O Litoral do Nordeste brasileiro enfrentou mais uma situação de poluição por vazamento de óleo. No dia 24 de fevereiro, o navio mercante Stellar Banner encalhou no oceano Atlântico, a 70 quilômetros da costa de São Luís (MA). Desta vez, o incidente ocorreu em pequena proporção, com impactos mais localizados no ecossistema marinho.
Depois de mais de três meses encalhado, devido a uma fissura no casco, na última sexta-feira, dia 12 de junho, a Marinha afundou a embarcação. O navio estava a serviço da companhia Vale e carregava toneladas de minério de ferro, que foram retiradas antes do procedimento.
Veja, no vídeo abaixo, momento em que Marinha afundou o navio.
A embarcação havia saída do Terminal Portuário Ponta da Madeira, em São Luís, no mesmo dia, às 15 horas, após ser abastecida pela empresa Vale, com 295 mil toneladas de minério de ferro, que seguiam para a China. O navio também transportava quase 4 mil toneladas de óleo.
De propriedade da empresa sul-coreana Polaris Shipping, a embarcação foi construída em 2016, com 340 metros de comprimento, o equivalente a três campos de futebol.
Ainda na sexta-feira, dia 28 de fevereiro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) identificou uma mancha de óleo ao redor do navio, que segue encalhado na costa do Maranhão.
De acordo com os analistas, estima-se que houve vazamento de pelo menos 333 litros de óleo no local, a partir do porão da embarcação. O poluente se espalhou por uma área de 0,79 km². O derramamento de óleo já afetou cerca de 830 metros do Litoral maranhense, um impacto ainda considerado de pequena proporção.
Foi solicitado que a empresa responsável pela contenção da emergência realize a dispensão mecânica do óleo. A técnica consiste em utilizar a própria embarcação para quebrar a mancha de óleo em partes menores. O processo facilita que o resíduo seja naturalmente absorvido por bactérias marítimas, que se alimentam de petróleo no mar.
Nos próximos dias, será transferida, para outras embarcações, parte do óleo combustível e do minério de ferro armazenados no Stellar Banner. É uma alternativa para tentar desencalhar o navio e evitar um desastre ambiental por derramamento de óleo. A informação foi passada neste sábado, dia 29 de fevereiro, pelo Ibama e Marinha do Brasil, órgãos que atuam na prevenção e controle de incidentes de poluição por óleo no mar.
A proprietária da embarcação informou que o vazamento não partiu dos tanques de combustível, que permanecem intactos.
A quantidade de óleo derramado foi calculada com dados de sensores específicos para detecção de manchas de óleo no mar, da aeronave Poseidon, que sobrevoou ontem o local. O Ibama solicitou aos responsáveis pela contenção da emergência que realizem a dispersão mecânica do óleo. As empresas Vale e Polaris foram notificadas sobre o navio encalhado na costa do Maranhão.
A notificação do Ibama exige informações sobre a quantidade de tanques e o volume atual de óleo em cada reservatório de combustível transportado. Também foram solicitados detalhes sobre outras possíveis substâncias nocivas ou perigosas a bordo da embarcação.
A embarcação ameaçou afundar por causa de duas fissuras em seu casco, após colidir, em alto mar, com algum obstáculo ainda não identificado.
O incidente de poluição por óleo na costa do Maranhão ocorreu seis meses após o grande derramamento de óleo que afetou as praias do Nordeste, além do Espírito Santo e Rio Janeiro. O desastre acarretou impactos socioambientais sem precedentes nos mares brasileiros. Até agora, foram 1009 localidades atingidas, em 130 municípios.
Durante a gestão daquele desastre, o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) desenvolveu um Sistema de Mapeamento de Vazamento de Óleo em mares brasileiros (MapÓleo).
Com protótipo testado, desde aquela ocorrência, o Sistema MapÓleo supre hoje a lacuna do País em fornecer informações de monitoramento e vigilância dos mares brasileiros. Diariamente, há um grande fluxo de navios que transitam por águas brasileiras, especialmente com o crescimento da extração e transporte de petróleo na região do Pré-Sal.
A Marinha e o Ibama não descartaram o elevado potencial de risco de maiores vazamentos de óleo, a partir do navio Stellar Banner. Atualmente, a embarcação segue encalhada e com cerca de 295 mil toneladas de minério de ferro a bordo, além de quatro milhões de litros de óleo combustível. Se houver vazamento, todo o material pode se espalhar pelo Litoral.
Diferentemente do incidente anterior no Litoral do Nordeste, a Vale e a Polaris seguiram o protocolo padrão de comunicar às autoridades brasileiras o acidente com a embarcação. Isto facilita a adoção das medidas de contingência e mitigação, em caso de um vazamento de óleo com impacto ambiental de grandes proporções no Litoral maranhense.
