A mudança climática vai ameaçar ainda mais a estabilidade da produção de soja. É o que mostra uma pesquisa publicada no periódico Science of The Total Environment, ao avaliar a capacidade de resposta da cultura de soja aos impactos da mudança climática, em regiões de cultivo nos Estados Unidos.
Os Estados Unidos produzem mais de 30% da oferta global de soja. Os resultados da pesquisa, realizada naquele país, também são importantes para avaliar os impactos das mudanças climáticas no Brasil, considerado o maior produtor e exportador de soja do mundo, desde 2020.
Desde a década de 1950, grande parte das áreas produtoras de soja nos Estados Unidos enfrentaram temperaturas mais altas, variação nas chuvas e aumento das emissões de carbono. Esses fatores, associados à interferência das ervas daninhas, influenciam no desempenho da cultura da soja.
A perda no rendimento da soja é impulsionada pelo controle incompleto das ervas daninhas, associada à seca e às altas temperaturas, durante sua fase de reprodução.
Uma das conclusões do estudo é que condições mais quentes e secas, típicas da mudança climática, provocam grande impacto negativo nos rendimentos da soja, em razão do aumento das perdas por ervas daninhas.
A perda no rendimento da soja ocorre mesmo havendo altos níveis de controle das ervas daninhas. Essas plantas infestantes tendem a se tornar mais resistentes aos herbicidas, sobretudo em períodos de temperaturas mais quentes e com maior risco de seca. A crescente resistência aos herbicidas reduz a utilidade do controle químico das ervas daninhas.
A pesquisa mostrou que, nos Estados Unidos, populações de ervas daninhas de pelo menos 24 espécies desenvolveram resistência a herbicidas. O que preocupa ainda mais é que sete dessas espécies desenvolveram resistência a dois ou mais herbicidas, de diferentes locais de ação, que costumam ser encontradas em campos de soja.
Os pesquisadores alertaram que o controle químico das ervas daninhas não será suficiente, em um cenário de mudança climática. Será necessário desenvolver outras tecnologias, opções sem herbicidas, que possam ajudar a manter um alto nível de controle das ervas daninhas resistentes.
As secas mais severas e frequentes reduzem o controle das ervas daninhas. Temperaturas mais quentes (maior que 30 °C) aumentam a taxa de crescimento de várias espécies desse tipo de planta.
A pesquisa demonstrou que o controle deficiente ou inexistente de ervas daninhas, no final da estação, causou uma perda média de rendimento de 48% de soja.
Práticas de manejo não-químico das ervas daninhas, como mudar as estratégias de manejo da cultura da soja, para aumentar sua competitividade com as ervas daninhas, precisam ser mais exploradas. É uma das formas que se mostraram eficientes para mitigar alguns dos impactos do crescente problema da resistência aos herbicidas.
Cultivares de soja com maturação mais tardia aliviaram as perdas nos rendimentos, causadas pelo mau controle de ervas daninhas, no final da temporada. A redução da perda foi avaliada na pesquisa em cerca de 16%.
A seca e o calor prejudicam o preenchimento das sementes, levando à perda no rendimento da soja. O crescimento vegetativo dessa cultura é afetado pelo estresse hídrico e danos significativos ao rendimento podem ocorrer, se o estresse for suficientemente severo.
Por isso, os pesquisadores afirmam que os agricultores devem se preocupar com a perda no rendimento da soja, com o clima em mudança.
O controle deficiente das ervas daninhas, no final da estação, é o principal fator de perda no rendimento da soja. Os padrões climáticos de seca e calor sugerem que os produtores de soja precisam alcançar os mais altos níveis de controle de ervas daninhas, durante toda a temporada de produção, visando minimizar os danos na produtividade.
Mas com o aumento sem precedentes no custo dos insumos, os produtores não conseguem arcar com os prejuízos.
A soja pode lidar com a interferência das ervas daninhas por mais tempo do que o milho. Mas com a mudança climática e o aumento da resistência das espécies de ervas daninhas, os produtores de soja devem reforçar o controle.
Uma estratégia integrada de manejo de ervas daninhas também é necessária. É o caso do uso da soja de maturação tardia. Essa ferramenta pode ser útil para reduzir o risco de controle incompleto das plantas infestantes e promover a adaptação à mudança climática.
Outro impacto da mudança climática é que a maior frequência de eventos extremos de chuva diminui o número de dias de trabalho no campo e atrasa o plantio das culturas.
Os danos à produtividade da soja, devido ao estresse hídrico, variam de acordo com o momento e a severidade da seca, sendo a floração e o enchimento das sementes os estágios mais suscetíveis.
Embora as ervas daninhas e a variabilidade climática causem estresse simultâneo à soja, pouco se sabe sobre seus efeitos combinados na produção. A capacidade de resposta da soja à mudança climática e à interferência das plantas daninhas pode ser útil ao desenvolvimento de estratégias para adaptação ao clima em mudança.
A seca que afetou o Centro-Sul brasileiro, desde 2020, e mais recentemente, a área central do País, impacta fortemente a cultura agrícola da soja.
Não é à toa que o Brasil é o maior produtor mundial de soja. Quase todas as regiões brasileiras se dedicam ao cultivo desse grão. É o caso da região Sul, Sudeste, Centro-Oeste e grande parte do Nordeste, além do Tocantins.
O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) monitora semanalmente a situação da seca e das temperaturas, nessas regiões agrícolas. De acordo com o mapa de monitoramento da seca, a região central e parte do norte do Brasil enfrentam seca grave atualmente.
Já as áreas afetadas por seca excepcional é o Mato Grosso, norte de Goiás, oeste da Bahia, sul do Piauí e de Tocantins, além de Rondônia. A recorrência da seca nessas áreas ocorre desde o último mês de março.
Outra importante ferramenta agrometeorológica, para monitoramento dos impactos da seca e da mudança climática, é o mapa do estresse hídrico. O Centro-Oeste e Matopiba, regiões dedicadas à produção de milho e soja, são as áreas que enfrentam hoje situação mais crítica de estresse hídrico.
O mapa do estresse hídrico mostra as áreas do Brasil que enfrentam seca e altas temperaturas (em torno de 37 oC), há mais de 20 dias. A imagem foi processada no QGIS, pelo Laboratório Lapis, a partir de dados de satélites. A atualização foi feita para o período de 1 a 10 de abril.
Além de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, outros estados brasileiros também se destacaram na produção de soja, como: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Maranhão,Tocantins, Piauí, Santa Catarina e Pará.
Para aprender a elaborar esse tipo de ferramenta de monitoramento agrometeorológico, em forma de mapas, aproveite que o Laboratório Lapis está com inscrições abertas para o Curso "O Mapa da Mina".
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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