Em janeiro de 2020, publicamos neste post a primeira radiografia da seca, para os estados do Nordeste. Na ocasião, a maioria dos municípios da região ainda enfrentava um cenário de intensa seca.
Desde então, mudanças significativas ocorreram na paisagem do Nordeste, após as chuvas que caíram sobre a região. Agora, a maior parte das áreas está com vegetação verde, embora a seca ainda predomine em um número significativo de municípios, como será mostrado nesta radiografia.
A atualização mensal da situação da seca, para cada estado nordestino, é feita a partir de dados e imagens de satélites, obtidos junto ao Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
Antes de analisarmos a atual situação da seca, a partir de mapas, confira a tabela abaixo com o número de municípios atualmente reconhecidos em Situação de Emergência, por conta de seca e estiagem.
É possível, todavia, que alguns municípios que hoje enfrentam seca ou estiagem, conforme apresentados nesta radiografia, não tenham sido reconhecidos em Situação de Emergência. Neste caso, não obtendo o status de emergência, não são contemplados com recursos públicos para contingência aos efeitos dos fenômenos climáticos.
Em alguns estados, como é o caso de Alagoas, o decreto de reconhecimento estadual apenas aguarda a ratificação da Defesa Civil nacional, para que sejam liberados recursos públicos para apoio às ações de mitigação dos impactos da seca.
Confira, a seguir, a análise completa da radiografia da seca no Nordeste, vista a partir de mapas da cobertura vegetal da região, referentes ao período de 03 a 09 de fevereiro de 2020.
As áreas em vermelho indicam vegetação sob intensa seca, enquanto as localidades em amarelo nos mapas, mostram cobertura vegetal moderadamente seca. Já nas áreas em verde, a vegetação se recuperou e já passou por um processo de reverdecimento.
Desde 2019, Alagoas tem sido um dos estados do Nordeste onde a seca predominou por mais tempo. A formação de muitos Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN’s) influenciou nas condições climáticas do estado. Associado à temperatura da superfície do Atlântico, o sistema continua inibindo a formação de chuvas nessa região, como ocorreu no último mês de janeiro.
Atualmente, a seca não afeta apenas a vegetação do Semiárido alagoano, nos municípios do Sertão e Agreste, mas também atinge grande parte do Leste Alagoano, inclusive municípios litorâneos.
O nordeste da Bahia tem sido a área mais afetada pela seca naquele estado. Desde 2019, essa área também tem sido influenciada pelos mesmos fenômenos que provocam seca no Semiárido de Alagoas e de Sergipe, como é o caso principalmente de VCAN’s.
Atualmente, todas as demais microrregiões da Bahia estão com vegetação verde ou apenas moderadamente seca, como pode ser observado na imagem de satélite acima.
O Ceará é um dos estados do Semiárido brasileiro que ficou mais verde, neste início de ano. Apenas em sua área central, em direção ao Leste, ainda há registro de municípios com seca intensa ou moderada.
O reverdecimento no Ceará ocorreu principalmente em função da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), corredor de umidade que atua mais decisivamente na formação de chuvas no setor norte do Nordeste. Além disso, o estado também tem sido influenciado por VCAN’s, cujas bordas têm provocado chuvas nessas áreas.
Diferentemente dos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, onde tem predominado o centro dos VCAN’s, as bordas desses sistemas beneficiam o Ceará com mais chuvas, assim como ocorreu também no início de 2019.
No Maranhão, quase todos os municípios estão com vegetação verde. O estado é beneficiado pela influência da ZCIT. Por fazer parte da região do Meio Norte, o regime de chuvas no estado é bastante favorável nesse período.
A maior parte dos municípios da Paraíba continua sob intensa seca, sobretudo da Zona da Mata, Agreste e Borborema. Apenas a região do Sertão tem sido beneficiada com chuvas, neste início de ano, estando com praticamente toda a vegetação verde.
Desde o início do ano, a formação de áreas de instabilidade tem provocado chuvas sobre o Sertão da Paraíba, também em função da atuação da ZCIT e de VCAN’s.
Em Pernambuco, também ocorre uma situação parecida com a da Paraíba, pois apenas no Sertão do estado, a vegetação tem se mantido verde. Já nas áreas de São Francisco, Agreste e Zona da Mata predomina condição de seca intensa ou moderada.
A atuação de sistemas meteorológicos, como ZCIT e VCAN’s, também tem favorecido o Sertão de Pernambuco, onde há registro de maior volume de chuvas no estado, desde o início do ano.
No Piauí, assim como ocorre no Maranhão, o clima também tem sido favorável ao reverdecimento da vegetação, sobretudo pela atuação de sistemas indutores de chuvas, como ZCIT e VCAN’s.
Até janeiro de 2020, o Rio Grande do Norte estava entre os estados do Semiárido brasileiro mais afetados por seca intensa. Recentemente, no mês de fevereiro, houve um significativo aumento das áreas verdes, sobretudo no Agreste e Leste potiguares.
O Oeste Potiguar e a área central do estado continuam bastante afetadas pela seca.
Em Sergipe, apenas os municípios da região Leste do estado estão com vegetação verde. No Agreste e no Sertão, a cobertura vegetal dos municípios está sob forte seca.
Assim como ocorre com Alagoas e no nordeste da Bahia, a centralização de VCAN’s sobre Sergipe tem mantido o estado em condição de seca, desde 2019, sobretudo na área semiárida.
No Livro “Um século de secas”, publicado em Portugal, pela Editora Chiado, os autores explicam como historicamente o Nordeste brasileiro esteve vulnerável à seca, dependendo de políticas específicas para a contingência dos seus impactos. Durante mais de um século (1901-2019), algumas décadas foram mais sensíveis que outras, no que diz respeito à ocorrência de secas.
O período 2010-2019 foi extremamente seco para o Semiárido brasileiro, sobretudo por fatores climáticos associados ao El Niño. Foi nesse período que ocorreu o que os autores chamam de “A seca do século”, considerada a pior já registrada na história da região, tendo deixado muitas lições para as práticas de convivência sustentável com a região.
O Livro “Um século de secas” pode ser adquirido, no Brasil, pelo site do Instituto Letras Ambientais, clicando aqui.
De acordo com Humberto Barbosa, meteorologista do Lapis e um dos autores do Livro, atualmente, há uma tendência de temperaturas mais altas no Nordeste. Porém, este ano, não há previsão de fenômenos como El Niño, que impeçam a formação de chuvas na região.
Segundo Barbosa, a previsão é de chuvas acima da média no Nordeste. Com isso, espera-se que essa tendência de anos consecutivos de secas se reverta neste início de década. Mas lembramos que a variabilidade climática é natural da região, ou seja, a ocorrência de precipitações varia, espacial e temporalmente, sendo possível chover em algumas áreas e em outras não.
Você mora em um município do Nordeste? Conte para nós como estão as chuvas em sua região.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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