Convergência de secas alerta para aumento de incêndios florestais



Ouça este conteúdo
Parar este conteúdo

Quase todos os indicadores de seca estão piscando em vermelho, em grande parte do Brasil, após um verão, outono e início de inverno secos. No momento, cerca de 80% do Brasil enfrenta algum nível de seca e não há sinais de alívio.

É o que mostra o mapa da umidade do solo, que resulta do monitoramento contínuo da seca, realizado pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, a imagem de satélite mostra que a umidade do solo está abaixo da metade do normal, em grande parte do País. Enquanto isso, o volume dos reservatórios diminui e o nível dos rios está caindo.

Imagem de satélite da umidade do solo, elaborada no QGIS, com dados do satélite SMOS

Imagem de satélite da umidade do solo, elaborada no QGIS.

Ainda é início de julho e os municípios do Centro-Sul do País já consideram racionamento no uso de água, para aumentar a durabilidade do abastecimento.

Humberto Barbosa também observa de perto o impacto do rápido aumento das temperaturas e da estiagem sobre os solos. O baixo índice de cobertura vegetal, ou seja, parte da vegetação morta pela seca, significa um fator propulsor, para mais uma perigosa temporada de incêndios florestais, no sul da Amazônia e no Pantanal.

Existem vários tipos de seca, a depender do nível do impacto da escassez de chuva, sobre os recursos naturais e setores econômicos. Diante do cenário de estiagem deste ano, é possível que haja a convergência entre vários tipos de seca, no Centro-Sul brasileiro, pois todos eles estão em níveis recordes.

Imagem de satélite da precipitação, com dados CHIRPS, elaborada no QGIS.

Imagem de satélite da precipitação, elaborada no QGIS, com dados CHIRPS.

Confira a análise dos tipos de secas simultâneas, cujos acumulação de impactos aumenta o risco de degradação ambiental:

Seca meteorológica: ocorre quando há muita escassez de chuva. No fim de junho, a precipitação, em grande parte do Brasil, foi inferior a 10 milímetros (mm), e a falta de chuva continua em julho.

Seca hidrológica: ocorre quando há redução no volume de água de rios, lagos, riachos e lençóis freáticos. Muitos estados do Centro-Sul brasileiro alertam sobre o baixo fluxo de água, atualmente, após um outono com temperaturas máximas de verão.

Seca agrícola: a diminuição na umidade do solo acarreta problema no desenvolvimento das plantações. De acordo com o mapa da umidade do solo acima, os níveis médios de umidade do solo, em grande parte do Brasil, em junho, estavam em níveis inferiores a 10%.

Seca ecológica: todos esses fatores podem levar os ecossistemas além da sua capacidade de suporte, para uma condição chamada de seca ecológica, com consequências perigosas e de alto custo.

À medida que a seca persiste, aumenta a chance de incêndios grandes e desastrosos. A perspectiva sazonal de condições mais quentes e secas do que o normal, para o inverno, e as previsões para a temporada de incêndios, pelas agências federais, sugerem que outro longo e difícil ano de incêndios pode estar à frente.

O aumento das temperaturas globais também influencia na intensificação da seca, pois o solo e a vegetação secam de forma mais rápida. Calor extremo e secas podem se intensificar mutuamente. A radiação solar faz com que a água evapore, secando o solo e o ar.

Mapa da intensidade da seca em junho, elaborado no QGIS

Com menos umidade, o solo e o ar esquentam, o que seca ainda mais o solo. O resultado é vegetação extremamente seca, que pode desencadear grandes incêndios florestais rapidamente. Além disso, solos mais secos, exigem mais irrigação, aumentando a demanda por água.

De forma alarmante, o gatilho para o ciclo de seca e aquecimento está mudando. Na década de 1970, a falta de precipitação costumava desencadear esse ciclo, mas o excesso de calor iniciou o processo nas últimas décadas.

À medida que o aquecimento global aumenta as temperaturas, a umidade do solo evapora mais cedo e em taxas maiores, secando os solos e desencadeando o aquecimento e o ciclo de intensificação da estiagem.

As condições quentes e secas no Centro-Sul do País, no ano passado, alimentaram uma temporada recorde de incêndios florestais, que incluiu os maiores incêndios já registrados, no sul da Amazônia e no Pantanal.

Pela importância desse tema, nesta quinta-feira, dia 08 de julho, às 19 horas, haverá uma aula online e gratuita, com o geoprocessador Humberto Barbosa, com o tema “Evapotranspiração real por sensoriamento remoto aplicada à agricultura”. Para ser avisado quando a transmissão AO VIVO começar, clique no link abaixo e ative o lembrete.

Inscreva-se para a Maratona de “Geoprocessamento, Mapas e Agrometeorologia”, um evento 100% online e gratuito, a ser realizado pelo Laboratório Lapis, no período de 20 a 22 de julho de 2021. Para se inscrever, clique aqui

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

Gostou do texto? Compartilhe com seus amigos:



Artigos Relacionados

Clima e energia

Verão no Brasil não terá impacto do La Niña nem do El Niño

Clima e energia

“Não há justificativa climática para pico de queimadas em São Paulo”, afirma cientista

Clima e energia

Laboratório indica previsão de seca para o Nordeste em 2025

Inscreva-se

Deixe aqui seu e-mail e receba nossas atualizações.


×

Este site utiliza cookies. Ao fechar este aviso, você concorda. Saiba mais.