Neste post, vamos utilizar mapas e indicadores para analisar a atual seca, nas regiões brasileiras. As imagens de satélites foram geradas pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), com uso do QGIS, um software de geoprocessamento gratuito e o mais utilizado no mundo.
Os indicadores são as ferramentas mais atualizadas para o monitoramento de fenômenos ambientais, como a seca. A vantagem dessas ferramentas é permitir o mapeamento do fenômeno, de forma padronizada, em escala temporal e regional, permitindo, com isso, a comparação das condições ambientais de diferentes áreas.
Esses indicadores vêm sendo usados como parâmetros, para auxiliar na tomada de decisão, em diversos setores. Os resultados do cálculo dos índices são visualizados em forma de mapas ou imagens de satélites, que permitem entender a real dimensão do fenômeno ambiental.
Confira, a seguir, a análise de cada mapa:
O mapa atualizado da umidade do solo mostra a dimensão da atual seca, que persiste em quase todo o Brasil. E até quando deve durar essa condição climática?
Esse mapa da umidade do solo foi produzido pelo Laboratório Lapis, com uso de dados do satélite SMOS. O cálculo do percentual de umidade do solo foi feito no Sistema de Informação Geográfica QGIS.
Se a previsão climática para os próximos meses se confirmar, o La Niña de volta pode novamente trazer dificuldades para o produtor do Sul do Brasil, que já enfrentou uma seca severa, na safra de verão de 2020/2021, impactando diretamente a produção de grãos no estado.
Uma das fases mais intensas do último La Niña foi entre outubro e dezembro de 2020. O fenômeno causou seca na entressafra, em alguns países produtores, e condições adversas para a colheita, em outros.
Em alguns municípios do Centro-Sul, onde houve seca forte, causada pelo La Niña, que acabou em abril deste ano, a umidade do solo ainda é muito crítica, com déficit hídrico e demorando a se restabelecer.
Algumas áreas do Centro-Sul devem continuar secas, até o fim deste ano. De acordo com Humberto Barbosa, fundador do Lapis, as chuvas serão irregulares e abaixo da média, na maior parte da região.
Outro importante indicador de seca é o mapa da cobertura vegetal, baseado no Índice de Vegetação por Diferença Normalizado (NDVI). Neste mapa gerado no QGIS, dados do satélite Meteosat-11 foram processados e normalizados, de modo a permitir o monitoramento dos impactos da seca sobre a vegetação.
No período de 09 a 15 de agosto, a seca continua intensa, no Semiárido brasileiro, com exceção do norte do Maranhão, Alagoas, Sergipe, leste da Bahia e de Pernambuco. Apenas na região Norte, o NDVI mostra vegetação vigorosa. Por outro lado, no Sul, há seca leve, enquanto no Sudeste e Centro-Oeste, há seca moderada.
O mapa da chuva no Brasil destaca os baixos volumes de chuva, em quase todo o País, no período de 09 a 15 de agosto. A exceção é o noroeste, da região Norte.
Nas demais áreas, houve predomínio de seca ou volumes de chuva pouco significativos.
A forma mais simples para se mapear a intensidade da atual seca, no Brasil, é com uso do mapa da severidade do fenômeno. O mapa acima faz uma radiografia da seca, do ponto de vista climatológico, para o período de 11 a 20 de agosto de 2021, classificando sua severidade, em comparação com a média histórica, desde 1981.
Vamos interpretar, no mapa, o que cada cor indica, sobre a severidade da seca:
1) Áreas em branco: os volumes de chuva ficaram em torno da média histórica;
2) Áreas em amarelo: seca fraca em áreas pontuais, em todas as regiões brasileiras;
3) Áreas em bege: seca moderada, no Sul do Brasil, grande parte do Mato Grosso do Sul, no oeste da Amazônia, no Acre e em algumas áreas do Nordeste;
4) Áreas em vermelho: situação de seca extrema, no oeste da Amazônia, e em áreas pontuais, no nordeste da Bahia, Pernambuco, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
5) Áreas em lilás e azul: áreas úmidas ou excepcionalmente úmidas, com destaque para o norte da Amazônia e do Maranhão.
O mapa da severidade da seca foi elaborado pelo Laboratório Lapis, com uso de dados CHIRPS de precipitação. O cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI) foi feito no QGIS.
O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro "Um século de secas", no qual indicadores, incluindo séries temporais de dados de precipitação, foram utilizados para identificar as grandes secas da história, no Semiárido brasileiro. Clique aqui para conhecer o Livro.
O mapa atualizado da estiagem, nas regiões brasileiras, mostra o número de dias sem chuva, no período de 09 a 15 de agosto. A imagem acima foi obtida com dados do satélite Meteosat-11.
O destaque é para grande parte do Brasil central, com predomínio de estiagem, durante os últimos 7 dias. Sobre a maior parte do Brasil, a massa de ar seco (característica desta época do ano), tem mantido a condição de tempo estável e sem condição para formação de chuvas.
Além de ser o período mais seco, aqui no Brasil, é muito comum que, neste período, a circulação atmosférica fique caracterizada pela presença de bloqueios atmosféricos.
A tendência, nos próximos dias, é que a massa de ar seco manterá o tempo estável, na região central do Brasil, com baixa umidade do ar e calor. Além de ser o período mais seco, aqui no Brasil, é muito comum que, nesta época do ano, a circulação atmosférica fique caracterizada pela presença de bloqueios atmosféricos.
Os bloqueios atmosféricos são áreas de alta pressão, que ficam na mesma região, por vários dias. Elas impedem o deslocamento de frentes frias, evitando que a instabilidade, associada a essas frentes, provoque chuva em outros lugares.
Quando o bloqueio persiste por muitos dias, as temperaturas elevadas e a baixa umidade relativa, persistem por vários dias também, caracterizando o fenômeno chamado veranico (ou seja, um pequeno verão, fora de época).
Na próxima sexta-feira, dia 27 de agosto, chegará uma frente fria, que mudará novamente as condições de tempo, no Centro-Sul do Brasil.
No Livro “Um século de secas”, foram calculados índices ambientais, que geraram imagens de satélites da cobertura vegetal, da umidade dos solos, da precipitação, da severidade da seca, entre outros.
Visualizado em forma de mapas, esses indicadores fornecem uma inteligência de dados, para avaliar situações críticas, como os impactos sociais da maior século do século (2011-2017), no Semiárido brasileiro.
Todos esses indicadores foram gerados no QGIS, um software de geoprocessamento gratuito e o mais utilizado no mundo.
Na obra “Um século de secas”, foi desenvolvida uma metodologia para analisar as características ambientais e socioeconômicas como interdependentes, do ponto de vista das suas vulnerabilidades.
A pesquisa, que resultou no Livro “Um século de secas”, avaliou um conjunto de vulnerabilidades ambientais (seca, semiaridez, erosão e desmatamento) e de vulnerabilidades socioeconômicas (pobreza, baixo IDHM, fome e insegurança hídrica).
A convergência desses fatores críticos acarretou em falta de capacidade institucional, em âmbito municipal, para governança de problemas complexos, como seca e mudança climática, nas áreas mais críticas da região.
Para conhecer a metodologia, acesse a página do Livro.
*Post atualizado em: 27.08.2021, às 08h41.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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