Neste post, vamos analisar a atual situação climática do Semiárido brasileiro, a partir de mapas que já utilizam a nova delimitação da região.
Para começar, você já pode clicar na imagem ao lado e fazer o download gratuito do novo shapefile do Semiárido brasileiro, elaborado no QGIS. Assim poderá processar seus próprios mapas da região, já atualizado com a nova delimitação.
Vale lembrar que o mapa do Semiárido brasileiro passou por mais uma mudança recentemente, por meio da Resolução Sudene no 150, de 13 dezembro de 2021, que alterou a lista dos municípios que integram a região.
Com essa atualização, foram incluídos 215 novos municípios, passando para um total de 1.427 localidades integrantes da região. A resolução anterior era de 2017 e incluía apenas 1.262 municípios no Semiárido brasileiro.
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Vamos começar atualizando a situação da cobertura vegetal, a partir do mapa do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) do novo Semiárido. Em seguida, vamos analisar a imagem de satélite da umidade do solo e da precipitação da região.
Na primeira semana de março, grande parte do novo Semiárido brasileiro estava com vegetação verde. A exceção é algumas áreas em vermelho, no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Semiárido de Alagoas e de Sergipe.
O mapa de NDVI é um dos indicadores, baseados em dados de satélites, amplamente utilizados para monitoramento da seca, pelos impactos diretos da escassez hídrica sobre a vegetação. Para saber mais sobre esse indicador, baseado em dados de satélites, acesse este post.
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A partir da comparação entre imagens de satélite de fevereiro e março, vamos analisar a distribuição da chuva no novo Semiárido. Os mapas foram processados no software QGIS, pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), com uso de dados do produto CHIRPS.
De acordo com os mapas, enquanto na primeira semana de fevereiro, as chuvas estiveram concentradas apenas no oeste e sul do novo Semiárido, esse padrão de precipitação mudou, no início de março.
É que em março a distribuição das chuvas passou a se concentrar na porção norte do Nordeste, apresentando maior regularidade, em toda a região. A exceção foi o sul do Bahia e o norte de Minas Gerais, que passaram por um maior período maior de estiagem, neste mês de março.
Esse mapa da precipitação, baseado em dados de satélites, é mais um produto agrometeorológico semanal, do Laboratório Lapis, considerado um indicador muito importante para orientar a produção agrícola.
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O mês de fevereiro muito seco, na maior parte do Semiárido brasileiro, culminou em um início de março com grande estresse hídrico e baixa umidade nos solos.
É o que mostra a análise da situação da umidade do solo no novo Semiárido, a partir da imagem de satélite, processada no software QGIS, com dados do satélite Soil Moisture and Ocean Salinity (SMOS).
De acordo com o mapa, na primeira semana de março, grande parte do Semiárido estava com percentual de umidade do solo extremamente baixo, ou seja, os solos da região estavam secos, dificultando o desenvolvimento das plantações agrícolas.
O mapa SIG da umidade do solo é um dos indicadores mais importantes para orientar a produção agrícola. Ele é o indicador que representa, da forma mais imediata, qual o teor de água contida na superfície do solo, a uma profundidade de até 5 cm. Essa informação valiosa é estimada a partir de sensores de satélites.
O mapa da umidade do solo é a principal uma ferramenta para monitoramento da seca.
O mapa da umidade do solo, referente ao final de março, destaca os estados mais afetados pela seca, no novo Semiárido.
De acordo com a imagem de satélite, o norte de Minas Gerais, o oeste da Bahia e o sul do Piauí são as áreas da região que enfrentam estresse hídrico em seus solos. Essa área seca está situada na região agrícola de Matopiba, dedicada à produção de grãos.
Já na área leste do Semiárido, que inclui desde o Rio Grande do Norte até o leste da Bahia, os solos estão bastante úmidos, em razão das chuvas significativas que ocorrem em março.
O mapa da umidade do solo é o indicador, baseado em dados de satélites, mais importante para se estimar a situação da seca em determinado local. Ele expressa, da forma mais imediata, o volume de água contido na superfície do solo, indicando situações de estresse hídrico.
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Além do acréscimo de novos municípios, o processo de revisão também excluiu um total de 50 municípios da região, com base nos critérios técnico-científicos adotados. Essas localidades irão passar por uma transição, até não serem mais reconhecidas como integrantes da região semiárida.
A delimitação do Semiárido possui uma dinâmica histórica, sendo periodicamente atualizada pelo Conselho da Sudene. Inclusive, no Livro “Um século de secas” faz uma análise completa das mudanças no mapa da região, em cada período histórico.
O primeiro mapa da atual região semiárida do Brasil foi definido em 1936, quando foi delimitado o antigo “Polígono das Secas”, dando início às primeiras políticas mais sistemáticas de adaptação à seca.
O termo "Polígono das Secas" deixou de ser usado desde 1989, quando foi instituída a região do Semiárido brasileiro, pela Lei Federal n° 7.827, de 27 de setembro de 1989.
A inclusão dos municípios integrantes do Semiárido brasileiro segue critérios específicos, do ponto de vista técnico e científico. Os critérios utilizados para essa nova delimitação foram estabelecidos em 2005 e permanecem até hoje. São eles:
1) Média de precipitação anual abaixo de 800mm;
2) Índice de aridez alto, calculado pelo balanço hídrico que relaciona precipitações e evapotranspiração potencial;
3) Risco de seca maior que 60%;
4) Continuidade territorial.
Dos 215 novos municípios incluídos na nova delimitação do Semiárido brasileiro, seis deles são do Espírito Santo. No passado, municípios deste estado já fizeram parte do antigo “Polígono das Secas”. Todavia, nas últimas atualizações de 2017, nenhum deles fazia parte da delimitação do Semiárido.
Em 1959, foi criada a Sudene, cuja área de atuação abrangia, inicialmente, todos os estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais, inserido no então chamado “Polígono das Secas”. Mas em 1998, esse traçado foi ampliado, para inclusão de municípios do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e da região norte do Espírito Santo.
Dos 50 municípios excluídos recentemente do mapa, 42 deles são do Nordeste e oito são de Minas Gerais. Os municípios excluídos do Nordeste fazem parte da região do Litoral. Vale lembrar que muitos desses municípios também enfrentam secas e possuem características de semiaridez, sendo agora prejudicados por não poderem acessar recursos para adaptação à seca.
De acordo com o Livro “Um século de secas”, a delimitação do Semiárido possui uma dinâmica histórica, sendo periodicamente atualizada.
O primeiro mapa foi definido em 1936, quando foi delimitado o antigo “Polígono das Secas”, dando início as primeiras políticas mais sistemáticas de adaptação à seca. No Livro, foram analisadas as mudanças no mapa da região, em cada período histórico.
- Livro “Um século de secas” - Uma obra completa sobre o Semiárido brasileiro, que faz uma profunda análise climática e histórica das principais secas ocorridas na região, durante mais de um século, bem como das políticas de adaptação adotadas.
Para conhecer a obra, toda fundamentada em séries históricas temporais de dados de satélites e indicadores ambientais, clique aqui.
- Método de geoprocessamento “Mapa da Mina” - desenvolvido pelo Laboratório Lapis, ensina a elaborar mapas, gerar indicadores climáticos, ambientais e agrometeorológicos, com frequência diária, no QGIS. Para conhecer como funciona o método, assista a esta apresentação.
*Atualizado em: 26.03.2022, às 10h24.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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