas, e como as alterações climáticas afetam a terra.

O conceito de degradação da terra é considerado como uma tendência negativa de mudança na condição da terra, causada exclusivamente por processos induzidos pelo ser humano, diretos ou indiretos, incluindo a mudança climática antropogênica.

A degradação a terra é uma redução ou perda, a longo prazo, da produtividade, integridade biológica ou valor econômico da terra para os seres humanos.

A degradação da terra ocorre em áreas cultivadas de sequeiro, irrigadas ou de pastagens, florestas e bosques, resultantes de usos da terra, de um processo ou uma combinação de processos, incluindo aqueles decorrentes de atividades humanas ou padrões de ocupação.

Relatório do IPCC sobre mudanças climáticas

Em longa sessão plenária, relatório foi analisado, trecho por trecho, pelas delegações nacionais.

Dentre os fatores que influenciam na degradação da terra, estão: I) erosão do solo, causada pelo vento e/ou água; II) deterioração das propriedades físicas, químicas, biológicas ou econômicas do solo; e III) perda de longo prazo da vegetação natural.

A definição dos especialistas do IPCC expande o escopo de degradação da terra para todas as regiões do Planeta, não apenas para as áreas secas. Para entender os impactos da mudança climática sobre a Caatinga, leia este artigo.  

Já a degradação do solo refere-se a um subconjunto de processos de degradação da terra que afetam diretamente o solo.

Mudanças na condição da terra, resultantes exclusivamente de processos naturais (como erupções vulcânicas e tsunamis), não são consideradas degradação da terra, pois não são processos induzidos pelo ser humano, direta ou indiretamente.

2) A agricultura é um dos motores dominantes de degradação da terra e indutora da mudança climática

No relatório especial do IPCC, os especialistas concluíram ser necessário transformar a maneira como o mundo produz alimentos, para conter o avanço da mudança climática. Neste post, explicamos como funciona a produção sustentável de alimentos. 

“Mudanças no uso da terra e manejo insustentável do solo são causas humanas diretas da degradação da terra, com a agricultura sendo um setor dominante que causa a degradação”, alerta o relatório. 

Mais de dois terços da superfície terrestre continental são utilizados para alimentar, vestir e apoiar a crescente população da Terra.

A agricultura intensiva ajudou a população mundial a subir de 1,9 bilhão de pessoas, há um século atrás, para 7,7 bilhões. O impacto dessa exploração aumentou a erosão do solo e reduziu sua quantidade de material orgânico.

Além disso, cerca de metade de todas as emissões de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes, vem de campos de gado e arroz, enquanto o desmatamento e a remoção da floresta causam níveis ainda mais significativos de emissões de carbono.

“A mudança climática exacerba a degradação da terra, através do aumento da intensidade da chuva, inundações, frequência e severidade da seca, estresse térmico, vento, aumento do nível do mar e ação das ondas”, afirmam os autores do relatório.

A perda de solo em áreas cultivadas excede convencionalmente a taxa de formação do solo, em magnitude superior a duas vezes. 

Um dos destaques do relatório especial é a importância crucial de um uso otimizado das terras, um aspecto ignorado durante muito tempo, segundo os especialistas.

Uma agricultura industrial nociva, baseada em produtos químicos, desmatamento e emissões de gases provoca o efeito estufa, aumenta a degradação dos solos e a mudança climática.

3) Os impactos da degradação da terra e da mudança climática são desiguais

A degradação da terra afeta adversamente os meios de subsistência das pessoas que dependem dos recursos naturais para subsistência, segurança alimentar e renda.

Estima-se que o processo ocorre em mais de um quarto da área continental da Terra. Esses grupos sociais, incluindo mulheres e jovens, com opções de adaptação limitadas, são especialmente vulneráveis ​​à degradação da terra e à mudança climática.

O número de pessoas cuja subsistência depende de terras degradadas foi estimado em cerca de 1,5 bilhões de pessoas em todo o mundo. Provavelmente, a maioria da população afetada pela degradação da terra vive na pobreza, nos países em desenvolvimento.

