Radiografia atualizada da seca no Brasil, vista a partir de mapas



Ouça este conteúdo
Parar este conteúdo

A estiagem continua afetando a agricultura de grande parte do Brasil. Nesta terça-feira, dia 20 de abril, a agência Bloomberg divulgou projeções de que a estiagem no Centro-Sul do Brasil deverá trazer uma baixa de cerca de 20%, na produção da cana-de-açúcar, na safra 2021-2022.

De fato, imagens de satélite atualizadas mostram que a estiagem continua intensa nas regiões brasileiras, principalmente no Nordeste e no Centro-Sul. Produtores rurais dessas áreas enfrentam dificuldades com a extensão da estiagem e o risco de perdas na produção agrícola.

Neste post, vamos detalhar a atual condição da estiagem nas regiões brasileiras, com base na análise de três produtos agrometeorológicos: mapa da umidade do solo, cobertura vegetal e de chuva. Os mapas analisados foram processados pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) e elaborados com uso do software QGIS.

Mapa mostra melhoria no índice da cobertura vegetal das regiões brasileiras

Nas últimas semanas, houve melhoria significativa na cobertura vegetal nas regiões brasileiras. De acordo com a imagem de satélite acima, em quase todo o Brasil, a vegetação está verde (áreas em verde, no mapa), ou apenas com efeitos de estiagem moderada (áreas em amarelo).

Na região Nordeste, é onde ainda predomina a maior extensão de vegetação seca, com destaque para o nordeste da Bahia, Semiárido de Alagoas e de Sergipe.

Já na porção norte do Nordeste, especialmente nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, que se encontravam bastante secos, foi observada melhoria no aíndice da cobertura vegetal. Nesses locais, atualmente, há uma maior extensão de áreas com vegetação verde, atualmente, ou apenas com efeitos moderados de seca.

O mapa acima é um produto agrometeorológico, elaborado com dados do satélite Meteosat-11. A ferramenta foi elaborada a partir do cálculo da equação do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), com uso da calculadora raster, do QGIS.

O NDVI é um indicador numérico adimensional, cujo cálculo estatístico produz valores que variam de -1 a 1, representando o atual “Raio-X” da vegetação, a partir de imagens de satélites. Esses valores são calculados a partir da diferença entre as reflectâncias do infravermelho próximo e do vermelho, do espectro eletromagnético, dos sensores de satélites.

Cada resultado do NDVI representa a situação da densidade da cobertura vegetal representada, ou mesmo da ausência de vigor vegetativo, conforme os parâmetros a seguir:

NDVI > 0,6: indica vegetação vigorosa, com a maior densidade possível de folhas verdes (biomassa ou atividade fotossintética ativa). Por exemplo, a floresta amazônica;

NDVI 0,2 > 0,6: representa áreas com vegetação esparsa ou moderada. Por exemplo, o Cerrado e a Caatinga;

NDVI = 0: resultado do NDVI em torno de zero significa solo exposto;

NDVI negativo: representam água, áreas construídas, rochas, nuvens e neve.

Nordeste e Centro-Oeste são as áreas com solos mais secos atualmente

De acordo com o mapa da umidade do solo, o Nordeste e o Centro-Oeste são as regiões com maiores extensões de áreas secas atualmente.

Grandes áreas do Sudeste e Sul também enfrentam estiagem nos solos, principalmente São Paulo, norte de Minas Gerais e o Paraná (áreas em vermelho escuro, do mapa acima).

No Nordeste, a Bahia, o Piauí e o sul do Maranhão são as áreas mais afetadas pela seca nos solos, embora quase toda a região esteja com umidade baixa.

A fronteira agrícola do Matopiba, área com predominância de cerrado e vocação para a produção de grãos, também está impactada pela seca, inclusive os solos do Tocantins também estão com umidade baixa.

A imagem de satélite da umidade do solo é uma das ferramentas agrometeorológicas mais importantes, para se monitorar as lavouras. O mapa permite visualizar, de forma rápida e simples, a atual quantidade de água contida no solo e analisar se a condição de umidade é suficiente para o desenvolvimento das plantações.

Com isso, a imagem de satélite possibilita uma melhor análise das áreas que enfrentam estresse hídrico (estiagem no solo), sendo crucial ao planejamento adequado dos momentos em que se deve recorrer à irrigação.

Mapa destaca baixos volumes de precipitação no Centro-Sul

De acordo com o mapa atualizado do Laboratório Lapis, na última semana, os volumes de precipitação continuam baixos, em algumas regiões do Brasil. Foi o caso do Centro-Sul, principalmente os estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

No oeste do Nordeste, incluindo todo o estado da Bahia, houve uma melhoria significativa nos volumes de chuva. Todavia, nos estados da porção norte da região, foram registradas apenas chuvas isoladas, com predomínio de estiagem.

