A intensidade do El Niño antecipou características climática típicas do verão. É o caso do predomínio de pouca chuva e altas temperaturas, principalmente no Centro-Norte do Brasil (que abrange desde a área central até grande parte do Norte e Nordeste).
O verão meteorológico começa no início de dezembro, com duração até o fim de fevereiro, no Hemisfério Sul. É diferente do verão astronômico, previsto para começar no dia 22 de dezembro (solstício de verão).
O trimestre que vai de dezembro a janeiro é o mais chuvoso e quente no Hemisfério Sul. As estatísticas e recordes de verão também são medidos nesse período.
O El Niño será o principal fenômeno climático do próximo verão. Trata-se do aquecimento anormal das águas do Pacífico tropical, em relação à média histórica, sendo necessária a resposta direta da atmosfera a essas condições de águas mais quentes.
Essa condição de menos chuva e altas temperaturas deve prevalecer no mês de dezembro. O Atlântico Norte mais quente piora ainda mais a situação, principalmente na Amazônia brasileira. Uma massa de ar seco predomina sobre aquela região desde o mês de agosto, tendo como impactos rios secos e calor extremo.
De acordo com o mapeamento atualizado do Laboratório Lapis, baseado em dados de satélites, a seca continua intensa em grande parte da Amazônia brasileira, Centro-Oeste, áreas do Sudeste e sul da Bahia. Esse mapa da intensidade da seca é o mais atualizado para todo o Brasil, baseado em dados de satélites do último dia 20 de novembro.
O mapa gerado no software QGIS, fornece informações sobre a intensidade da seca, a partir da integração de um conjunto de variáveis, comparando sempre com a média histórica. São dados de satélite da umidade do solo, déficit de precipitação, índice de vegetação e volume dos corpos d’água.
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Para o verão que começa em dezembro, a previsão sazonal estendida, tem indicado influência do El Niño de intensidade forte. O mapa foi obtido a partir do modelo climático do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF).
Para dezembro, espera-se um pico de temperatura na superfície do Pacífico tropical em torno de 2 °C acima do normal. Esse desvio da média da temperatura do Pacífico, em relação à média histórica dos últimos 30 anos, é chamado de "anomalia".
Uma anomalia positiva significa que a temperatura da superfície do mar está mais alta do que o normal. Nessa previsão, a anomalia refere-se às temperaturas oceânicas acima do normal, nas regiões tropicais do Pacífico.
Em dezembro, o El Niño continua favorecendo mais chuvas para o Sul do Brasil, especialmente para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Já na área central e norte do País, as chuvas seguem abaixo da média, sobretudo em grande parte das regiões Sudeste, Norte e Nordeste.
A previsão do padrão de pressão de verão, do modelo climático ECMWF, mostra um padrão climático do El Niño. Uma grande área de anomalias de alta pressão predomina sobre o sul da América do Sul. As temperaturas da superfície estão mais quentes que o normal, em grande parte do Brasil, sobretudo na Amazônia.
“Vemos uma diferença muito grande entre o atual evento forte de El Niño e o de 2015, especialmente na Amazônia brasileira. O fenômeno potencializa muito mais as secas na porção norte da América do Sul, antecipando condições de verão naquela região. Essa massa de ar seco gerou rapidamente uma seca intensa e altas temperaturas na Amazônia, como temos acompanhado desde o mês de junho", explica Humberto.
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O mapa acima apresenta a previsão de temperaturas para o mês de dezembro, a partir de informações do modelo ECMWF, obtidas junto ao Laboratório Lapis. São esperadas temperaturas acima da média para toda a área central e norte do Brasil. O Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste são as regiões mais críticas a serem atingidas por ondas de calor.
O final de novembro foi marcado por ondas de calor, em quase todo o Brasil. Há previsão de altas temperaturas novamente esta semana, com possibilidade de trazer chuvas também. A onda de calor já começa a partir do dia 29 de novembro, com temperaturas acima da média previstas para a maior parte do Brasil. O fenômeno El Niño pode ser a explicação para o calor excessivo, ao mesmo tempo em que ocorrem mais chuvas na região Sul.
