Nesta terça-feira, dia 13 de novembro, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) identificou uma nova “peça-chave” do “quebra-cabeça” sobre a origem do vazamento de óleo no Litoral do Nordeste.
A identificação do vazamento de óleo na imagem de mais um satélite, o Aqua- Modis, além do registro já localizado do Sentinel-1A, reforça a hipótese de ter havido um grande vazamento de óleo no Litoral Norte do Nordeste, no dia 24 de julho.
EXCLUSIVO - Novas pistas podem esclarecer definitivamente origem do óleo no Nordeste
A mancha de óleo detectada, a 40 km de São Miguel do Gostoso (RN), possui, pelo menos, 85 km de extensão, por menos de 1 km de largura. Mas a expectativa do Laboratório é de que ela seja ainda maior.
No último sábado, dia 09 de novembro, divulgamos o resultado de mais uma etapa dos estudos do Lapis, para identificar a origem das manchas de óleo que poluem o Litoral do Nordeste. Leia a matéria completa neste post.
De acordo com a análise, dados de inteligência marinha e de monitoramento por satélites permitiram descartar a relação entre a trajetória dos cinco navios gregos, investigados pela Marinha do Brasil e Polícia Federal, e o derramamento de óleo no Litoral do Nordeste.
As informações da trajetória dos navios foram correlacionadas com a imagem registrada pelo satélite Sentinel-1A, no Litoral Norte do Nordeste, no dia 24 de julho de 2019.
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Em nota, no dia 10 de novembro, a Marinha do Brasil classificou a ocorrência como “falso positivo”, mas não explicou os fundamentos técnicos que levaram a essa conclusão.
Confira, neste post, mais uma evidência científica que reforça a hipótese de ter ocorrido um grande vazamento de óleo naquela região, no dia 24 de julho.
Na última terça-feira, dia 12 de novembro, o Lapis identificou que o satélite Aqua-Modis também registrou uma grande mancha de óleo no Litoral Norte do Rio Grande do Norte, na mesma localização geográfica do vazamento detectado pelo Sentinel-1A.
A imagem foi localizada após mais de um mês em que o Lapis analisa imagens retroativas, do satélite Sentinel-1A, tecnologia mais avançada para detecção de desastre ambiental por vazamento de óleo.
De acordo com o pesquisador do Lapis, Humberto Barbosa, a imagem do Aqua-Modis veio reforçar, de forma ainda mais contundente, a ocorrência registrada pelo satélite Sentinel-1A, no dia 24 de julho, nas proximidades do Rio Grande do Norte.
Barbosa explica que o satélite Aqua-Modis é do programa de Observação da Terra (EOS), da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), dos Estados Unidos. Ele tem uma missão totalmente independente, em relação ao Sentinel-1A, que pertence à Agência Espacial Europeia (ESA). Mesmo assim, ambos detectaram a mesma situação acontecendo ali.
“A imagem do Aqua-Modis reforça a continuidade da ação imageada naquele área, no dia 24 de julho. Já tínhamos detectado a mancha de óleo pelo Sentinel-1A e agora tivemos acesso a uma imagem mais ampliada, com o aumento da faixa detectada pelo satélite”, analisa Barbosa.
O pesquisador analisou que, como o satélite Aqua-Modis só capturou imagens daquela área no início da tarde, já verificou-se certa sinuosidade na mancha de óleo. Essa sinuosidade foi provocada pela força dos ventos e das marés.
A grande mancha já apresentava também algumas falhas. Diferentemente, o Sentinel-1A detectou aquela faixa às 8 horas da manhã, com a mancha ainda em sentido retilíneo, embora também apresentasse falhas.
Os dois satélites possuem sensores e resoluções distintas, além de passarem por ali em horários diferentes. Também diferem em relação às propriedades físicas analisadas.
O Aqua-Modis detecta a imagem mais escura da mancha de óleo, através de reflectância na banda dois do infravermelho próximo. Reflectância é o fluxo de radiação eletromagnética refletido para o sensor, a partir da superfície do mar.
Já o Sentinel-1A é um Satélite de Abertura Sintética (SAR), que emite energia em micro-ondas, e o sinal recebido não tem interferência da atmosfera. São metodologias diferentes, de modo que uma imagem complementa a outra.
A hipótese do Lapis é que o vazamento de óleo pode ter partido de um navio-fantasma, que navegou pela Costa do Nordeste, sem identificação. Leia mais sobre o assunto neste post.
Possivelmente, o navio que poluiu o Litoral do Nordeste navegou com o transponder desligado. Trata-se de um aparelho que registra, em detalhes, toda a trajetória do navio pelos oceanos, incluindo horários, paradas e possíveis eventualidades ocorridas ao longo do percurso.
>> Leia também: Por que os 5 navios gregos não poluíram o Litoral do Nordeste?
Com relação aos cinco navios gregos investigados pela Marinha e Polícia Federal, sob suspeita de um deles ter cometido o desastre ambiental no Nordeste, o Lapis descartou qualquer relação das embarcações com o derramamento de óleo.
Chegou-se a essa conclusão, a partir da análise de dados de geointeligência marinha, fornecidos pela companhia inglesa Marine Traffic, que contêm toda a trajetória e localização dos navios, em horários e coordenadas geográficas específicas.
O percurso dos navios gregos não coincidiram com as imagens de satélites que detectaram vazamento de óleo no Litoral Norte do Nordeste, no período analisado.
A partir de agora, com a detecção, por mais um satélite, da mancha de óleo no Litoral Norte do Nordeste, a hipótese do Lapis ganha força.
A imagem de satélite do Aqua-Modis, mesmo não sendo específica para identificar esse tipo de desastre no mar, veio reforçar e ampliar a identificação feita pelo Sentinel-1A, que também detectou a presença de navios bem ao lado da mancha de óleo.
Com o avanço das investigações, todas as possibilidades de ter havido um ruído ou interferência no sinal recebido pelos satélites, ao capturar essas imagens, foram eliminadas. São elas: correntes marítimas, nuvens, brisas, fitoplâncton, topografia do fundo do oceano ou mesmo o rastro de um navio.
Veja no vídeo acima como a topografia do local não interfere na mancha de óleo capturada pelo satélite Sentinel-1A. As duas imagens estão na mesma referência geográfica (latitude e longitude). Quando colocadas uma sobre a outra, e comparadas, descarta-se a possibilidade de haver ruído da topografia na imagem de satélite.
"A única interferência possível seria a de o satélite Sentinel-1A ter registrado um rastro, deixado por um navio sobre a água. Porém, pela geometria, intensidade, espessura e tamanho da mancha, também eliminamos a possibilidade de ter havido esse ruído”, completa Humberto Barbosa.
Diante dessas evidência, o Laboratório reforça que a mancha detectada pelo satélite Aqua-Modis e pelo Sentinel-1A, de fato, é de um grande vazamento de óleo naquela região.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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