O El Niño continuará influenciando o clima das regiões brasileiras, nos próximos meses. De acordo com a previsão do Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), publicada no último dia 09 de maio, o fenômeno El Niño, de intensidade fraca, irá se manter no fim do outono e no decorrer do inverno no Hemisfério Sul. A chance de essa previsão se confirmar é de 80%, abrangendo o período de maio a julho.
O El Niño é caracterizado pela elevação da temperatura da superfície do oceano Pacífico. Nesse momento, o aquecimento não ocorre de maneira uniforme. Ao contrário, há diferenças entre as temperaturas da área central e da faixa leste do Pacífico. Essa divergência no aquecimento das águas, de acordo com a região daquele oceano, torna os impactos do fenômeno mais brandos, em grande parte do Planeta.
A figura abaixo mostra a temperatura da superfície dos oceanos, observada no período de 10 a 16 de maio de 2019, para regiões do Atlântico, Pacífico e demais áreas do Planeta. Quando se fala em desvio de temperatura, estamos nos referindo à temperatura do mar observada atualmente, em relação à média histórica dos últimos 30 anos.
As regiões com águas mais aquecidas do que o normal são mostradas nas áreas em cores variando de amarelo a vermelho. Já as áreas destacadas na cor azul indicam aquelas onde as águas estiveram mais frias do que a média histórica. A cor branca representa temperatura em torno da normalidade.
Na região central do Pacífico equatorial (conhecida como Niño 3.4), desde o fim de setembro de 2018, predomina a temperatura em 0,5 oC mais quente que o normal. Esse aquecimento ficou mais evidente durante os meses de fevereiro e março de 2019. Atualmente, as águas na região central do oceano Pacífico equatorial continuam com temperatura em torno de 2 oC mais quentes que a normal climatológica.
As projeções para aquela região do Pacífico, nos próximos meses, indicam que a temperatura da superfície do oceano permanecerá elevada a 0,5 oC e 1 oC, podendo durar até o fim do verão.
Já na faixa leste do Pacífico, área mais próxima da Costa da América do Sul (chamada de Niño 1+2), a situação é diferente. Essa área do Pacífico, fronteira com o Peru, é a que influencia diretamente as condições climáticas do Brasil. Lá, o aquecimento ocorreu em um período mais curto, de outubro de 2018 a março de 2019, e o aumento da temperatura nem chegou a 0,5 oC.
Essa atual configuração do Pacífico caracteriza uma situação de El Niño modoki, um fenômeno de intensidade fraca. Ela ocorre quando as águas da região central e da faixa leste daquele Oceano não estão aquecidas de forma regular. Em um cenário de El Niño clássico ou canônico, a parte leste do Pacífico deveria ter um desvio de temperatura maior que a região central, não sendo esse o atual cenário observado.
Segundo as previsões climáticas da NOAA, no período de maio a julho, o Pacífico se manterá com aquecimento fraco, ou até mesmo levemente mais frio, em alguns momentos.
A animação acima mostra as condições da temperatura das regiões do Pacífico, desde o fim de fevereiro deste ano. Observe as oscilações no aquecimento das águas na faixa leste daquele oceano, que exerce maior influência no clima das regiões brasileiras.
No fim de fevereiro, a água estava levemente morna, em torno de 0,5 oC. Durante o mês de março, predominou o aumento na temperatura das águas do Pacífico Leste, ficando em torno de 1 oC. Nesta condição, foi quando configurou-se um El Niño canônico.
Porém, a temperatura do Pacífico em torno da Costa do Peru diminuiu e, no início de abril, a água chegou a ficar até um pouco mais fria, em relação à média normal. Mas observações, desde a segunda quinzena de abril até a primeira semana de maio, mostraram registro de água morna ou um aquecimento bastante fraco nessa área do Pacífico.
Atualmente, mais uma vez, há uma tendência ao esfriamento dessa área mais próxima ao Peru. Assim, desde o mês de abril, predomina um El Niño do tipo modoki, em função de o Pacífico não está uniformemente aquecido.
