Atlântico Norte mais quente provoca forte seca-relâmpago na Amazônia



Ouça este conteúdo
Parar este conteúdo

O El Niño foi embora no último mês de junho, como você pode observar no mapa atualizado das anomalias da superfície do mar (Veja imagem acima). Mesmo com o fim do El Niño, o impacto prolongado do fenômeno pode causar mais secas-relâmpago este ano.

O ano de 2023 foi o mais quente já registrado na história. É provável que o impacto prolongado do El Niño intensifique ainda mais o calor este ano. Isso deve causar ainda mais secas-relâmpago, que podem afetar a agricultura, mas também o abastecimento de energia e água no Brasil.

"Seca-relâmpago" (do inglês, flash drought) é um extremo climático de curta duração e forte intensidade, geralmente associado a altas temperaturas. Trata-se de uma nova tipologia de seca, decorrente da mudança climática, que causa grandes impactos ambientais e prejuízos econômicos.

As águas quentes do Atlântico Norte intensificam ainda mais a intensidade das tempestades tropicais. Essas ondas de calor marinho estão mais frequentes e intensas. Este ano, persistem e se espalham por grandes áreas oceânicas. Isso deve causar ainda mais secas-relâmpagos, com a consequente redução das chuvas na Amazônia.

O mapa da umidade do solo é o produto de satélite mais indicado para se estimar a situação de secas-relâmpago em determinada região. Ele permite estimar a quantidade de água da superfície do solo, a uma profundidade de até 40 cm, a partir de satélites.

O atual mapeamento da umidade do solo, feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), mostra situação muito crítica de seca na área central do Brasil e na Amazônia brasileira. Os dados de satélite foram atualizados em 30 de junho.

Mapa da umidade do solo_QGIS

Por outro lado, houve uma melhoria significativa na atual anomalia da umidade do solo em áreas da região Nordeste. O termo “anomalia” se refere ao percentual de umidade do solo observado atualmente, em comparação com a média histórica.

Você pode comparar com o mapa desse mesmo período do ano passado. Observe como o Paraná, grande parte do Sudeste e Centro-Oeste, além da Amazônia brasileira, enfrentam atualmente uma redução histórica na umidade do solo.

Mapa da umidade do solo_QGIS

Uma maneira de ajudar a adaptação climática na agricultura, diante do risco crescente desse novo tipo de seca, é melhorar as previsões de precipitação e temperatura. Isso pode ajudar os agricultores a tomarem decisões cruciais, como se vão investir no plantio ou não, em determinado momento.

Os primeiros estudos sobre o problema no Brasil e na América Latina também foram publicados pelo Laboratório Lapis, desde o ano passado. Recentemente, um novo estudo do Laboratório Lapis deu passos largos no desenvolvimento de tecnologias para detecção das secas-relâmpago no Brasil. A combinação de Inteligência Artificial e sensoriamento remoto mostraram resultados promissores nesse sentido.

>> Leia também: Estudo desenvolve modelo com Inteligência Artificial para detectar secas-relâmpago

Secas-relâmpago atingem áreas de quase todas as regiões brasileiras

Mapa das secas relâmpago no Brasil_QGIS

De acordo com o novo mapeamento do Laboratório Lapis, áreas da Amazônia brasileira, Centro-Oeste, Sudeste e Sul continua sob impacto das secas-relâmpago (Veja as áreas em vermelho e laranja, no mapa acima).

O mapeamento do Laboratório Lapis foi feito com dados do satélite SMAP (Soil Moisture Active Passive – Umidade do Solo Passiva e Ativa). O mapa semanal, gerado no software livre QGIS, permite identificar as condições da umidade do solo nas diferentes regiões brasileiras, sob influência das condições hídricas de cada localidade.

O produto de satélite (mapa da umidade do solo) permite detectar de forma mais rápida situações de saturação do solo. Em outro extremo, permite monitorar a situação de intensidade da seca, em especial, das secas-relâmpago.

As secas-relâmpago são caracterizadas por períodos abruptos de baixa precipitação, levando ao início rápido da seca, particularmente quando acompanhadas por altas temperaturas. Temperaturas mais altas aumentam tanto a evaporação da água do solo quanto a transpiração das plantas (evapotranspiração). Isso faz com que a umidade do solo caia rapidamente.

Esses eventos climáticos extremos ocorrem em um intervalo específico (dias, semanas ou mês), provocando danos concretos e visíveis imediatos (desastre intensivo). Isso não ocorre com a seca tradicional, que se desenvolve lenta e silenciosamente, sem apresentar impactos visíveis e estruturais a curto prazo (desastre extensivo).