A perda de produtividade do solo aumenta a carga de trabalho de gestão da terra, afetando as mulheres de maneira desproporcional, em algumas regiões.

O novo relatório especial do IPCC chama atenção para uma sociedade extremamente desigual, sobretudo quanto ao acesso à alimentação.

Enquanto dois bilhões de adultos têm sobrepeso ou estão obesos, com um grande desperdício de comida, a fome afeta pelo menos 820 milhões de pessoas.

As terras produzem muito mais alimentos do que o necessário para alimentar o mundo inteiro. Todavia, um dos grandes problemas é que quase 30% da comida produzida termina no lixo.

A degradação da terra afeta os seres humanos de muitas maneiras, incluindo dimensões sociais, políticas, culturais e econômicas, além de mercados, tecnologia, desigualdade e mudança demográfica.

Os impactos da degradação da terra estendem-se além da própria superfície da terra, afetando os sistemas marinhos e de água doce, bem como as pessoas e os ecossistemas distantes dos locais de degradação.

O processo de degradação da terra e mudança climática ameaça os já precários meios de subsistência locais, deixando-os altamente sensíveis a eventos climáticos extremos, com consequências como pobreza e insegurança alimentar.

Em alguns casos, a migração dessas terras é a única alternativa.

4) Produção intensiva de bioenergia aumenta degradação da terra

A produção em larga escala de biomassa, para produção de bioenergia, aumenta a competição por terras, com sérias consequências à segurança alimentar e à degradação da terra.

A intensificação da produção de biomassa, através do uso de fertilizantes, irrigação ou monoculturas, aumenta a degradação da terra e pode interromper os meios de subsistência locais.

Os especialistas do IPCC concluíram que os impactos das culturas energéticas podem ser reduzidos se houver a integração estratégica com sistemas agrícolas e florestais. Todavia, ainda não se conhece a quantidade de áreas que podem ser exploradas nesse modelo de produção.

5) Redução no uso da biomassa tradicional protege os solos e o Planeta

O uso de lenha, carvão e resíduos agrícolas continua a ser fonte primária de energia para mais de um terço da população global.

Segundo o relatório do IPCC, o uso insustentável de recursos da biomassa e a degradação florestal representam cerca de 2% das emissões de gases de efeito estufa global.

A redução no uso dessa biomassa tradicional evita a degradação dos solos e reduz parte das emissões de CO2.

Também proporciona cobenefícios sociais e econômicos para a população, como melhoria da saúde e redução na carga de trabalho, sobretudo para mulheres e jovens.

O manejo florestal e agrícola adequado, a transição energética e a adoção de equipamentos eficientes para cozinhar ou aquecer pode promover o uso mais sustentável da biomassa e reduzir a degradação do solo.

Para acessar o novo Relatório do IPCC, clique aqui

Conclusões

Mudança climática e degradação da terra, dois processos que se afetam mutuamente. Os especialistas do IPCC alertam, no novo relatório especial sobre mudança climática e uso da terra, que apenas a transição energética não será suficiente para conter o avanço das emissões.

A agricultura industrial, com seus processos predatórios, surge como a grande vilã no processo de mudança climática e degradação da terra.

Uma vez aprovado o novo relatório do IPCC, esta semana, os cientistas chamarão atenção do mundo inteiro para a necessidade de um modelo mais sustentável de produção de alimentos.

Pouco ainda se conhece, de forma sistematizada, a dimensão da degradação da terra nas várias regiões do mundo. Em geral, as pesquisas são realizadas em âmbito local, com metodologias as mais variadas.

Todavia, o Sensoriamento Remoto, associado a outras técnicas, pode gerar dados geograficamente explícitos e globalmente consistentes, em escalas de tempo de várias décadas.

Uma metodologia padronizada, com uso de geotecnologias, permitirá uma compreensão mais abrangente da gravidade da degradação. Conheça a metodologia do Lapis, clicando aqui.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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