Na última sexta-feira, dia 19 de janeiro, uma reportagem especial do Jornal Nacional, da TV Globo, destacou a expansão das áreas áridas no Semiárido brasileiro. A matéria chamou atenção para o impacto das altas temperaturas na fruticultura do Semiárido de Pernambuco.
Um dos focos da reportagem foi o recente mapeamento feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) que constatou o aumento das áreas áridas e degradadas no Semiárido brasileiro.
Os mapas acima apresentam o resultado do estudo. A faixa cinza permite comparar como estava a situação da aridez em 1990 e a expansão dessa grave condição climática nos últimos 30 anos.
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De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo estudo, esses locais que se tornaram mais áridos e degradados, nas últimas décadas, coincidem exatamente com as áreas onde a atmosfera está secando.
Como já explicamos neste post, o estudo do Lapis constatou que a degradação das terras e a desertificação já impactam na redução das nuvens formadoras de chuva na região.
“A combinação da ação climática (aumento das temperaturas e aumento das secas) com a ação humana (principalmente o desmatamento), tem provocado essa degradação. E agora, também já há uma resposta da atmosfera, com uma redução das chuvas nos últimos 30 anos, na região semiárida brasileira”, comentou Humberto, na reportagem.
Conversamos com o meteorologista e ele relatou que a mudança mais dramática, identificada na pesquisa, foi a conversão de um grande percentual de áreas de agreste (terras subúmidas secas) em terras semiáridas.
“Essa foi a maior mudança identificada na região: nos últimos 30 anos, cerca de 55% das áreas do agreste ficaram mais áridas, ou seja, se tornaram semiáridas. Essa mudança preocupa porque o agreste concentra grande parte da atividade econômica da região. A expansão do Semiárido tem tido maior impacto nessas áreas de agreste, afetando também nas políticas públicas”, explica Humberto.
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A reportagem do Jornal Nacional também citou uma pesquisa da Embrapa Semiárido sobre o aumento do número de dias com altas temperaturas no Semiárido brasileiro, nas últimas duas décadas. Os pesquisadores analisaram dados de 16 estações meteorológicas, no período de 2003 a 2023.
Os quatro últimos meses de cada ano costumam ser os mais quentes da região, com grandes impactos na produção agrícola. Os pesquisadores da Embrapa constaram que, na última década, aumentou o número de dias com temperaturas máximas acima de 39 oC na região.
“Nós tivemos muito mais dias, com temperaturas máximas absolutas maiores, chegamos a 37, 38 e até 39,5 oC. Isso realmente traz um impacto na produção agrícola”, afirma Magna Moura, pesquisadora da Embrapa Semiárido.
Em Petrolina, Semiárido de Pernambuco, produtores de manga relataram como o calor intenso afetou na produtividade e na qualidade dos frutos.
“Pedro Silas é produtor de manga, em uma área de 22 hectares, em Petrolina. No ano passado, ele colheu 990 toneladas da fruta e esperava uma safra ainda melhor este ano. Mas o calor intenso afetou a floração e o crescimento dos frutos. A produção caiu pela metade”, destacou a reportagem.
Segundo o produtor rural, houve aumento dos custos com insumos, para conter os danos do calor, e perda de cerca de 25% na produtividade.
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O mapa do número de dias secos é um dos produtos de monitoramento por satélite gerados semanalmente pelo Laboratório Lapis. Permite analisar a frequência das chuvas nas regiões brasileiras, na última semana.
De acordo com o mapa atualizado, no período de 14 a 20 de janeiro, houve uma melhoria na frequência das chuvas na região de Petrolina (PE). Isso pode aliviar a situação dos produtores. Mas da Bahia até o Ceará, as chuvas continuam irregulares. No norte de Minas Gerais e no Espírito Santo, também houve chuva abaixo da média, durante o período. Nas demais regiões brasileiras, chuvas frequentes.
No mapa, as áreas na cor marrom indicam onde não ocorreu chuva, nos últimos sete dias consecutivos. Já as áreas em verde mostram onde houve chuva significativa ou os locais que tiveram apenas 1 a 2 dias sem chover, durante o período.
O mapa foi elaborado com dados oriundos do produto Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS). O parâmetro utilizado baseia-se no número de dias secos, ou seja, quando o satélite não registrou chuvas, em 24 horas.
O CHIRPS é um conjunto de dados de chuva, obtidos por satélites e pela coleta in situ, em estações meteorológicas, desde 1981 até o presente. Esse sistema de estimativa de precipitação infravermelha permite criar séries temporais de chuva, para análise de tendência e monitoramento da seca sazonal.
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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