Nem La Niña e nem El Niño devem surgir no Pacífico até o outono de 2025, de acordo com a previsão atualizada do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
Desde o último mês de junho, a região central do Pacífico equatorial se encontra em condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS). É possível que essa condição se mantenha até o período de março a junho do próximo ano.
As anomalias de temperatura da superfície do Pacífico na região do El Niño têm oscilado entre -0,5 °C e +0,5 °C. Ou seja, não há consistência suficiente para que o La Niña se estabeleça. O termo “anomalia” indica o desvio da temperatura de determinado momento, em relação à média histórica.
A previsão da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) indicava inicialmente a chegada do La Niña em agosto. Todavia, até agora o fenômeno não se firmou. A instituição sugere chegada do La Niña neste mês de dezembro, mas isso pode novamente não ocorrer.
Desde agosto, o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, chama atenção que para o La Niña se firmar, as temperaturas do Pacífico tropical devem ficar mais frias do que o normal por pelo menos três meses consecutivos. Mas esse resfriamento constante das águas do Pacífico tropical não tem sido observado.
Ele ressalta que alguns modelos de previsão indicam uma possível volta do El Niño em 2025, mas ainda é cedo para essa previsão.
“Nesse momento, o surgimento de algumas áreas de aquecimento no Pacífico e os resultados de modelos de computador nos dão a confiança de que um La Niña significativo não está previsto para os próximos meses”, afirma Humberto.
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No mapa acima, você pode ver um inesperado aquecimento das águas superficiais em áreas do Pacífico equatorial. O que está acontecendo no Pacífico tropical? Um Niño pode surgir ou é apenas uma mudança temporária no Oceano?
Atualmente, há aquecimento anormal das águas do oceano Atlântico Norte, bem como em grande parte do litoral brasileiro. Uma exceção é a costa leste do Nordeste, onde há resfriamento. “Essa condição de águas mais frias na costa do Nordeste é desfavorável para a região. Isso explica o bloqueio atmosférico que provoca seca e altas temperaturas na região”, completa Humberto.
O céu claro aumenta a radiação solar, que chega à superfície do mar. Esse fenômeno, assim como a maior circulação de ventos secos na atmosfera, forma um sistema de alta pressão sobre o Atlântico Sul.
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Desde que observações do ENOS começaram, na década de 1950, um El Niño duplo se formou apenas em raras situações. O período de 1991 a 1995 foi marcado por um duplo El Niño, com uma longa sequência de condições neutras de 1992 a 1994.
Uma grande incógnita hoje é o impacto da mudança climática no comportamento do ENOS. Os oceanos estão mais quentes do que a média e esse aumento da temperatura pode tornar eventos de El Niño mais comuns. Todavia, mais pesquisas são necessárias para entender como os oceanos mais quentes vão influenciar nas mudanças de fase do ENOS.
A última vez que o Brasil teve um verão mais frio do que a média foi em 2013-2014, quando a temperatura média ficou quase um grau abaixo dos valores típicos.
De acordo com as informações no Livro “Um século de secas”, o verão mais frio registrado no Semiárido brasileiro foi o de 1978-1979, com os invernos de 1898-1899, 1904-1905, 1909-1910 e 1935-1936, completando os cinco verões mais frios. Para adquirir o Livro em nossa Livraria sem fins lucrativos, clique aqui.
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Um mapeamento feito pelo Laboratório Lapis mostrou uma piora na situação da seca no Norte e Nordeste do Brasil. Desde o início de setembro, um bloqueio atmosférico afeta grande parte dessas regiões, principalmente o Nordeste e áreas do Norte setentrional. A irregularidade das chuvas é consequência de uma seca prolongada, associada às altas temperaturas.
O tempo seco é uma condição atípica para a região Norte nesse período. O desaparecimento das chuvas nas últimas semanas se deve à formação dessa massa de ar seco. Ela deixa o céu claro e bloqueia a formação de áreas de instabilidade (que em meados de novembro, costumam provocar chuva).
O mapa do número de dias secos é um produto de satélite que permite analisar a frequência das chuvas nas regiões brasileiras. Nos últimos 30 dias, as áreas em vermelho no mapa indicam onde não ocorreu chuva, Já as áreas em verde, mostram chuvas regulares ou os locais com chuvas mais regulares.
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Desde o mês de maio, o Laboratório Lapis destaca a situação da seca na Amazônia brasileira, em razão do aquecimento do Atlântico Norte. Com isso, os ventos alísios de sudeste mantêm a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) muito afastada da região, inibindo as chuvas.
As queimadas e o atual estágio de aquecimento global pioram a situação. A ZCIT é o principal sistema meteorológico formador de chuvas no Norte e Nordeste, durante o verão.
O meteorologista Humberto Barbosa, comparou imagens de satélites da Amazônia brasileira hoje, na atual condição de neutralidade do ENOS, com o mês de novembro de 2023, quando havia um El Niño.
Você pode observar, a partir da comparação, que apesar da situação oposta de El Niño no ano passado, a nebulosidade da ZCIT desapareceu na imagem de satélite do último dia 14 de novembro.
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O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que analisa os vários tipos de secas e políticas hídricas implementadas na região, por mais de cem anos (1901-2016).
Os mapas e produtos de satélite utilizados neste post foram gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis. Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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