A Oscilação Madden-Julian (MJO) tem favorecido chuvas extremas no Sul do Brasil. No último dia 04 de setembro, o fenômeno intensificou sistemas atmosféricos que culminaram no ciclone extratropical e nas chuvas extremas. Rajadas de vento forte, chuvas fortes e inundações violentas atingiram municípios do Rio Grande do Sul, deixando centenas de desabrigados e provocando a morte de ao menos 42 pessoas.
A onda atmosférica MJO é caracterizada por uma propagação para o leste de grandes regiões de chuvas tropicais, ora intensificadas ora reprimidas. A passagem do fenômeno atua como um fator adicional, contribuindo para definir situações de chuvas ou estiagem, ao longo da sua trajetória. Como explicamos neste post, a passagem do fenômeno é marcada por uma fase úmida e uma fase seca.
Desde o dia 07 de setembro, um novo pulso úmido da MJO favorece mais chuvas fortes no Sul do Brasil, como você pode ver no mapa acima. De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis), há previsão de muita chuva acumulada para os próximos 10 dias, no Rio Grande do Sul.
Segundo Humberto, essa previsão é preocupante, em razão de algumas áreas já estarem com solos saturados, por conta das fortes chuvas e inundações dos últimos dias. O mapa de abertura deste post mostra a previsão de chuvas fortes para a região, nos próximos 10 dias.
No Rio Grande do Sul e Uruguai, fortes chuvas já ocorrem devido a um cavado. A imagem do satélite GOES-16 mostra mais nuvens entre Santa Catarina e Paraná, neste dia 08 de setembro. Uma corrente de jato (ventos fortes em altitude) e circulação marítima (transporte de umidade do mar para o continente) favorecem as chuvas na região.
A imagem abaixo é uma atualização da condição da onda MJO, com dados do dia 10 de setembro. Apesar da trégua trazida no dia 09 de setembro, com a passagem de um pulso seco da onda MJO, a fase úmida já se aproxima da região Sul e deve favorecer sistemas formadores de chuva forte.
De acordo com o Laboratório Lapis, para esta semana, há previsão de cerca de 200 milímetros (mm) de chuva acumulada no Rio Grande do Sul.
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Após as intensas chuvas no Sul do Brasil, influenciada pela MJO, o pulso da fase seca da onda atmosférica atingiu em cheio as regiões brasileiras. A imagem gerada pelo Laboratório Lapis, com dados do dia 05 de setembro, mostra a fase seca do fenômeno passando pelo Brasil.
Na última quarta-feira, dia 06 de setembro, a fase seca da MJO trouxe uma trégua nas chuvas na região Sul, deixando o tempo estável. A fase seca do fenômeno aliviou a situação dos extremos climáticos nos municípios da região, ao inibir sistemas causadores de chuvas intensas.
Todavia, já na quinta-feira, dia 07 de setembro, a fase úmida dessa onda voltou a predominar e vai influenciar em sistemas que geram chuvas intensas na região.
A corrente de jato que atua no extremo Sul do País pode ficar mais forte, em razão desse novo pulso úmido da onda MJO. Como você viu na imagem acima, do dia 07 de setembro, a fase úmida do fenômeno já atinge estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A OMJ é uma onda de nuvens profundas, movendo-se para o leste, acompanhada de perturbações de tempestades, chuva, ventos e anomalias de pressão. Essa onda atmosférica costuma estar associada a chuvas generalizadas, que passam por grande parte do Brasil, no período de 5 a 10 dias. Ao passar pelo Brasil, provoca chuvas generalizadas em grande parte das regiões.
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De acordo com o mapa atualizado da umidade do solo, o Sul e Sudeste do Brasil apresentam umidade do solo muito acima da média histórica. Por outro lado, a Amazônia brasileira continua com redução histórica das chuvas, se comparado o atual período com a média histórica. Desde o mês de junho, a região apresenta baixa umidade do solo, indicando a redução dos volumes de chuva na região.
Por outro lado, a primeira semana de setembro está sendo destacada pelo aumento das chuvas no Centro-Sul do País, principalmente na região Sul, áreas do Sudeste e Centro-Oeste. As informações foram obtidas a partir da análise do mapa da umidade do solo, gerado no software livre QGIS, com dados de satélite do dia 03 de setembro.
O produto de satélite umidade do solo destaca já haver uma queda significativa nos níveis de umidade do solo em grande parte da Amazônia brasileira, comparando o atual percentual com a média histórica. Quase todos os estados da região já são afetados pela redução nas chuvas. Essa tendência de estiagem na região Norte se deve à influência do El Niño.
O mapa da umidade do solo é resultado do monitoramento semanal por satélite das regiões brasileiras, realizado pelo Laboratório Lapis. O mapa foi processado no software QGIS, com dados do satélite SMOS.
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O Laboratório Lapis treina usuários para processar e analisar mapas imagens e produtos de satélites, usando o software livre QGIS, aplicando o seu método inovador "Mapa da Mina". Estão abertas as inscrições para o seu Treinamento online em QGIS, do zero até o avançado. Para mais informações, assista a esta apresentação.
*Post atualizado em: 11.09.2023, às 10h06.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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