>> Leia também: Cresce número de municípios afetados por seca-relâmpago no Brasil

Estiagem afetou grande parte do Brasil na segunda quinzena de junho

Mapa da precipitação_QGIS

O mapa semanal da precipitação, baseado em dados de satélites, destaca a distribuição das chuvas nas regiões brasileiras, no período de 26 a 30 de junho deste ano. De acordo com o monitoramento do Laboratório Lapis, o Rio Grande do Sul recebeu chuvas mais frequentes, no final do mês.

De acordo com o novo mapa, a estiagem predominou em toda a área central do Brasil, grande parte do Nordeste e o sul da Amazônia, durante o período. A estiagem ocorre em razão de uma forte massa de ar seco, que persiste sobre essas regiões, desde o mês de abril. Por outro lado, o extremo norte da Amazônia continua com chuvas frequentes e volumosas.

O mapa da precipitação faz parte do portfólio de produtos de monitoramento por satélite, do Laboratório Lapis. Com essa ferramenta, é possível se manter atualizado sobre a distribuição das chuvas, em qualquer área do território brasileiro, com frequência mensal ou semanal.

O mapa semanal foi gerado no software livre QGIS, a partir do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). Esse índice de seca permite analisar a duração, frequência e gravidade das secas meteorológicas, usando dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).

>> Leia também: Por que não falamos de transição agrícola para adaptação climática no Brasil?

Laboratório atualiza mapeamento da cobertura vegetal no Brasil

Mapa da cobertura vegetal NDVI_QGIS

O Laboratório Lapis monitora semanalmente a situação da cobertura vegetal nas regiões brasileiras, a partir de dados de satélites. O mapa atualizado foi gerado no software livre QGIS, a partir do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), com dados do período de 24 a 30 de junho deste ano.

De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo mapeamento, chama-se atenção no mapa para a vegetação seca na região do Médio e Alto São Francisco, uma área que normalmente não era tão seca.

“Em nossas pesquisas, constatamos um maior risco de secas nas regiões do Médio e Alto São Francisco nas últimas décadas, o que antes era mais comum se concentrar no Baixo São Francisco”, explica Humberto.

Você pode observar no mapa que a vegetação da área central do Brasil e de Matopiba (sul e oeste do Nordeste) ficou mais seca. Desde o mês de abril, uma massa de ar seco persistente atinge essa área.

Já no Rio Grande do Sul, é possível detectar os estragos das enchentes sobre a cobertura vegetal. As áreas em vermelho na Amazônia se referem à ausência de dados, em função da cobertura de nuvens durante toda a semana.

Você pode observar abaixo o mapa da cobertura vegetal do Semiárido brasileiro. 

Mapa da cobertura vegetal no Semiárido brasileiro_QGIS

O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km. O NDVI é um dos indicadores mais importantes para monitoramento das áreas com vegetação saudável ou sob impactos da seca.

Em 2009, o Laboratório implantou um protótipo para gerar o mapa de NDVI de frequência diária, para todo o Brasil. Esse modelo foi aperfeiçoado e calibrado, de modo que hoje, são divulgados mapas semanais cobrindo todo o território brasileiro. O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km.

>> Leia também: Brasil perdeu 55% das áreas de Agreste para o Semiárido, mostra estudo inédito

Mais informações

Passe um ano sendo treinado pelo Laboratório Lapis para aprender a gerar esses mapas e produtos de satélites. Estão abertas as inscrições para o Curso de QGIS "Mapa da Mina”, do zero ao avançado. É um treinamento 100% prático e online, similar a um MBA.

Você terá a oportunidade de aprender a dominar o mesmo método usado pela equipe interna do Laboratório Lapis, para gerar mapas e produtos de satélites, semelhantes aos que divulgamos neste post. Assista à videoaula introdutória do Curso e entenda como funciona o método.

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

Gostou do texto? Compartilhe com seus amigos:



Artigos Relacionados

Clima e energia

Previsão indica inverno com seca e calor na área central do Brasil

Clima e energia

Cresce número de municípios afetados por seca-relâmpago no Brasil

Clima e energia

Estiagem em grande parte do Brasil marca o mês de julho

Inscreva-se

Deixe aqui seu e-mail e receba nossas atualizações.


×

Este site utiliza cookies. Ao fechar este aviso, você concorda. Saiba mais.