Centro-Norte do Brasil tem primavera com alto risco de seca e incêndios



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“O período chuvoso no Centro-Norte do Brasil já deve começar fraco”, afirma o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

O Laboratório acaba de divulgar a previsão climática para a primavera, nas regiões brasileiras, após analisar o atual cenário e a tendência para a atmosfera e os oceanos. No Hemisfério Sul, a primavera começou neste final de setembro e vai até o fim de dezembro. 

De acordo com a previsão climática, o risco de seca e incêndios florestais continua alto na área central do Brasil, que compreende desde o leste da Amazônia, passando por Matopiba até o norte do Sudeste. Além disso, o Centro-Norte do País terá temperaturas mais altas do que a média, nos próximos três meses.

>> Leia também: Nível dos reservatórios pode ficar crítico até dezembro e sem chuvas suficientes para repor

A influência do Atlântico e do La Niña no clima brasileiro

Mapa da intesidade da seca

Há dois fenômenos simultâneos que influenciam nas condições climáticas do Brasil, nas últimas semanas: o dipolo do Atlântico e a neutralidade do Pacífico (sem El Niño e sem La Niña). A seguir, vamos analisar a situação de cada um deles hoje e a tendência para os próximos meses.

>> Leia também: La Niña não vem, e agora? Laboratório divulga nova previsão climática

1) Dipolo do Atlântico

Oceano Atlântico mais quente clima QGIS

O Dipolo do Atlântico é uma gangorra térmica entre as águas do Atlântico Norte e do Atlântico Sul, próximo ao Equador. Desde o mês de junho, o Atlântico Norte está mais quente que o normal, em relação ao Atlântico Sul. Quando isso acontece, é uma situação muito desfavorável para as chuvas no Centro-Norte do Brasil.

É que as temperaturas do Atlântico movimentam a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), o principal fenômeno que traz chuvas para o Norte e Nordeste. A ZCIT é uma banda de nuvens carregadas, que se desloca para a região oceânica onde as águas estão mais quentes.

Desde o mês de junho, o Atlântico Norte tropical ficou com temperaturas de 0,5 a 1 ºC acima do normal. Com o Atlântico Norte mais quente que o Atlântico Sul, a ZCIT se deslocou mais para o Hemisfério Norte.

Essa é uma condição oceânica que provoca seca no Centro-Norte do Brasil, especialmente no leste da Amazônia e em Matopiba. Vale lembrar que secas na Amazônia também impactam no Centro-Sul, pois reduzem o corredor de umidade vindo do Norte para a área central do País.

De acordo com Humberto, neste mês de setembro, a seca continua intensa na área central do Brasil.

“Esse padrão mais seco se deve às águas mais frias que o normal no Atlântico Sul, próximo à costa do Centro-Sul. Todavia, a expectativa é que as chuvas voltem ao normal em outubro e novembro, rompendo a massa de ar seco que afeta a região desde o mês de abril”, explica o meteorologista.

Ele acrescenta que embora o Atlântico Norte ainda esteja mais quente que o Atlântico Sul, há uma tendência de neutralidade na temperatura dessas regiões oceânicas, nos próximos meses. Lembrando que essa tendência é uma média, podendo ter variações de temperatura entre áreas do próprio Atlântico Sul, como você pode ver na imagem acima.

>> Leia também: Por que os modelos climáticos erraram a previsão de chegada do La Niña?

2) Um La Niña fraco está a caminho

El NIño neutro_La Niña_QGIS

Informações atualizadas do Laboratório Lapis mostram que a neutralidade do Pacífico continua. Todavia, águas mais frias que o normal já se expandem por todo o Pacífico tropical. Abaixo da superfície do Pacífico tropical, uma piscina profunda de águas mais frias se forma desde o mês de julho.

Essa piscina de águas relativamente frias é decisiva para a previsão de chegada do La Niña no final da primavera, conforme a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). O último evento de La Niña ocorreu no período de julho de 2020 a fevereiro de 2023.

A atual condição de neutralidade do Pacífico coloca em evidência a influência das temperaturas do Atlântico Sul sobre o clima brasileiro. Em razão de parte do Atlântico Sul está mais aquecida, isso pode beneficiar com chuvas áreas do Centro-Sul, nos próximos meses. Você pode observar, na imagem de abertura deste post, que as águas mais quentes que o normal estão na costa do Sudeste e da região Sul.

Humberto ressalta haver pouca possibilidade de o La Niña chegar com intensidade moderada ou forte. “O La Niña fraco não deve provocar eventos climáticos extremos na primavera”, explica. 

O mapa abaixo destaca as regiões atualmente afetadas por ondas de calor extremo no Brasil. Você pode observar que há um corredor de altas temperaturas desde o oeste da Amazônia até o Centro-Sul. 

onda de calor_La Niña

A influência de um La Niña fraco deve dominar as condições climáticas de dezembro a fevereiro, de acordo com a NOAA. Embora um La Niña moderado ou forte seja menos provável, durante o verão 2024-2025, ainda há uma possibilidade.

Sempre existiram situações de dipolos do Atlântico (quando as águas ficam mais quentes que o normal no Atlântico Norte ou, ao contrário, isso acontece no Atlântico Sul). Todavia, são fenômenos negligenciados porque costumam ser de fraca intensidade e gerar menor impacto no sistema climático global.

Diferentemente dos dipolos do Atlântico, os fenômenos El Niño e La Niña costumam ser mais intensos e longos, afetando diferentes regiões do mundo, como a Amazônia, Nordeste e Sul do Brasil.

No Livro “Um século de secas”, mostramos como, em alguns momentos da série histórica de 100 anos, o oceano Atlântico foi decisivo para a condição climática de algumas regiões brasileiros. 

>> Leia também: O que a seca na Amazônia tem a ver com chuvas extremas no deserto do Saara?

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COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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