O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) divulgou a análise da previsão climática sazonal, para as regiões brasileiras, no período de fevereiro a abril de 2023.
A previsão climática é baseada em informações do modelo climático do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF). Os dados correspondem às anomalias da precipitação total mensal ou da temperatura do ar, ou seja, a uma estimativa da média de chuva e temperatura durante cada mês analisado.
O termo “anomalia” é usado na meteorologia para se referir ao quanto o atual dado de chuva ou temperatura se desviou, para mais ou para menos, em relação à média histórica.
O La Niña ainda predomina no oceano Pacífico, influenciando o clima no atual verão no Brasil, pelo terceiro ano consecutivo. Todavia, em fevereiro, o fenômeno já entra em fase de enfraquecimento, com chances de dar lugar a uma condição de neutralidade climática do fenômeno El Niño Oscilação Sul (Enos). A partir de março, são maiores as chances de que um El Niño já comece a se configurar, embora a atmosfera continue respondendo às características do La Niña, até abril ou início de maio.
Todavia, o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, chama atenção para a condição do oceano Atlântico, com temperaturas mais quentes que o normal, o que é muito favorável para as chuvas na maior parte do Brasil. Provavelmente, o El Niño só passará a influenciar no clima brasileiro a partir da metade de 2023.
O fenômeno La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico Equatorial. Já o El Niño corresponde ao aquecimento dessas águas. A situação de neutralidade climática do Enos ocorre quando não se forma nem La Niña e nem El Niño, naquele oceano.
A seguir, confira a previsão do Laboratório Lapis para as regiões brasileiras, no próximo trimestre, a partir dos mapas da estimativa da precipitação e da temperatura.
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O mês de fevereiro será favorável às chuvas, em grande parte do Brasil, com destaque para a área central e norte do Nordeste, bem como no leste da região Sul.
Nas demais áreas do País, predominam chuvas em torno da média histórica, em fevereiro.
Já a previsão da temperatura média do ar para fevereiro será mais quente que o normal no Centro-Sul e mais frio no extremo norte do Brasil. Nas demais áreas, as temperaturas devem ficar em torno da média histórica.
No mês de março, esperam-se chuvas bem acima da média, na região centro-norte do Brasil, com destaque para a porção norte do Nordeste brasileiro. Já no extremo sul e no extremo norte do Brasil, haverá chuvas levemente abaixo da média.
A previsão de temperaturas no mês de março segue padrão parecido com o mês de fevereiro.
No mês de abril, a previsão é de que as chuvas continuem acima da média no Nordeste brasileiro e em parte da região Norte, além do norte do Mato Grosso.
De forma geral, as temperaturas devem ficar em torno da média, na maior parte do Brasil, no mês de abril, com exceção da região Sul, que pode ficar mais quente que o normal.
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A temperatura do oceano Atlântico Sul também é decisiva para definir a situação climática das regiões brasileiras. Em um cenário de La Niña ou de neutralidade do Enos, no Pacífico, se o oceano Atlântico estiver mais aquecido que o normal, o cenário é favorável para as chuvas na região Nordeste do Brasil.
Isso porque além do La Niña, a chuva no norte do Nordeste também depende que o Dipolo do Atlântico esteja negativo. Ou seja: para haver chuvas regulares nessa região, as águas do Atlântico devem estar mais frias do que a média histórica ao norte e mais quentes mais ao sul.
De acordo com Humberto Barbosa, esse padrão de dipolo negativo do Atlântico tem sido observado neste início de 2023. “Atualmente, as condições das temperaturas do Atlântico estão favoráveis para a ocorrência de boas chuvas no norte do Nordeste. O Atlântico tropical norte está mais frio que o Atlântico tropical sul, ou seja, há a presença de um dipolo negativo. Além disso, o fenômeno La Niña, no Pacífico equatorial, dá uma indicação de boas chuvas”, explica o meteorologista.
A tendência para águas mais quentes que o normal no Atlântico Sul é registrada desde outubro do ano passado. A maioria dos modelos mostra a predominância dessa condição, para o período de fevereiro a abril deste ano, como pode ser observado no mapa acima.
O mapa, referente a este mês de janeiro, destaca a presença do La Niña no Pacífico e a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do Atlântico mais quente que o normal. Essa condição favorece fenômenos como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), sistemas como Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN’s), entre outros que mais trazem chuvas para o Nordeste. Explicamos as características desses fenômenos neste post.
Vale lembrar que o oceano guarda uma memória dessas temperaturas e que a atmosfera leva um tempo para responder às novas condições de aquecimento ou resfriamento. Mas como as temperaturas mais quentes do Atlântico Sul remontam a outubro de 2022, a atmosfera já começa a responder à essa nova tendência.
Os mapas abaixo mostram a previsão de anomalias da temperatura dos oceanos, baseadas no modelo europeu ECMWF, para os próximos meses de fevereiro, março e abril.
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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