As variações climáticas nas regiões brasileiras dependem da temperatura das águas do oceano Pacífico (Nino 1+2) e da superfície do Atlântico Sul. Compreender essas condições oceânicas e suas interações com a atmosfera são fatores decisivos para as previsões climáticas no Brasil.
A ilustração acima mostra as influências do El Niño clássico e do El Niño modoki no clima das diferentes regiões brasileiros, predominantemente, no período de dezembro a março. Nestes meses, o El Niño clássico costuma provocar secas no Nordeste e no Norte. Por outro lado, chuvas no Centro-Sul do Brasil.
Já em casos de El Niño modoki, durante esse mesmo período, é comum haver chuvas no Nordeste e Norte, enquanto a seca predomina no Centro-Sul.
Como já estamos em maio de 2019, mostraremos, mais adiante, no mapa da precipitação acumulada para este mês, que o El Niño modoki tem alterado esses cenários típicos. No Centro-Sul e na região do extremo Norte, está ocorrendo muitas chuvas, enquanto as demais áreas do País enfrentam situação de seca ou neutralidade.
A pergunta é como o El Niño, do tipo modoki, influenciará o clima nas regiões brasileiras, nos próximos meses, segundo as previsões. A seguir, será apresentado um possível cenário climático para as regiões Norte e Nordeste, bem como para o Centro-Sul do País, durante o período de maio a julho.
Todo mundo já sabe: o El Niño, em geral, reduz as chuvas no Nordeste brasileiro. Todavia, este ano, por se tratar de um El Niño de intensidade fraca, outros sistemas atmosféricos e oceânicos atuaram, favorecendo as chuvas na região.
Como a temperatura do Atlântico Sul também influencia no clima do Nordeste e este ano suas águas ficaram mais aquecidas, esse cenário favoreceu a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), bem como a ocorrência de chuvas na Costa Norte do Nordeste. Os Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN’s) também possibilitaram a ocorrência de chuvas em algumas áreas da região, sobretudo no setor norte do Nordeste.
Dessa forma, por se tratar, na maior parte do tempo, de um El Niño modoki, a influência do Pacífico não foi predominante no Semiárido brasileiro. Neste mês de maio, encerra-se o período das chuvas no Semiárido brasileiro, cuja quadra chuvosa (fevereiro a maio), tem recebido, este ano, menos influência do El Niño.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), o El Niño tem influenciado muito o clima no Litoral do Nordeste brasileiro, onde a quadra chuvosa teve início no final de abril e vai até agosto.
“As previsões para a Costa Litorânea é de chuvas muito abaixo da média, com volumes inferiores a até 50%, em relação à média histórica. A previsão sazonal para maio, junho e julho indica tendência de redução ainda maior de chuvas, com volumes inferiores a até 60% abaixo da média”, destaca Barbosa.
O mapa acima, elaborado pelo Lapis, mostra a previsão climática sazonal na Costa Leste do Nordeste brasileiro, com destaque para a grande redução nas chuvas durante os meses de junho, julho e agosto de 2019.
No geral, o clima quente poderá ficar acima da média em toda a região, principalmente no Semiárido brasileiro.
Além da influência do El Niño, o esfriamento das águas do Atlântico Sul, nas primeiras semanas de maio, tem reduzido as chances de chuvas na Costa Leste do Nordeste, possivelmente até o fim do outono.
A combinação do El Niño modoki com o resfriamento do Atlântico Sul tem provocado o surgimento de sistemas de alta pressão atmosférica. Esses sistemas adentram o Continente, impedindo a formação de nuvens e, consequentemente, as chuvas ao longo da Costa do Nordeste do Brasil.
Humberto Barbosa também destacou que na área mais ao Sul do Nordeste, principalmente no Sul de Pernambuco e no estado da Bahia, predominou condição de seca. “Em função da influência do El Niño, as chuvas têm sido bem abaixo da média histórica nessas áreas do Nordeste. As frentes frias tendem a ficar bloqueadas na região do Centro-Sul, não provocando áreas de instabilidade capazes de provocar chuvas no Sul do Nordeste”, completa Barbosa.
