As principais agências globais erraram a previsão do La Niña, inicialmente esperado para chegar entre agosto e outubro. Há uma semana, a Agência Nacional Atmosférica e Oceânica (NOAA), responsável pelo monitoramento do El Niño Oscilação Sul (ENOS), também previu a transição de neutralidade para La Niña nesse período.
O ENOS, em sua fase quente (El Niño) e fria (La Niña), é monitorado por centros meteorológicos internacionais. Para isso, utilizam-se modelos climáticos e observações de satélite. O La Niña pode durar de 9 meses a três anos.
O gráfico acima mostra a previsão para o ENOS em setembro. O La Niña chega quando a média da temperatura da superfície do mar, na região do El Niño, é menor que - 0,5 °C, por 3 meses consecutivos. Cada linha colorida é a previsão de um modelo diferente. Sobreposta a ela, a linha branca mostra os dados reais ou o que de fato foi observado.
No Brasil, o La Niña foi esperado para aumentar as chuvas de agosto a setembro, principalmente na Amazônia. Apesar das previsões, a condição de neutralidade continua firme no Pacífico equatorial, neste mês de setembro.
>> Leia também: La Niña não vem, e agora? Laboratório divulga nova previsão climática
Há 03 fatores que dificulturam a previsão de chegada do La Niña este ano São eles:
1. La Niña fraco: um La Niña de intensidade fraca é mais difícil de ser previsto por modelos climáticos do que eventos fortes;
2. Oscilação Madden-Julian: outros fatores atmosféricos, como a variabilidade intersazonal e a Oscilação Madden-Julian (MJO), aumentaram a complexidade da previsão do La Niña. Inclusive, atualmente, um pulso úmido da MJO passa pelo Brasil, com possibilidade de contribuir para o rompimento do bloqueio atmosférico. Desde o mês de abril, grande parte do Brasil enfrenta situação de seca e onda de calor, inclusive na Amazônia.
3. Oceanos mais quentes: as atuais condições oceânicas globais nunca haviam sido observadas antes. Há uma sequência de anos com temperatura média dos oceanos acima do normal. Por mais de um ano (de abril de 2023 a maio de 2024), as temperaturas médias dos oceanos ficaram acima do normal. Com isso, previsões baseadas em eventos do passado, sobre como o ENOS poderia se desenvolver este ano, não são tão confiáveis.
“A previsão do La Niña ainda não está resolvida, como não estava no início do ano. Ainda se levará tempo para analisar os dados com mais precisão. E a consequência não é apenas para a previsão sazonal. Projeções de longo prazo das mudanças climáticas dependem de uma melhor modelagem do ENOS”, explica Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
O La Niña pode desacelerar o ritmo do aquecimento global, mas os pesquisadores estão divididos sobre o que vai acontecer. “Em função das atuais condições oceânicas e outros indicadores, ainda há incertezas sobre a previsão climática para o Brasil”, completa Humberto.
>> Leia também: “Não há justificativa climática para pico de queimadas em São Paulo”, afirma cientista
Atualmente, predomina a neutralidade climática no Pacífico equatorial (sem La Niña e sem El Niño), com temperaturas do Oceano próximas da média. O gráfico acima mostra a atual situação da temperatura do Pacífico, na principal área de avaliação do El Niño ou La Niña.
Observam-se águas mais frias do que a média na profundidade do Pacífico e ventos alísios ligeiramente mais intensos. Com esses sinais, os modelos climáticos usados pela NOAA indicam que o fenômeno pode surgir no final do ano, com intensidade fraca, podendo durar até o próximo verão.
Mas o meteorologista Humberto Barbosa, do Laboratório Lapis, comenta que o evento de La Niña pode ser muito fraco, de modo que não traga mudanças importantes para a atmosfera, acima do Pacífico equatorial. Consequentemente, esse Oceano não terá influência significativa sobre os padrões climáticos globais.
Inclusive, o meteorologista afirma que o La Niña pode não surgir este ano, considerando que os modelos não têm captado a previsão com confiança suficiente, no atual cenário de mudança climática.
“É possível que o oceano Pacífico continue sem La Niña e sem El Niño. Ou seja, a atual condição de neutralidade pode permanecer por mais tempo. Com isso, outros oceanos, a exemplo do Atlântico, serão decisivos para definir a previsão climática”, afirma Humberto.
>> Leia também: Oceanos mais quentes: o que esperar para o clima brasileiro?
Os mapas e imagens de satélites utilizados em nossos posts são gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Para processar esses produtos, você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis.
Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado, clique aqui.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
Copyright © 2017-2024 Letras Ambientais | Todos os direitos reservados | Política de privacidade