O mapa acima fornece informações sobre os volumes de chuva, na última semana, em todas as regiões brasileiras. A ferramenta foi elaborada com uso de dados de satélites, do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).

O programa fornece acesso a séries temporais gratuitas, de dados de satélites, inclusive para as regiões mais remotas do mundo, onde a rede de estações pluviométricas é escassa ou até mesmo inexistente.  

O mapa que todo profissional da agricultura deve utilizar para monitorar a seca

Um dos temas que mais temos discutido aqui é como a seca se tornou um desafio comum a várias regiões brasileiras, e não apenas para quem vive no Semiárido brasileiro. Daí a necessidade de que os profissionais da agricultura utilizem indicadores agrometeorológicos, baseados em dados de satélites, para planejar a acompanhar a produção.

Uma dessas ferramentas, que pode ser elaborado por qualquer profissional da agricultura, é o mapa do Índice Padronizado de Precipitação (SPI). O mapa acima é do SPI, referente às últimas duas semanas. O SPI é um dos mais importantes indicadores, utilizados para o monitoramento de seca.

O mapa acima mostra a atual situação da estiagem no Brasil. A região mais afetada pela seca no Brasil é o Centro-Sul. No mês de abril, o Sul foi a região do País com maior percentual de área com seca grave e seca extrema. Santa Catarina, por exemplo, foi o estado com maior percentual de área com seca extrema. Essas informações são possíveis, graças ao monitoramento do SPI, elaborado com dados de satélites. 

Talvez você esteja curioso sobre como é possível estimar o índice SPI, a partir de dados de satélite. A principal característica do SPI é a possibilidade de utilização de monitoramento tanto de condições secas como úmidas, em diversos períodos. Essa flexibilidade temporal possibilita utilizar o SPI para várias aplicações.

O Laboratório Lapis utiliza os dados de precipitação por satélite, a partir de dados provenientes do satélite CHIRPS, em ponto de grade, acumulados diariamente, para calcular o SPI.

No livro “Um século de secas”, foram analisadas, a partir de séries históricas de SPI, as quatro fases das políticas de adaptação à seca, no período de mais de 100 anos. Para conhecer o Livro, clique aqui

Por que o profissional da agricultura deve usar tecnologia de sensoriamento remoto?

O sensoriamento remoto é uma tecnologia que permite receber, tratar, armazenar e analisar dados de satélites. Os sensores remotos, geralmente instalados em satélites ou em outras plataformas, permitem representar e coletar, remotamente, dados geográficos ou históricos, de determinada região.

Há um grande potencial para aplicação de dados de satélites, na agricultura, de modo que essa tecnologia tem se tornado uma ferramenta definitiva, para a gestão das lavouras, por parte dos profissionais do setor. Os dados geram informações estratégicas, que permitem a tomada de decisões mais inteligentes.

Outro motivo é porque a produção agrícola exige um acompanhamento diário das lavouras, bem como dos possíveis efeitos prejudiciais, que podem interferir no seu desenvolvimento, como estiagem, pragas e locais de baixa produção.

Imagens de satélites podem beneficiar várias etapas do processo de produção agrícola, como a estimativa da produtividade, avaliação da área plantada, aplicação de água e nutrientes, áreas de maior densidade, detecção de pragas, acompanhamento da saúde das lavouras, disponibilidade de água no solo, entre outros.

E o mais importante é que o profissional da agricultura pode acompanhar tudo isso remotamente, obtendo informações de forma simples e rápida, visualizando os padrões de dados em mapas, literalmente na palma da sua mão. Com essas ferramentas, ele pode orientar, diariamente, ações para melhorar a capacidade produtiva de cada talhão ou ecossistema.

Neste post, citamos apenas 3 dessas ferramentas agrometeorológicas (índice de vegetação, mapa da umidade do solo e de chuva), havendo várias outras fontes de dados que o profissional da agricultura pode utilizar, para orientar seus diagnósticos agrícolas.

Mais informações

O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Sistema Eumetcast”, que trata da recepção, processamento e aplicações de imagens de satélites, com foco na agricultura de cana-de-açúcar.

Também foi abordado no Livro “Um século de secas”, que trata da aplicação de dados de satélites, para análise e monitoramento de mais de 100 anos de secas, no Semiárido brasileiro.

*Post atualizado em: 24.04.2021, às 11h56.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

Gostou do texto? Compartilhe com seus amigos:



Artigos Relacionados

Agricultura

10 motivos para levar a sério alimentos sustentáveis

Pesquisa

5 razões para utilizar imagens de satélites na gestão agrícola

Agricultura

Chuvas deste ano dão origem à seca verde no Semiárido brasileiro

Inscreva-se

Deixe aqui seu e-mail e receba nossas atualizações.


×

Este site utiliza cookies. Ao fechar este aviso, você concorda. Saiba mais.