De acordo com Humberto Barbosa, responsável pela criação do MapÓleo, o incidente no Maranhão, esta semana, ainda é considerado de baixo impacto ambiental, em função do pequeno volume de resíduos derramado no mar. Porém, há risco de ocorrer vazamento de parte ou de toda a carga de poluentes transportada pelo navio encalhado, o que seria novamente um grande desastre ambiental no Litoral do Nordeste brasileiro.
O Lapis monitorou, a partir do satélite Sentinel-1A, a presença de manchas de óleo próximo ao Litoral do Maranhão. Porém, até o dia 26 de fevereiro, a plataforma MapÓleo não detectou grandes manchas de óleo naquela área. Nos próximos dias, as imagens de satélites darão uma dimensão mais aproximada da situação.
O Lapis ressalta que o navio encalhou em uma área pouco profunda, em torno de 21 a 25 metros, onde a profundidade do oceano Atlântico é relativamente homogênea, sem maiores variações na topografia, segundo a análise das imagens de satélites do local. A batimetria (profundidade do Oceano), no local do acidente com o navio Stellar Banner, foi medida com uso da tecnologia de Radar de Abertura Sintética (SAR), do satélite Sentinel-1A.
“O navio possui um calado de 21,5 metros, que já estava no limite para o local por onde passava, uma área pouco profunda. É possível que a quantidade e densidade da carga transportada, associada à situação de temperatura e salinidade das águas do Oceano, tenham feito com que a embarcação baixasse ainda mais, colidindo com o fundo do Oceano”, analisa Barbosa.
O calado é a profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação, em relação à superfície da água, conforme pode ser observado na imagem acima. O calado é a parte da estrutura do navio que fica submersa no mar, ou seja, a profundidade do navio que fica dentro da água, quando o navio está em movimento.
As análises do Lapis mostram que a profundidade da área por onde passava o Stellar Banner era insuficiente para o limite de calado da embarcação, além do volume e densidade da carga transportada, bem como das condições oceânicas, que também interferem no deslocamento da embarcação. Em função desses fatores, naquela ocasião, era impraticável a passagem do navio por aquele local. A informação sobre o tamanho do calado foi obtida junto à empresa Vessel Finder.
A estrutura do calado do navio e sua compatibilidade com a carga transportada, bem como com as condições oceânicas da rota, dependem de autorização portuária para partida. Essas questões relativas à fiscalização do navio necessitam de mais esclarecimentos das autoridades portuárias, sobretudo no caso de um possível desastre por vazamento de óleo no mar.
A Vale informou, em nota, que enviou dois navios Oil Spill Recovery Vessel (OSRV), cedidos pela Petrobras, para contenção de eventual vazamento de óleo do navio Stellar Banner. As embarcações chegarão ao local do acidente neste sábado, dia 29 de fevereiro.
A empresa também reforçou que está atuando no caso, prestando todo suporte técnico-operacional para mitigar os possíveis impactos causados pelo incidente com a embarcação, operada pela empresa Polaris.
Os vinte tripulantes que estavam a bordo foram retirados do navio em segurança e permanecem na área, nos quatro rebocadores enviados ao local.
A empresa Polaris afirmou que está mobilizando todos os ativos disponíveis no Brasil para erradicar qualquer risco potencial de derramamento de óleo, e que uma equipe antipoluição está no local, monitorando de perto a situação. A proprietária do navio informou que a situação está sob controle e que todas as autoridades foram acionadas, de acordo com os procedimentos padrão.
A Marinha confirmou que não houve vazamento de minério de ferro no mar, até o momento.
A proprietária e operadora do navio já tem histórico de incidentes de poluição por óleo no oceano Atlântico, com danos ambientais e humanos de grande proporção. A empresa é a mesma responsável pelo navio Stellar Daisy, que naufragou no oceano Atlântico, em 2017, próximo ao porto de Montevidéu, no Uruguai, após ter sido carregada com 260 mil toneladas de minério de ferro da Vale, no Rio de Janeiro.
Na ocasião, 24 tripulantes filipinos e coreanos estavam a bordo e apenas dois deles foram resgatados. Os corpos das outras pessoas não foram encontrados.
O acidente no Litoral do Maranhão, ocorrido esta semana, reforça a necessidade de vigilância constante dos mares brasileiros. O Brasil ainda não possui um sistema de monitoramento permanente, a partir de satélites, que propicie maior segurança às operações das embarcações em seus mares, especialmente no que se refere ao transporte e extração de recursos naturais.
Espera-se que a empresa Vale e Polaris adotem efetivamente as medidas emergenciais e de contingência adequadas, visando evitar um maior dano socioambiental de vazamento de óleo e outros poluentes no Litoral do Nordeste brasileiro. A região ainda se recupera do desastre por derramamento de óleo, ocorrido em agosto de 2019, cujas causas até agora não foram esclarecidas pelas autoridades brasileiras.
*Atualizado em: 13.06.2020, às 15h23.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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