La Niña perde força e Pacífico mais quente já sinaliza para um El Niño



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O La Niña surgiu no início de janeiro, com características atípicas e sem intensidade suficiente para haver o acoplamento da atmosfera com o Pacífico mais frio. O fenômeno foi incomum, já que várias regiões do mundo enfrentam, há alguns meses, condições semelhantes às de um El Niño. É o caso da seca e incêndios no norte da Califórnia, e da estação chuvosa irregular no Nordeste brasileiro.

De acordo com o mapa do Índice de Risco Climático (Veja imagem acima), enquanto o Atlântico apresenta águas bem mais quentes do que o normal, o Pacífico tropical também já mostra sinais de aquecimento. Com isso, parece que o La Niña fraco já se dissipou, estando em uma condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS).

Se esse aquecimento se repetir por três meses consecutivos, passa-se da condição de neutralidade para um El Niño. As informações são do meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).

O surgimento de condições atmosféricas semelhantes às de um La Niña também foi incomum, pois ocorreu antes mesmo do resfriamento significativo do Pacífico tropicalO La Niña é a fase fria do ENOS, marcada por temperaturas da superfície do mar mais frias do que o normal no Pacífico tropical.

Há mais de um ano, os oceanos globais estão muito mais quentes do que a média, o que pode ter contribuído para o atraso de La Niña. Além disso, a mudança climática pode estar influenciando mais do que o esperado.

Segundo Humberto, é mais difícil de se prever o início ou o fim de um El Niño ou La Niña, do que quando esses fenômenos já estão ocorrendo. Atualmente, há também um acoplamento mais fraco entre o Pacífico e a atmosfera, devido à redução da temperatura no oceano Pacífico tropical.

“Para haver um El Niño ou La Niña, há um ponto fundamental: o acoplamento entre oceano e atmosfera. A gente ressaltou desde janeiro que o La Niña não estava devidamente estabelecido. Não houve de fato um La Niña, porque faltou a resposta da atmosfera ao resfriamento do Pacífico, explica o meteorologista. 

Humberto acrescenta que em um cenário comum de La Niña, as temperaturas da superfície não estariam tão altas, em algumas regiões brasileiras. No Nordeste, por exemplo, há áreas muito secas e quentes. É um cenário atípico. Só a mudança climática não explica essas altas temperaturas.

Além disso, segundo a nova pesquisa realizada pelo Lapis, os eventos de El Niño, nas últimas duas décadas, não tiveram impacto no aumento das áreas de incêndios florestais na Amazônia. As queimadas na região são deliberadamente deflagradas, de forma ilegal, por madeireiros e grileiros. 

>> Leia também: Pesquisa mostra como manejo do fogo combate à mudança climática na Amazônia

As regiões brasileiras com maior índice de calor atualmente

Mapa do risco climático_QGIS

O alto índice de calor se concentra atualmente em municípios do Centro-Sul e da Amazônia, além da área central ao oeste do Nordeste. A atual fase úmida da Oscilação Madden-Julian (OMJ), que passa pelo Brasil, piora a situação das altas temperaturas e umidade relativa do ar (Veja mapa abaixo).Oscilação Madden-Julian_QGIS

Uma condição de tempo mais seco deve se estabelecer sobre a região Sul, deixando o tempo estável, com Sol na maior parte do dia e altas temperaturas à tarde.

A previsão é de redução nas chuvas. Porém, devido ao forte calor, não se descarta a possibilidade de algum evento isolado de chuva. Por outro lado, na porção norte do Nordeste, as áreas em cinza mostram muita nebulosidade, com chuvas acima da média.

>> Leia também: Até que ponto as previsões climáticas correspondem à realidade?

Mapa mostra áreas agrícolas brasileiras com recorde de exposição ao calor

Mapa das áreas expostas ao calor_QGIS

O Laboratório Lapis lançou um novo produto de monitoramento do calor extremo sobre a agricultura brasileira. O mapa do número consecutivos de dias com altas temperaturas mostra as regiões agrícolas mais afetadas por estresse térmico, desde setembro do ano passado até o último dia 20 de fevereiro deste ano.

No mapa, as áreas em vermelho indicam onde a temperatura máxima diária excede o limite de temperatura de 35 °C, durante o período analisado.

Estresse térmico é um efeito das mudanças climáticas, que causa dias mais quentes, incêndios florestais e ondas de calor. O principal efeito das mudanças climáticas é o aumento da temperatura média global.

Isso significa que, em geral, as temperaturas estão mais altas do que no passado, tornando mais frequentes os dias quentes e as ondas de calor, que podem reduzir a produtividade de culturas agrícolas, como soja e milho. Essas lavouras são altamente suscetíveis ao calor extremo.

O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, observou uma tendência crescente no número de dias com calor extremo em toda a região Centro-Sul do País. O efeito do calor é mais forte nas áreas urbanas.

As altas temperaturas prejudicam a agricultura de diversas formas, afetando o crescimento das plantas, a qualidade dos frutos e a disponibilidade de água.

As mudanças climáticas provocam secas mais frequentes, perda de produtividade das lavouras, incêndios florestais, com impactos diretos e indiretos para os serviços ecossistêmicos. O artigo completo acaba de ser publicado no periódico Atmosphere.

>> Leia também: La Niña chega com características incomuns. O que isso significa para o clima?

Mapeamento mostra seca intensa no Sudeste e em áreas do Semiárido

Mapa da intensidade da seca_QGIS

O Laboratório Lapis atualizou o mapa de monitoramento da intensidade da seca, nas regiões brasileiras. De acordo com o mapa, a seca severa afeta atualmente a região Sudeste, além de áreas do Semiárido brasileiro, Goiás, Paraná e algumas áreas da região Norte.

No mapa, as cores em laranja e vermelho mostram como piorou o percentual de umidade do solo e dos volumes de precipitação, quando comparado com a média histórica. É o caso do Maranhão e Piauí. A mesma condição é observada em grande parte do Rio Grande do Sul, embora com registro de estiagem menos severa.

O mapa compara a atual quantidade de umidade do solo, com a média do mesmo período de 1961 a 2010. As áreas com seca prolongada (em tons de laranja e vermelho, no mapa), apresentam os seguintes impactos:

1) Déficit severo de precipitação: aumenta o risco de incêndios florestais;

2) Baixos níveis das águas: impactam diretamente no transporte fluvial e terrestre, afetando a economia da região;

3) Solo seco: com déficit de umidade a longo prazo.

>> Leia também: Situação do Atlântico melhora previsão climática para o Norte e Nordeste

Mais informações

Os mapas utilizados em nossos posts fazem parte do portfólio de produtos de monitoramento por satélite do Laboratório Lapis. Se você quer aprender a utilizar as Geotecnologias, para gerar mapas e produtos de monitoramento por satélite, você tem a oportunidade de passar 01 inteiro sendo treinado diretamente pela equipe do Laboratório Lapis. Para dominar o software livre QGIS, até o nível avançado, inscreva-se para o Curso de QGIS “Mapa da Mina”. 

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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