Bons ventos movimentam as turbinas eólicas do Nordeste brasileiro. Na última sexta-feira, dia 13 de setembro, ventos com velocidade de 43 km/h atingiram a cidade de Fortaleza (CE) e outras áreas do Litoral nordestino.
Os dados são do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
Esta é a temporada de ventos fortes, típicos deste período do ano, em toda a Costa do Nordeste. Os ventos abundantes e intensos favorecem à geração de energia eólica na região.
O meteorologista Humberto Barbosa, do Lapis, explica os fatores que os trazem para a região.
“Além da pouca nebulosidade, os ventos fortes no Nordeste ocorrem em função de um sistema de alta pressão atmosférica, conhecido como Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), que se desloca em direção ao Nordeste, a 6 km de altura, em relação à superfície”, explica Barbosa.
Outro fator que influencia na qualidade dos ventos no Nordeste é a persistência das condições de El Niño na atmosfera. Embora o El Niño já tenha se encerrado no oceano Pacífico, a tendência é que a atmosfera continue respondendo às condições ao fenômeno até, pelo menos, o mês de outubro. Neste post, explicamos como ocorre essa influência.
O Nordeste apresenta condições meteorológicas mais favoráveis ao setor de energia eólica, com ventos regulares e intensos. A região concentra cerca de 85% da produção nacional de energia eólica. Para mais detalhes, acesse este post.
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a geração de energia eólica no País cresceu 15,5% no primeiro semestre de 2019, em relação ao mesmo período em 2018.
As usinas movidas pela força dos ventos produziram 4.731,5 MW médios, frente aos 4.098 MW médios entregues ao Sistema Interligado Nacional (SIN), nos primeiros seis meses do ano passado.
A Bahia lidera o ranking dos estados brasileiros que mais produzem energia eólica atualmente. No primeiro semestre de 2019, foram 1.611 MW médios, um aumento de quase 60%, em comparação com o mesmo período do ano passado.
No Semiárido baiano, desde 2012, foi instalado o maior complexo de energia eólica da América Latina, conhecido como Complexo Eólico do Alto Sertão. Mais de quatrocentos aerogeradores se concentram nos municípios de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí, no sudoeste do estado.
O número de parques eólicos na Bahia – um total de 160 –já superou o do Rio Grande do Norte – que somam 151 –, segundo informações da ABEEólica, em agosto de 2019. A potência instalada já é quase equivalente entre os dois estados, maior que 4 GW, em agosto de 2019.
O gráfico abaixo, elaborado pelo Lapis, mostra a variação na velocidade dos ventos, no município de Caetité, a diferentes alturas, no mês de setembro, durante o período de 2016-2019.
O Maranhão também apresentou um crescimento de cerca de 30% na produção de energia eólica, em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Já Santa Catarina, apesar de ser um dos estados que menos produzem energia com a força dos ventos, registrou um aumento de 68% na geração. O crescimento foi registrado no primeiro semestre de 2019, em relação ao mesmo período do ano passado.
Em termos de capacidade instalada, a Bahia também ocupou a liderança no ranking, no primeiro semestre, com 3,9 GW, seguida pelo Rio Grande do Norte, Ceará, Rio Grande do Sul e Piauí.
O Maranhão ainda se destacou, no primeiro semestre, como o estado com o maior crescimento de instalações. Este ano, houve um aumento de 48,9% na sua capacidade de produzir energia eólica, em relação ao primeiro semestre do ano passado, ficando em sétimo lugar nesse ranking.
De acordo com especialistas em energia eólica, apesar do progressivo avanço do setor, a perspectiva é de um crescimento muito grande dessa fonte de energia renovável, nos próximos anos.
Espera-se que, em 2023, haja cerca de 21 GW de capacidade eólica instalada, levando em conta os leilões já realizados e os contratos assinados no mercado livre. Novos leilões vão adicionar maior capacidade instalada para os próximos anos.
Nos últimos anos, a crise na economia brasileira reduziu a contratação de energia nos leilões, limitando um maior crescimento da indústria eólica.
Em 2015 e 2016, o Brasil entrou em uma profunda recessão, quando o Produto Interno Bruto (PIB) perdeu cerca de sete pontos percentuais. Entre 2017 e 2018, a economia cresceu apenas 2%.
O mercado financeiro já sinaliza projeções para um fraco desempenho da economia este ano. Está previsto um tímido crescimento de 0,85% no Produto Interno Bruto (PIB), que soma todas as riquezas produzidas no País, durante o ano.
Apesar do encolhimento da economia do País, que dificulta a indústria eólica, ela tem crescido de forma consistente, nos últimos anos, e há muito espaço para crescimento no País, nas próximas décadas.
De acordo com dados recentes da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), nos últimos anos, a produção do setor cresceu 15 vezes.
Em 2010, o Brasil possuía apenas 1 GW de capacidade instalada, tendo passado para 15,1 GW, em agosto deste ano, distribuída em 608 parques eólicos, em 12 estados.
Atualmente, a energia eólica representa mais de 9% da matriz elétrica brasileira, atrás somente das usinas hidrelétricas, que têm 60%.
A energia eólica ganhou espaço no País e, em abril deste ano, superou a produção da biomassa, na matriz energética nacional. Com isso, os ventos se tornaram o segundo recurso mais utilizado para a geração de energia elétrica no Brasil.
A ABEEólica tem registrado recordes de abastecimento de carga com energia eólica no País. No último dia 26 de agosto, 89% da energia consumida no Nordeste veio das eólicas, com fator de capacidade de 74% e geração de 8.650 MWmédios.
