A primeira área a registrar seca no Nordeste, este ano, foi o oeste da região. Ali, desde o final de abril, imagens de satélite já estimavam umidade dos solos inferior a 10%, um dos principais indicadores de seca.
As informações foram obtidas junto ao Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que realiza, semanalmente, monitoramento da seca na região, a partir de satélite.
O maior número de focos de queimadas no Nordeste brasileiro tem se concentrado nessas áreas mais secas, mais precisamente em Matopiba. Considerada a mais nova fronteira agrícola do Brasil, a região compreende o oeste da Bahia, sul do Piauí, grande parte do Maranhão e todo o estado do Tocantins.
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Matopiba reúne 337 municípios e representa um total de cerca de 73 milhões de hectares. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 2018, a soja produzida nessas áreas de cerrado representou 11% da produção nacional. Existem, na área, cerca de 324 mil estabelecimentos agrícolas, 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas e 781 assentamentos de reforma agrária.
A imagem de satélite acima, mostra um número significativo de focos de queimadas, identificado nos dois primeiros dias do mês de julho, em Matopiba. As informações foram detectadas pelo sistema de monitoramento de queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Do total de queimadas detectadas no Brasil, em 2020, até o dia 06 de julho, os estados de Matopiba tinham a seguinte participação na queima das florestas: Tocantins (9,2%), Maranhão (6%), Bahia (3,4%) e Piauí (1,6%).
O levantamento mostra que, dos estados que integram a região, dois deles estão entre os que mais queimaram a vegetação este ano. É o caso de Tocantins, que aparece em terceiro lugar, com maior registro de incêndios florestais, e Maranhão, que ocupa o quinto lugar, no ranking dos estados brasileiros.
De acordo com dados do Inpe, de janeiro de 2020 até agora, as áreas de cerrado foram as mais afetadas por incêndios florestais, com cerca de 35% do total de registros.
O número de focos de queimadas no Cerrado superou as taxas de todos os outros biomas, como da Amazônia, que concentrou 32% no período, e da Caatinga, com pouco mais de 2%. Grande parte das queimadas do Cerrado estão concentradas em Matopiba.
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A animação acima retrata o processo de expansão da seca, pelas microrregiões do Semiárido brasileiro, durante o mês de junho até o início de julho de 2020. A partir de monitoramento por satélite, realizado pelo Lapis, mensuramos a condição da umidade superficial do solo, na escala da grande região do Semiárido brasileiro.
A umidade dos solos é um dos principais indicadores a registrar, com maior rapidez, a condição de seca, em determinada região. As imagens de satélites permitem acompanhar a chegada e a extensão da seca, pelos vários estados da região.
O mapa atualizado, no vídeo acima, mostra que, na primeira semana de julho, a estiagem se generalizou, pelos solos do Semiárido brasileiro. Apenas no norte do Maranhão e em uma estreita faixa leste, do Nordeste, a umidade continua alta.
Desde a última semana de junho, a estiagem se expandiu, para a porção norte do Nordeste, que vinha registrando volumes significativos de chuvas, até então. Houve aumento da seca na Paraíba e Rio Grande do Norte, além do Ceará e Piauí. Nestes locais, atualmente, a umidade dos solos está abaixo de 15%, considerado baixo, conforme mostra a área rosada do mapa.
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O leste do Nordeste brasileiro continua beneficiado por chuvas, com taxa de umidade dos solos superior a 25%, desde o Recôncavo baiano até grande parte de Pernambuco. Observe as áreas em azul e amarelo, nas imagens de satélite.
A umidade dos solos está favorável aos cultivos agrícolas, na Costa Leste da região, incluindo todo o estado de Sergipe e Alagoas, grande parte de Pernambuco e todo o leste da Bahia. No norte do Maranhão, a umidade dos solos também está acima de 25%.
Como estava a cobertura vegetal do Semiárido brasileiro, nesse mesmo período de 2019? O mapa da cobertura vegetal, elaborado pelo Lapis, a partir de dados de satélites, destaca a diferença no vigor da vegetação atualmente, em comparação a julho de 2019.
Como 2020 foi bem mais chuvoso que no ano passado, a extensão da seca ainda está concentrada, na área central e oeste do Nordeste. Pelas áreas em vermelho, é possível perceber que nesse mesmo período de 2019, a seca já havia atingido uma grande extensão na região.
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Atualizado em: 14.07.2020, às 10h20.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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