Calor extremo atingiu cerca de 60% da população brasileira em fevereiro



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No período de dezembro a fevereiro, o calor extremo atingiu a maioria das regiões brasileiras. Um levantamento feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) indica que mais de 127 milhões de pessoas no Brasil enfrentaram pelo menos um dia com temperaturas de 5 °C acima da média histórica, no período de 14 a 20 de fevereiro. Isso significa que quase 60% da população foi atingida pelas altas temperauras, somente neste período. 

O levantamento foi baseado em dados meteorológicos recentemente disponibilizados pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF), por meio do produto ERA5.

O gráfico abaixo destaca o ranking dos estados brasileiros atingidos por maior número de dias com temperaturas de 2 °C acima da média, nos últimos três meses.

Estados com maior número de dias com calor

Já o mapa mostra a anomalia de temperatura média por pessoa em alguns municípios brasileiros. O termo “anomalia” indica o desvio da temperatura de determinado momento, em relação à média histórica dos últimos trinta anos.

Mapa com cidades com calor extremo

Para os municípios brasileiros, os dados de temperatura do produto ERA5 indicam o seguinte:

• Aproximadamente 55 milhões de pessoas no Espírito Santo (ES), Roraima (RO) e São Paulo (SP) foram impactadas por temperaturas médias 0,5 °C acima da média histórica (período de 1991 a 2020).

• Mais de 3 milhões de pessoas que vivem nos municípios de Santos (SP) e Campinas (SP) experimentaram as maiores anomalias de temperatura média diária de 0,5 °C, acima dos valores normais.

• Temperaturas de até 30 °C a 44 °C estão bem acima do normal para fevereiro, com algumas localidades no Brasil registrando temperaturas de 3 °C a 8 °C acima do normal, para essa época do ano.

A pesquisa utilizou dados de temperatura do ERA5, para determinar as anomalias de temperatura média diária de 1º de dezembro de 2024 a 28 de fevereiro de 2025.

Os dados são comparados com a média histórica do período de 1991 a 2020, conforme referência utilizada pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM). Dias de calor extremo são dias com temperaturas mais altas do que 90% daquelas observadas em determinada localidade, nos últimos trinta anos.

O produto ERA5 passou a disponibilizar dados de reanálise para o tempo e clima globais, desde 1940. A reanálise é um método que combina dados de previsão obtidos por modelo climático com observações recentemente disponíveis de todo o mundo. Este princípio, chamado de assimilação de dados, visa fornecer uma melhor estimativa sobre a situação da atmosfera e aprimorar as previsões.

>> Leia também: Reduzir desigualdades evitará milhões de mortes por calor extremo

Áreas agrícolas do Centro-Sul têm recorde de dias com calor extremo

Mapa das áreas agrícolas afetadas por calor extremo_QGIS

O impacto do excesso de calor é mais forte nas áreas urbanas, mas a produção de alimentos também é altamente afetada pelas alas temperaturas. Um mapeamento feito pelo Laboratório Lapis explica as consequências do excesso de calor para a produção agrícola. Culturas produzidas no Brasil, como soja e milho, têm sua produtividade altamente comprometida pelo excesso de calor.

O mapa mostra o número de dias com excesso de calor nas áreas agrícolas brasileiras, desde o dia 1° de setembro do ano passado até 15 de março deste ano. No mapa, as áreas em vermelho indicam onde a temperatura máxima diária excede o limite de 35 °C, durante o período. O mapa é um novo produto de monitoramento por satélite, que faz parte do portfólio do Laboratório Lapis.

O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, observou uma tendência crescente no número de dias com estresse térmico, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste.

O estresse térmico é um efeito das mudanças climáticas, que causam mais dias quentes, com ondas de calor e risco de incêndios florestais.  O principal efeito das mudanças climáticas é o aumento da temperatura média global. Isso significa que, em geral, as temperaturas estão mais altas do que eram no passado, tornando mais frequentes os dias com calor extremo e as ondas de calor.

As altas temperaturas podem prejudicar a agricultura de diversas formas, afetando o crescimento das plantas, a qualidade dos frutos e a disponibilidade de água. As mudanças climáticas provocam mais secas, perda de produtividade das lavouras e incêndios florestais, o que pode gerar impactos diretos e indiretos para os serviços ecossistêmicos.

Este levantamento foi feito a partir da pesquisa realizada pelo Laboratório Lapis, no âmbito do projeto Capes Emergências Climáticas. Os dados podem ser disponibilizados pelo Laboratório para novas pesquisas.

>> Leia também: Pesquisa mostra como manejo do fogo combate à mudança climática na Amazônia

Desigualdades sociais e mudanças climáticas

 Mapa do índice de risco climático_QGIS

A mudança climática tornou as altas temperaturas mais comuns. Além da variabilidade climática, o excesso de calor decorrente do aquecimento global atinge principalmente as populações mais vulneráveis.

Um estudo recente analisou o risco de mortalidade, em escalas global e local, devido ao aumento das temperaturas, causado por mudanças climáticas. Também avaliou os custos econômicos e os benefícios sociais das medidas de adaptação ao aquecimento global.

Os danos humanos serão alarmantes nos locais mais pobres e/ou quentes. O impacto estimado será especialmente maior para os idosos, nas próximas décadas, em diferentes locais do Planeta.

As extremas desigualdades sociais tendem a agravar o cenário de mudança climática. O calor extremo pode causar graves danos às pessoas, inclusive aumento da mortalidade.

O acesso a tecnologias, como aquecedores, em locais muito frios, e refrigeradores, em regiões quentes, entre outras medidas, como serviços de assistência a saúde, são fundamentais ao processo de adaptação.

>> Leia também: La Niña perde força e Pacífico mais quente já sinaliza para um El Niño

Mais informações

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COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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