O uso de imagens de satélites, para orientar a tomada de decisão na agricultura, é uma novidade recente. Somente na última década, profissionais do agro e produtores rurais perceberam o grande potencial de se elaborar mapas agrícolas, para aumentar a produtividade das lavouras.
O avanço tecnológico e a redução significativa dos custos tornaram viável a aplicação, em larga escala, de imagens de satélites à agricultura. Hoje, as vantagens do uso dessa tecnologia, aplicada ao setor, é um dos temas que mais despertam interesse no universo do agro.
A partir de mapas agrícolas, é possível, em questão de segundos, ter uma visão ampliada das lavouras e talhões, mesmo quando se trata de áreas muito extensas.
Um dos maiores benefícios, relativos ao uso de imagens de satélites na agricultura, é permitir a tomada de decisão estratégica, que leve à redução dos custos da produção e à melhoria dos rendimentos agrícolas. Afinal, isso é tudo o que o produtor rural procura!
Isso ocorre porque produtos agrometeorológicos, elaborados com dados de satélites, possibilitam identificar, com maior precisão e em grande escala, a situação da produtividade das lavouras.
Os mapas permitem detectar as áreas que apresentam menor produtividade, devido a problemas como pragas, doenças ou falhas no sistema de irrigação. Com isso, o produtor rural poderá adotar ações corretivas, ao longo da safra, visando obter melhores resultados.
Por outro lado, nos talhões aonde a produtividade for mais densa, apresentando cobertura vegetal mais vigorosa, é possível armazenar dados de inteligência, sobre os fatores que propiciaram melhores resultados. Dessa forma, é possível repetir os métodos mais eficientes, nas próximas safras.
O uso de imagens de satélites, para auxiliar em diagnósticos agrícolas, se tornou uma grande oportunidade. Por exemplo, a informação sobre disponibilidade de água no solo permite acompanhar a ocorrência de estresse hídrico (seca) e seus efeitos nas lavouras.
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Em sistemas irrigados, o manejo de água é utilizado para evitar perdas na produção, no caso de uma eventual redução das chuvas.
Até 2002, plantadores de cana-de-açúcar enfrentavam dificuldades em estimar, com certa precisão, a safra que seria colhida. Nesse período, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram o fato inédito de usar imagens de satélites, para calcular a variabilidade da biomassa, na cultura da cana.
Os testes preliminares foram realizados na usina São João Açúcar e Álcool, em Araras (SP), segundo relatou a revista Pesquisa Fapesq, em fevereiro daquele ano.
As imagens digitais, captadas por sensores, instalados em aviões e satélites, colocaram à disposição dos agricultores um sistema que permite prever, com antecedência de quatro a cinco meses, a tonelagem da produção de cana, em determinada área.
Com a ajuda das imagens de satélites, os erros de avaliação de biomassa caíram de 15% para 2%, em algumas áreas. Para o setor sucroalcooleiro, isso representava um grande avanço. A produção de cana dessa usina foi de quase 3 milhões de toneladas, na safra 2000-2001.
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Um erro de 15%, nesse total, correspondia a 450 mil toneladas. Como o produtor geralmente negociava, em março, o açúcar que seria produzido, a partir de dezembro, os erros nas previsões de safra sempre acarretavam prejuízos.
Contudo, no processo de mapeamento da área, os pesquisadores logo perceberam que os mapas gerados tinham aplicação imediata, podendo orientar os supervisores de campo. Até então, a estimativa da produção, nas extensas áreas plantadas, era feita com base na observação, do estado geral das plantações.
A avaliação baseava-se apenas na cana que estava na periferia, o que seria um problema, considerando que a produtividade nas plantações costumava ser bastante heterogênea. Enquanto algumas áreas produziam 95 toneladas por hectare, outras produziam apenas 50 toneladas por hectare.
O acesso a essas tecnologias tornou-se imprescindível, atualmente, para tornar a produção de alimentos mais eficiente, evitando perdas e prejuízos. Apesar disso, no Brasil, ainda há muita dificuldade dos profissionais da agricultura (técnicos, agrônomos, engenheiros agrícolas etc.), em dominar a elaboração de mapas agrícolas.
Contrariando expectativas, o método subjetivo ou meramente empírico, de se realizar estimativas agrícolas, baseado em amostragem, continua sendo utilizado no Brasil.
Alguns profissionais do agro ou produtores rurais ainda insistem nesses métodos convencionais, apesar do custo elevado, da execução demorada, das análises imprecisas e pouco eficientes.
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Nesse sentido, diante da popularização do acesso às geotecnologias e da facilidade na elaboração de mapas agrícolas, muitos profissionais do agro estão perdendo oportunidades de propiciar maior produtividade às fazendas.
Isso acontece porque muitos consultores agrícolas acreditam que é difícil dominar as ferramentas, a exemplo do software QGIS, Sistema de Informação Geográfica (SIG) mais utilizado no mundo, de acesso livre e gratuito.
Outra dificuldade relatada pelos profissionais do agro é o acesso aos dados de satélites, na resolução adequada para solucionar suas demandas.
Todavia, existem experiências, como a do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), que atua em treinamento e democratização do acesso a produtos agrometeorológicos.
O Laboratório criou metodologias simplificadas, para aproximar e tornar viável o uso desses produtos, pelos profissionais da agricultura, para monitoramento das safras.
Dentre as imagens de satélites, amplamente utilizadas no agro, estão: índice padronizado da cobertura vegetal (NDVI), umidade do solo, temperatura da superfície, precipitação, evapotranspiração, entre outros.
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Um exemplo das vantagens de utilização das imagens de satélites na agricultura é o NDVI, mapa agrícola que permite analisar a condição da vegetação no campo.
Quando processadas, essas imagens de satélites permitem importantes diagnósticos, de acordo com as cores do mapa: 1) Áreas na cor vermelha: correspondem à baixa densidade da vegetação (menor produtividade das lavouras ou presença de anomalias); e, 2) Áreas na cor verde: indicam vegetação vigorosa ou com maior produtividade.
Essa é uma forma muito prática de o produtor rural ou consultor agrícola detectar rapidamente eventuais problemas nos talhões, adotando soluções para corrigir as falhas. Dessa forma, somente esse produto de satélite já ajuda a reduzir perdas e elevar a produtividade.
Dados de satélite também permitem aos agricultores agirem imediatamente, em outras questões localizadas, como irrigação e fertilização. Dessa forma, servem para maximizar a eficiência, reduzir custos de produção e minimizar o impacto ambiental. Os satélites coletam regularmente dados sobre tipos de cultivos e cobertura do solo.
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Quando processados, os mapas temáticos permitem detectar, a baixo custo, quaisquer anomalias, danos ou degradação nas lavouras.
São informações úteis que evitam comprometer o rendimento dos cultivos, reduzindo custos, aumentando a produtividade, economizando água e outros recursos. Outra grande vantagem do uso de geotecnologias, na agricultura, é oferecer um histórico de todas as mudanças na lavoura, desde o plantio até a colheita.
Os dados são registrados em imagens e documentos dos talhões, ao longo do tempo. Com isso, permitem avaliar os métodos empregados, que resultaram, de fato, em maior eficiência na produção agrícola.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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