No dia 12 de setembro, houve um novo recorde, quando quase 14% da energia consumida no Sistema Interligado Nacional foi oriundo das eólicas, com fator de capacidade de 72% e geração de 8.983 MWmédios.
De acordo com um relatório do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), o Brasil está entre os cinco países com maior capacidade instalada para produzir energia eólica onshore (terrestre), em 2018.
A capacidade eólica total instalada no mundo atingiu 591 GW, no final de 2018, um crescimento de 9,6% em relação ao final de 2017.
A China é a líder mundial em instalações, com mais de um terço da capacidade global de energia eólica. Desde 2008, o País lidera o mercado de geração a partir dessa fonte, concentrando atualmente 35% da produção mundial.
Em 2018, a China atingiu 206 GW de capacidade para gerar energia eólica onshore, sendo o primeiro País a superar 200 GW de capacidade total instalada.
Os analistas esperam um enorme crescimento na Ásia, na próxima década. Como parte da reforma em andamento do mercado de energia, o governo chinês tem realizado leilões, desde 2018, permitindo preços competitivos, tecnologia e baixos riscos de redução da produção de energia eólica.
Em 2018, a gigante asiática também liderou a capacidade offshore, instalando 1,8 GW, assumindo a liderança, pela primeira vez, seguida pelo Reino Unido, que instalou 1,3 GW.
O segundo maior mercado, em 2018, foram os EUA, com 7,6 GW de novas instalações terrestres e um total de 96 GW de capacidade instalada em terra. Além da China e dos EUA, os cinco principais mercados eólicos onshore, no ano passado, foram Alemanha (2,4 GW), Índia (2,2 GW) e Brasil (1,9 GW).
No ranking dos dez países com maior capacidade para produzir energia eólica, o Brasil ocupa o 8º lugar na lista, seguido do Canadá.
Na América Latina, os governos utilizam leilão e licitações, com foco em promover a competitividade no setor de energia eólica. Brasil e México realizaram leilões conjuntos de capacidade para energia eólica e solar em terra. No Brasil, a energia eólica tornou-se a tecnologia mais competitiva nos leilões, em 2018.
Os dois leilões realizados (A-4 em abril e A-6 em setembro) capturaram 1 GW do total de energia eólica onshore. A continuidade do programa de leilões no País garante um desenvolvimento constante do mercado. Em junho de 2019, foi realizado mais um leilão (A-4), estando anunciado mais um para 18 de outubro (A-6).
Em 2018, as Américas representaram cerca de 25% da capacidade total instalada de energia eólica onshore global, com os Estados Unidos, México e Brasil na liderança.
O Brasil é o maior centro produtor de energia eólica na América Latina. Em 2018, atingiu 14,7 GW de capacidade instalada, seguido pelo Chile, com apenas 1,6 GW.
O Brasil ainda não possui nenhum parque eólico marítimo, ou energia eólica offshore. Um dos impasses é a falta de segurança jurídica para a construção e operação dessas usinas eólicas, ou seja, a falta de regulamentação.
Em dezembro de 2018, foi aprovado no Senado o Projeto de Lei n° 484/2017, com o objetivo de implantar usinas marítimas para geração de energia eólica, no mar territorial brasileiro (até 22 km da costa) e na zona econômica exclusiva (até 370 quilômetros), a partir de fonte eólica.
O projeto de autoria do senador Fernando Collor, de Alagoas, agora tramita entre comissões da Câmara dos Deputados. A região Nordeste deve ser a maior beneficiada com a implantação das usinas, por ter melhor área para exploração.
Dentre as vantagens da energia eólica offshore, está o regime de ventos, que tende a ser constante e intenso no mar, já que existem poucos obstáculos à sua fluidez. Com isso, haverá grande eficiência na conversão energética.
Destaca-se também uma menor interferência em outras atividades produtivas, do que em terra, e garantia de alavancagem da produção de energia limpa no País.
O crescimento da implantação de usinas eólicas no mar é uma tendência global. A produção offshore já está consolidada em países como o Reino Unido, a Alemanha e, mais recentemente, a China.
Em 2018, pela primeira vez, a China instalou mais offshore (1,8 GW) do que qualquer outro país. O Reino Unido ficou em segundo lugar, com 1,3 GW, e a Alemanha, em terceiro, com 0,9 GW.
Globalmente, a parcela de instalações offshore continua a aumentar e atingiu quatro por cento do total de 591 GW instalados, em 2018. Até 2025, a participação deverá exceder 10% e o total instalado poderá chegar a 100 GW.
A energia eólica offshore tem um enorme potencial, em muitas regiões do mundo, à medida em que se buscam fontes competitivas de energia, com baixa emissão de carbono. Elas também podem ser implantadas em escala e em prazos relativamente rápidos.
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Há um espaço muito grande para o crescimento da energia eólica no Brasil, especialmente na região Nordeste. O País já ocupa uma posição de destaque no mercado de energia eólica onshore, no ranking mundial.
Mesmo com as projeções de tímido crescimento da economia brasileira, em 2019, a indústria eólica cresceu mais de 15%, no primeiro semestre. O mercado é promissor e necessita de mão-de-obra especializada para atuar no setor.
Para que o setor continue avançando, é importante que o Brasil siga a tendência global de produção de energia eólica offshore. Estabelecer normas e uma regulamentação adequada é o primeiro passo para o crescimento desse setor da indústria eólica no País.
Dessa forma, o Brasil poderá aproveitar o potencial desse mais novo “pré-sal eólico”, com a vantagem de ser uma fonte limpa e renovável.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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