Mapeamento mostra alto risco hidrológico na Amazônia



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Reservatórios de água de algumas regiões brasileiras entram rapidamente em situação crítica, principalmente na Amazônia. O monitoramento por satélite do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) mostra os impactos da seca sobre o nível de armazenamento de água, no início e no final de setembro.

Nos mapas abaixo, os círculos em laranja e vermelho mostram como piorou a situação de estresse hídrico dos mananciais da Amazônia, no intervalo do dia 11 para o dia 30 de setembro. Ou seja, o nível da água dos reservatórios caiu para uma categoria inferior pela segunda vez, no final de setembro.

Mapeamento dos reservatórios_Amazônia_stélites

A Amazônia enfrenta impactos cumulativos da seca e atualmente está com risco hidrológico maior do que durante a seca do ano passado. O alto risco hidrológico do Brasil ainda se concentra na região da Amazônia. Ali, há uma forte inter-relação entre secas, degradação e aumento das queimadas.

Temos chamado atenção para o aumento na intensidade da seca, que potencializa as queimadas provocadas pela ação humana, nos biomas brasileiros. Rios da bacia amazônica registram níveis mínimos históricos para esse período.

O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, comparou imagens de satélites da Amazônia brasileira no dia 25 de setembro, na atual condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS), com a mesma data de 1999.

Clima na Amazônia_Imagem de satélite

Naquele ano, a situação era parecida com a atual, pois estava prestes a surgir um La Niña no Pacífico. Mas a imagem do satélite Meteosat mostra que naquela ocasião, havia muita nebulosidade sobre a Amazônia.

“É um sinal de que se atualmente o céu está mais limpo na Amazônia, sem a nebulosidade que havia nesse período em 1999, outros sistemas estão influenciando no clima, sem falar que o Planeta está mais quente, em razão do processo de aquecimento global”, explica Humberto.

A segurança do sistema hidrelétrico no ano que vem vai depender do próximo período chuvoso, que começa no final deste ano e vai até abril de 2025. Hoje, o nível de alerta da situação dos reservatórios na Amazônia está amarelo, começando a se aproximar em alerta laranja.

“Os atuais níveis dos reservatórios ainda estão razoáveis, mas a situação climática dos últimos três meses despertou atenção”, completa o meteorologista.

Imagem de satélite detecta cianobactérias em rios da Amazônia

Monitoramento por satélite de algas em rios da Amazônia

Na bacia hidrográfica da Amazônia, a primavera está mais quente que o normal. A insolação intensa e prolongada em rios com baixos níveis de água aumenta a concentração de algas e de cianotoxinas. Há risco para consumo humano dessa água, inclusive para seu uso em serviços de saúde, como hemodiálise.

A região do baixo rio Tapajós, na altura dos municípios de Belterra e Santarém, no Pará, enfrenta dias escaldantes, com recordes de temperatura. Nos últimos dias, um fenômeno ambiental deixou as adjacências do rio Tapajós com aspecto esverdeado, o que pode indicar presença de algas.

Imagens de satélite permitem avaliar a concentração de clorofila em rios, lagos e reservatórios, auxiliando no planejamento e tomada de decisão, em situações emergenciais de florações de algas. O principal indicador para quantificar a biomassa de fitoplâncton, em corpos d’água, é a concentração de clorofila-a.

A clorofila “a” é considerada a mais comum dentre as clorofilas (a, b, c e d) e pode ser monitorada pela medida da sua concentração, normalmente em microgramas por litro da amostra de água.

As florações de cianobactérias tóxicas e não tóxicas (algas esverdeadas) ocorrem pela eutrofização. Esse processo é intensificado pela poluição das águas com matéria orgânica, altas temperaturas e seca. Com exceção de Santarém (PA), não existem grandes aglomerações urbanas próximas às margens do baixo curso do rio Tapajós. Porém, há uma grande quantidade de pequenas comunidades ao longo dessa região.

A maioria das espécies não tem impacto adverso no ambiente, mas algumas têm efeitos desagradáveis, podendo ser tóxicas para humanos e animais. Os humanos podem ser afetados ao beber água contaminada ou comer mariscos afetados. O contato direto com a água também pode causar coceira e erupções cutâneas. 

Aumento das emissões de carbono é efeito colateral da seca

Mapas comparam situação das secas_QGIS

Os mapas acima comparam os impactos da seca sobre as regiões brasileiras atualmente (à direita), com o mesmo período do ano passado (à esquerda). Chama-se atenção para o impacto excepcional da seca meteorológica, principalmente na Amazônia brasileira.

De acordo com o Livro "Um século de secas", nem todas as secas são iguais, pois há vários tipos de seca: 1) Seca meteorológica: ocorre quando a precipitação fica abaixo da média, durante um período significativo, geralmente um mês ou mais; 2) Seca agrícola: ocorre quando a falta de chuvas leva à queda na umidade do solo, afetando pastagens e plantações; 3) Seca hidrológica: ocorre quando uma seca meteorológica reduz significativamente a disponibilidade de recursos hídricos em rios, lagos e subterrâneos.

A Amazônia enfrenta impactos cumulativos da seca hídrica e atualmente está com risco hidrológico maior do que no ano passado. Rios da bacia amazônica registram níveis mínimos históricos para esse período.

As secas também têm impactos ambientais menos evidentes: a escassa vazão dos rios reduziu drasticamente a quantidade de energia livre de carbono, produzida nas várias usinas hidrelétricas, espalhadas ao longo de rios e reservatórios do Brasil.

Além disso, nos mapas, as áreas em laranja e vermelho mostram como piorou a situação de seca excepcional na região Sudeste, no atual mês de setembro. Áreas do Centro-Oeste e Sul também enfrentam seca. A seca intensa piora as queimadas provocadas pela ação humana, nos biomas brasileiros.

A intensidade da seca compara a quantidade de água disponível no solo, em determinada área, com a média histórica do mesmo período de 1961 a 2010. Nas áreas com seca excepcional, tem-se o seguinte cenário:

Umidade do solo: o solo é seco, com déficit de umidade do solo a longo prazo;

Precipitação: déficit severo de precipitação, aumentando o risco de incêndios florestais;

Vegetação: perda de rendimento agrícola esperado de 20-40%. O impacto da seca nas pastagens se manifesta na disponibilidade de ração para o gado;

Corpos d'água: os fluxos dos rios e os níveis dos reservatórios de água são baixos. Pequenos corpos d'água podem secar. 

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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