A imagem de satélite acima mostra as condições da umidade dos solos no Semiárido brasileiro, no período de 06 a 12 de maio de 2019. O monitoramento por satélites da umidade dos solos permite obter uma das respostas mais imediatas sobre o volume de chuvas na região.
Para uma análise aprofundada sobre os eventos de El Niño, de La Niña e a influência do Atlântico no Nordeste brasileiro, indicamos a leitura do Livro "Um século de secas" (Editora Chiado, Portugal). Para adquirir o Livro, clique aqui.
No Norte do Brasil, durante o chamado inverno amazônico, o El Niño provocou chuvas frequentes e intensas, acarretando na subida das águas de rios e igarapés.
Por consequência, causou alagamentos em áreas próximas a mananciais. Porém, a partir de meados de maio, a instabilidade migra para o Noroeste do Brasil.
Segundo o meteorologista Humberto Barbosa, a expectativa é de que a água mais morna no oceano Pacífico provoque chuvas mais intensas no Sul e na região central do País, entre maio e junho. Normalmente, o período mais seco se iniciaria agora em maio naquelas regiões.
O mapa acima mostra o volume médio de chuvas acumuladas, na primeira quinzena de maio. As áreas em vermelho mostram predomínio de seca, enquanto as áreas em amarelo, verde e azul registram volumes maiores de chuvas acumuladas. A cor branca representa condição de neutralidade. Observe como o Sul do Brasil já foi influenciado pelo El Niño nesse período, bem como o Norte da Amazônia, pela ZCIT.
O El Niño causa aquecimento na área oceânica, próxima à Costa da Argentina, e mais acentuado no Sudeste do Brasil, favorecendo as condições de instabilidade atmosférica e, consequentemente, precipitação no Sul.
A previsão é de chuvas acima da média, até julho, no Centro-Sul do Brasil. Com a região central do Pacífico aquecida, os ventos fortes em altitude, chamados de correntes de jato, permanecerão mais intensos que o normal. Com isso, a tendência é de um maior volume de chuvas para uma área que abrange São Paulo e Mato Grosso do Sul, até o Rio Grande do Sul.
Essa chuva irá variar muito espacialmente, ora estando mais entre o Sudeste e o Centro-Oeste, ora mais no Rio Grande do Sul. Isso ocorre em função de as oscilações de temperatura das águas no Leste do oceano Pacífico influenciarem esses ventos fortes de altitude. Assim, a chuva acima da média não acontecerá o tempo todo, com previsão de alternância entre períodos chuvosos e intervalos mais secos na região central e no Sul do Brasil.
As previsões climáticas indicam um aquecimento mais persistente do Pacífico Leste, a partir de agosto. Mesmo assim, o El Niño modoki será mantido, pois o Pacífico central permanecerá com desvios de temperatura superiores aos do Pacífico Leste.
Com isso, as chuvas irão persistir até outubro no Centro-Sul do Brasil. O El Niño provocará chuvas acima da média, em agosto, no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Até outubro, chuvas em excesso estarão concentradas no Rio Grande do Sul.
Um fenômeno de El Niño fraco permite ondas de frio tardias, fortes e espaçadas, entre agosto e setembro, no Sul do Brasil. Já na região central do País, a tendência é de calor, pois está previsto leve aumento nas temperaturas médias.
A previsão de chuvas acima da média no Centro-Sul sugere maior produção de etanol em 2019/20 e aumento no preço do açúcar. As chuvas irão favorecer o crescimento dos canaviais, mas poderão reduzir os níveis de sacarose, diminuindo a produção de açúcar nas usinas.
Neste post, mostramos como as condições oceânicas atualmente observadas indicam a continuidade do fenômeno El Niño, de fraca intensidade, nos próximos meses. Como consequência, o Centro-Sul do Brasil será marcado por chuvas intensas, enquanto a seca predomina no Nordeste brasileiro, com chuvas abaixo da média na região litorânea.
Essa condição climática irá interferir na produção agrícola das regiões brasileiras, sobretudo nos ciclos produtivos do agronegócio. Por isso, será importante acompanhar o monitoramento meteorológico, que será divulgado nesta Página.
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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