A pré-estação chuvosa no Nordeste brasileiro ocorre no período de dezembro a janeiro. Mas de acordo com a previsão climática do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), este ano, essas chuvas podem ficar abaixo da média na porção norte da região.
O pesquisador Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, alerta que o Nordeste brasileiro corre risco de enfrentar uma grande seca, a partir de 2025. Os níveis de seca aumentam à medida que a região se aproxima da pré-estação chuvosa, depois de uma primavera de calor recorde.
Todavia, a ocorrência de Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis (VCAN's), fenômenos pouco previsíveis e comuns durante a pré-estação do Nordeste, podem minimizar a situação.
A previsão do Laboratório Lapis é feita com base nas atuais condições observadas nos oceanos e da atmosfera. Mas esses sistemas são dinâmicos, de modo que qualquer mudança identificada, será feita a atualização da previsão.
Desde junho deste ano, a estiagem se agrava na região, com falta de chuva e altas temperaturas. Um fator agravante tem sido a seca-relâmpago, uma nova tipologia de seca, que se tornou comum com a mudança climática. É um evento climático extremo de curta duração, com baixa precipitação e aumento da evaporação, impulsionado pelas altas temperaturas. Essa condição resseca rapidamente os solos.
O mapa da precipitação (à esquerda), gerado a partir de dados de satélite, mostra a atual situação de estiagem no Semiárido brasileiro, com ausência de chuva em quase toda a região. Já o mapa da cobertura vegetal (à direita) mostra os atuais impactos dessa estiagem sobre a saúde da vegetação.
>> Leia também: Por que os modelos climáticos erraram a previsão de chegada do La Niña?
De acordo com a previsão do Laboratório Lapis, para março do próximo ano, há uma tendência de que o Atlântico Norte fique mais quente, enquanto o Atlântico Sul, na costa do Nordeste, fique mais frio. Essa condição é desfavorável para as chuvas na região.
Nas últimas semanas, as temperaturas do Atlântico Norte, da costa norte do Nordeste brasileiro e da costa oeste da África aumentaram, com uma onda de calor marinha considerada excepcional.
Esse calor extremo na costa do Brasil aumenta as temperaturas em grande parte das suas regiões. Ondas de calor marinhas são picos de temperatura dos oceanos acima do normal.
Os dois principais fenômenos que provocam secas no Semiárido brasileiro são o El Niño e o Dipolo do Atlântico. Mas nem todas as secas são iguais. Há vários tipos de seca, com diferentes impactos.
O Dipolo do Atlântico é uma gangorra térmica entre as águas do Atlântico Norte e do Atlântico Sul, próximo ao Equador. Desde o mês de junho, o Atlântico Norte está mais quente que o normal, em relação ao Atlântico Sul. Quando isso acontece, é uma situação muito desfavorável para as chuvas no Centro-Norte do Brasil.
As temperaturas do Atlântico movimentam a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), o principal fenômeno que traz chuvas para o Norte e Nordeste. A ZCIT é uma banda de nuvens carregadas, que se desloca para a região oceânica onde as águas estão mais quentes.
Com o Atlântico Norte mais quente do que o Atlântico Sul, a ZCIT se desloca mais para o Hemisfério Norte, reduzindo as chuvas no Nordeste brasileiro.
Embora fortes eventos de El Niño estejam associados a secas no Semiárido, em muitos casos, não há tal relação. O oceano Atlântico pode ser decisivo para o clima na região. Esse padrão climático ocorreu em 2024, quando a estação chuvosa (de fevereiro a maio) ficou próxima da média histórica.
Com o atraso do La Niña e a previsão de que o evento será fraco no início de 2025, as temperaturas do Atlântico Sul mais frias podem provocar a volta da seca ao Nordeste brasileiro, explica Humberto.
No Semiárido brasileiro, em 180 anos, ocorreram nove secas extremas. Recentemente, a pior seca do século durou seis anos (2012-2017). Secas com cinco anos consecutivos de duração ocorreram: no final do século XIX, no início do século XX, de 1929-1933 e de 1979-1983. Houve secas que duraram quatro anos: 1990-1993. E ainda secas de dois anos: 1955-1956 e 1997-1998.
>> Leia também: Nível dos reservatórios pode ficar crítico até dezembro e sem chuvas suficientes para repor
O Laboratório Lapis divulgou uma atualização sobre a situação das temperaturas nas regiões brasileiras. Uma onda de calor atinge as regiões Norte e Nordeste, neste início de novembro.
De acordo com o mapa do Índice de Risco Climático (IRC), com dados do último dia 05 de novembro, altas temperaturas afetam as regiões Norte e Nordeste, com chuvas menos frequentes. As altas temperaturas foram analisadas a partir do modelo de previsão da NOAA e coincidem com áreas altamente degradadas.
"Essa onda de calor em áreas do Norte e Nordeste do País não é natural, mas provocada pela degradação ambiental, principalmente associada à seca", explica Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo monitoramento.
Quantificar o risco climático é útil para uma melhor tomada de decisão nos municípios brasileiros. Hoje, já é possível estimar como a mudança climática alterou as temperaturas diárias, em qualquer localidade. O mapa é baseado no IRC, que varia de -5 a +5, indicando o impacto da mudança climática sobre a temperatura local.
>> Leia também: La Niña não vem, e agora? Laboratório divulga nova previsão climática
O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que analisa os vários tipos de secas e políticas hídricas implementadas na região, por mais de cem anos (1901-2016).
Os mapas e produtos de satélite utilizados neste post foram gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis. Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
Copyright © 2017-2024 Letras Ambientais | Todos os direitos reservados | Política de privacidade