Enquanto grande parte do Brasil será afetado por mais uma onda de calor, os temporais voltam a atingir parte do Rio Grande do Sul, já nesta segunda-feira, dia 27 de novembro. O estado ainda tenta se recuperar dos impactos das enchentes e inundações, das últimas semanas.
No Pacífico tropical, continua o forte aquecimento das águas superficiais. Na costa oeste da América do Sul, a anomalia de temperatura passa dos 2 ˚C acima do normal. Essas águas mais aquecidas migram em direção à região central do Pacífico (chamada Niño 3.4), que já apresenta anomalia em torno de 2 ˚C.
Essa condição do El Niño de intensidade forte afeta gravemente o clima brasileiro, com excesso de chuva na região Sul, ondas de calor na área central do Brasil, além de seca, pouca chuva e altas temperaturas no Norte e Nordeste do País.
Desde o mês de maio, temos chamado atenção para a superfície dos oceanos globais muito mais quentes que o normal, de forma impressionante. Explicamos a situação neste post completo.
As temperaturas da superfície dispararam particularmente no oceano Atlântico subtropical, na costa do Sudeste brasileiro, com uma onda de calor marinha “excepcional”. Ali, as temperaturas permanecem muito acima do normal, no final de novembro, se comparadas com qualquer ano anterior.
O gráfico abaixo mostra a média da temperatura da superfície dos oceanos, no período de 1981-2022. Você pode ver que novos recordes foram estabelecidos, desde o mês de abril, superando de forma extraordinária toda a média histórica.
A temperatura média da superfície do Atlântico subtropical atualmente é cerca de 28 °C, estimada em pelo menos 3 °C acima da média de todos os anos anteriores. No Brasil, essa onda de calor marinho é favorável à formação de chuva nas regiões Sul e Sudeste.
Já no Atlântico tropical, as temperaturas também se mantiveram mais quentes que o normal, nas áreas costeiras do Nordeste brasileiro. O Atlântico exerce influência importante na formação de chuvas na região. Todavia, se o Atlântico Norte se mantiver mais quente que o normal, nos próximos meses, não se forma um dipolo favorável à formação de chuvas no Centro-Norte do Brasil.
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A situação do El Niño sempre depende da influência das altas temperaturas do Pacífico na atmosfera (acoplamento oceano-atmosfera). E é justamente nesse ponto que Humberto Barbosa identificou um comportamento incomum da atmosfera ao El Niño no Pacífico, nas últimas semanas. Para mais detalhes da atualização, acesse este post completo.
Ele comparou o atual El Niño forte com o evento de mesma intensidade ocorrido em 2015, quando trouxe severos impactos ao clima do Brasil. Constatou-se uma grande diferença na resposta da atmosfera ao atual evento de El Niño, sendo um alerta para os meteorologistas que fazem previsões climáticas sazonais.
Pelas observações recentes da resposta atípica do ENOS ao Pacífico mais quente, conclui-se que nesse momento o El Niño está forte e grave, mas pode perder força. A intensidade do El Niño e sua duração ainda são imprevisíveis para 2024. A partir de janeiro do próximo ano, ainda não há dados conclusivos sobre como a atmosfera pode responder ao Pacífico mais aquecido.
O fato é que o ENOS está respondendo de uma forma muito mais intensa, se comparado com 2015. O atual impacto do El Niño na Amazônia brasileira está pior do que naquele ano. A situação do El Niño está grave desde junho deste ano e deve continuar assim, pelo menos até o próximo mês de dezembro, principalmente em termos de impactos no Centro-Norte do Brasil.
Todavia, o comportamento atípico observado na atmosfera sinaliza para a possibilidade de haver uma possível desconexão da atmosfera com o Pacífico, com impactos climáticos ainda imprevisíveis.
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O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro "Um século de secas". Uma das análises mais completas sobre a região semiárida brasileira, a obra permite entender mais sobre El Niño, La Niña, influência climática do oceano Atlântico e a análise de cada seca ocorrida nos últimos cem anos. Para isso, foram usados produtos e séries temporais de dados de satélites. O destaque é para a maior seca do século, tendo afetado a região no período 2011-2017.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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