Nasci nos anos 1980. Naquele tempo, usar fraldas de pano nas crianças, desde os primeiros dias de vida, era algo normal. Naturalmente, era função corriqueira das mães, tias ou avós lavarem, todos os dias, aquele enorme cesto de fraldas. Hoje, vejo o quanto esses hábitos mudaram. Desde o início da gravidez, o que as mães mais fazem é o quê? Comprarem e empilharem fraldas. O antigo “chá de bebê”, festinha na qual, antigamente, recebiam-se presentes os mais variados, hoje chama-se, simplesmente, de “chá de fraldas”. Descartáveis, é claro!
A criança é recebida pela família com um estoque exagerado de pacotes, em tamanhos, aromas e marcas variadas. Presenteia-se o bebê com fraldas. Celebra-se sua chegada com o quê? Com fraldas! Parece dar alívio àquela mãe, ainda de primeira viagem, montar um enxoval com uma enorme quantidade de fraldas plásticas e descartáveis. Afinal, o produto está sempre com “ofertas incríveis”, em qualquer lugar, na internet ou perto de casa.
Estou falando sobre isso porque hoje, dia 05 de junho de 2018, é celebrado, pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Mundial do Meio Ambiente, tendo como tema, este ano, “Combater a poluição plástica”.
Obviamente, o consumo excessivo de plástico não está presente apenas na maternidade, mas em todas as esferas da vida, em todos os lugares do Planeta. O uso de canudinhos nos restaurantes, de sacolas plásticas nos supermercados, talheres de plástico, copos e garrafas de água, alimentos congelados, sucos de caixinha, produtos de limpeza específicos para quase tudo...
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A poluição causada pelo descarte de objetos de plástico é um dos grandes desafios ambientais da atualidade. De acordo com a ONU, são necessários pelo menos 450 anos para que uma garrafa de plástico se decomponha e desapareça do ambiente.
A cada minuto, 1 milhão de garrafas plásticas são consumidas no mundo. Já a quantidade de sacolas plásticas descartáveis chega a 5 trilhões por ano. Estima-se que mais de 80 mil quilos de plástico sejam utilizados nas fraldas descartáveis jogadas fora, por ano, nos Estados Unidos.
Apenas na última década, foi produzido mais plástico do que em todo o século passado. Anualmente, são utilizados 17 milhões de barris de petróleo para produzir garrafas plásticas.
O problema é preocupante se considerarmos que a taxa média global de reciclagem desses produtos é de 25%, havendo um enorme volume de lixo plástico descartado nos oceanos.
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Segundo dados da agência ONU Meio Ambiente, todos os anos, 8 milhões de toneladas de lixo plástico são jogadas nos mares, ameaçando a fauna marinha vulnerável.
O consumo de descartáveis é uma questão cultural. São hábitos e facilidades da indústria que chegaram para ficar. Arraigaram-se, em pouco tempo, em nosso cotidiano. Comportamentos de uma sociedade marcada pela pressa e pela aceleração. A poluição plástica tem uma relação direta com a sociedade de consumo em que vivemos. Aliás, diga-se de passagem, que não apenas vivemos na sociedade de consumo, nós a alimentamos de forma muito voraz. Os comerciais na TV, na internet, nos outdoors, em todos os lugares, criam e reforçam necessidades. Vendem não somente produtos de “melhor qualidade”, mas vendem soluções, conforto, promessas de transformação.
Os impactos do aumento do consumo de plástico se refletem diretamente no ambiente, nos mares e oceanos, tendo sérias consequências para a biodiversidade, incluindo o próprio ser humano.
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Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, que tal sair da sua zona de conforto? Troque o suco de caixinha pelo da fruta, feito em casa, sem conservantes e, claro, sem caixa. Recuse o canudinho de plástico no restaurante, evite alimentar a indústria do fast food, uma das grandes vilãs no consumo de plástico. Use sacolas de panos no supermercado. Reutilize copos e garrafas. Reduza o uso de descartáveis. Mude seus hábitos.
A poluição por plásticos já não afeta apenas os oceanos. Uma pesquisa inédita, lançada no dia 23 de outubro de 2018, por pesquisadores da Universidade de Medicina de Viena, mostrou que o organismo humano também está contaminado por minúsculos pedaços de plástico.
São os chamados microplásticos, resíduos degradados de diversos tipos de plásticos, com menos de 5 milímetros de comprimento. Cerca de até 5% de todo o plástico produzido anualmente pelas indústrias são descartados nos mares, sendo consumidos por animais marinhos, atingindo também os seres humanos que fazem parte dessa cadeia alimentar.
De acordo com o estudo, foram identificados microplásticos, de até nove tipos diferentes, no organismo dos participantes da pesquisa, oriundos da Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria. Dentre os microplásticos presentes no intestino dessas pessoas, estão: partículas de polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET), entre outras.
A presença dos microplásticos no organismo humano pode afetar a saúde da população, mas seus efeitos ainda serão estudados pelos pesquisadores.
O hábito de consumo mais sustentável do tempo da sua mãe e avó, ao utilizar fraldas de pano, contribuía para a conservação ambiental e também para a saúde do seu filho, pois evitava-se que a pele do bebê entrasse em contato com as composições químicas do produto descartável.
O mundo está inundado de resíduos plásticos nocivos. Já existe a consciência da situação alarmante da poluição plástica, por parte de empresas e consumidores. Mas os impactos de longo prazo dessa crise ambiental sobre a saúde humana, das outras espécies e do Planeta ainda são pouco conhecidos.
Cada um pode exercer o seu papel ativo e simples para reduzir a poluição plástica. As empresas devem desenvolver mecanismos mais sustentáveis para produção de embalagens. Aos cidadãos: digam não ao uso de plástico descartável e utilizem, no seu dia a dia, apenas itens realmente necessários.
E você, está disposto a mudar seus hábitos de consumo de plástico? Acredita que será possível reduzir a quantidade de resíduos plásticos produzida no Planeta?
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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