O La Niña está atrasado. A sua chegada, prevista inicialmente para este mês de agosto, pode demorar mais alguns meses. É possível que o fenômeno também seja mais fraco do que o esperado ou de intensidade moderada.
No último mês de junho, o El Niño desapareceu do Pacífico tropical, dando lugar a uma situação de neutralidade (sem El Niño e sem La Niña). A chegada do La Niña, inicialmente prevista para agosto, não vai ocorrer, pois o fenômeno atrasou. Possivelmente, chegará a partir de novembro (chance de 80%, segundo a NOAA), embora também seja possível que a neutralidade permaneça até o verão de 2025.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), é possível que o La Niña só chegue na primavera, no Hemisfério Sul. A estação começa em meados de setembro e vai até dezembro.
O La Niña é o resfriamento atípico do oceano Pacífico tropical, próximo à costa do Peru. Com essas águas oceânicas mais frias que o normal, há influência na atmosfera. A consequência mais conhecida no Nordeste e Norte do Brasil é o aumento no volume de chuvas.
Porém, antes da chegada do La Niña, há um período de transição. Como temos observado desde o último mês de junho, com o fim do El Niño, teve início uma fase de neutralidade (sem El Niño e sem La Niña). Observe, no gráfico abaixo, a variação das temperaturas na região de monitoramento do El Niño.
O El Niño significa o aquecimento anormal das águas do Pacífico tropical, sendo o oposto do La Niña, com impactos também distintos. Os impactos do El Niño já são muito conhecidos pela população: seca forte no Norte e Nordeste, mais calor no Sudeste e Centro-Oeste, além de muita chuva na região Sul.
Embora o El Niño geralmente cause seca na região Nordeste, isso não foi observado no último El Niño, que durou de junho de 2023 a junho deste ano. Enquanto ocorreu uma seca extrema na Amazônia brasileira, houve chuvas acima da média na maior parte do Nordeste, principalmente na porção norte da região.
Isso se deu em razão principalmente do aquecimento das águas do Atlântico Norte e do Atlântico Sul, havendo a manutenção e até mesmo a intensificação das chuvas, em algumas áreas do Nordeste.
>> Leia também: La Niña pode favorecer chuvas na Amazônia a partir de setembro
A previsão da chegada do La Niña, neste segundo semestre, vem sendo adiada pelas previsões da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Os modelos climáticos ainda apresentam incertezas sobre quando vai começar o fenômeno. Mas apesar das divergências, o início do La Niña parece ser mais provável nos meses de primavera.
Humberto Barbosa ressalta que é um risco hoje planejar uma safra olhando apenas para o La Niña. Os extremos climáticos se tornaram comuns, muitas vezes por uma convergência de fatores.
“Historicamente, o La Niña causa secas no Sul do País, principalmente durante a primavera e o verão. Mas desde o início do monitoramento por satélite, nunca tivemos tantos sistemas agindo ao mesmo tempo, para causar extremos climáticos. Por isso, extremos climáticos não podem ser explicados por apenas um fator”, alerta o meteorologista.
Humberto também comenta sobre a experiência do Laboratório Lapis na previsão climática para o Nordeste este ano. Enquanto a maioria das instituições previa uma grave seca para o Nordeste, o Laboratório Lapis alertava que poderia haver chuvas normais em alguns meses da estação chuvosa, na região. O que de fato acabou ocorrendo.
Para este ano, além do próprio La Niña, ele explica que outros fatores precisam ser considerados para prever o clima nas regiões brasileiras, nos próximos meses. A alta temperatura do oceano Atlântico tropical pode até neutralizar o impacto do La Niña.
Desde que as temperaturas dos oceanos começaram a subir de forma sistemática, no fim da década de 1970, não eram vistas tantas áreas aquecidas ao mesmo tempo. A menor extensão do gelo marinho da Antártida (índice negativo) também é uma condição que pode favorecer ciclones mais tardios.
“O Atlântico Norte está muito aquecido, além do aparecimento de um Dipolo no oceano Índico. O Atlântico Norte aquecido se encarrega de puxar a chuva para o Hemisfério Norte, fazendo com que o inverno e a primavera sejam mais secos no Brasil, como tem ocorrido atualmente”, completa.
Em 2020, o Atlântico Norte também estava aquecido. Isso fez com que o inverno tivesse grande quantidade de registros de queimadas no Pantanal. Em outubro daquele ano, também houve a maior onda de calor da história, registrada até aquele momento, em estados como São Paulo e Mato Grosso.
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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