Aquecimento global e degradação ambiental provocam uma nova tipologia de seca, chamada "secas-relâmpago". O termo "seca-relâmpago" (ou flash-drought, do termo em inglês) se refere a um extremo climático de curta duração e forte intensidade, geralmente acompanhado de altas temperaturas. Essa nova tipologia de seca, decorrente da mudança climática, afeta severamente a umidade do solo, cobertura vegetal, ecossistemas e prejudica as colheitas.
O monitoramento por satélite do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) identificou um aumento no número de municípios com dias consecutivos de seca, em grande parte do Brasil, nos últimos meses. A irregularidade das chuvas é consequência de uma seca-relâmpago. A previsão é que na maior parte do inverno (junho a agosto), o Centro-Sul receba chuvas abaixo da média histórica.
Desde o início de abril, um bloqueio atmosférico afeta grande parte do Brasil, principalmente as regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de áreas do Nordeste, especialmente da região de Matopiba. Nos últimos dias, a massa de ar seco também atinge áreas da Amazônia e da região Sul. Com isso, há predomínio de tardes mais ensolaradas e altas temperaturas nessas áreas.
A imagem abaixo, obtida a partir do satélite Meteosat-10, mostra a atual dimensão da massa de ar quente e seco sobre as regiões brasileiras.
O pesquisador Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis, estuda os extremos climáticos de secas-relâmpago no Brasil. Foi a primeira pesquisa sobre o assunto no País e na América Latina. Acesse aqui o artigo completo.
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O mapa mensal do número de dias secos mostra a frequência das chuvas nas regiões brasileiras, no período de 17 de maio a 15 de junho. No mapa, as áreas na cor marrom indicam onde não ocorreu chuva, nos últimos 30 dias. Já as áreas em verde ou azul mostram chuvas regulares ou os locais que tiveram apenas 1 a 3 dias sem chover, durante o período.
De acordo com o monitoramento atualizado do Laboratório Lapis, nos últimos 30 dias, houve um aumento do número de municípios secos na área central do Brasil. No lado oposto, a quantidade de chuva aumentou no Nordeste e na Amazônia brasileira.
O tempo seco é uma condição atípica para o Sudeste e Centro-Oeste nesse período. O desaparecimento das chuvas nos últimos 60 dias, deve-se à formação dessa massa de ar seco. Ela deixa o céu claro e serve de obstáculo à passagem de frentes frias — que provocam chuva no fim do outono.
A irregularidade das chuvas é consequência de uma seca-relâmpago. A previsão é que na maior parte do inverno (junho a agosto), a estiagem predomine em grande parte do Centro-Sul, com chuvas abaixo da média histórica.
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Um estudo da Confederação Nacional do Municípios (CNM), baseado nos decretos de emergência e estado de calamidade pública do Brasil, mostra que a agropecuária concentrou, no período 2013-2023, cerca de R$ 357 bilhões em prejuízos. A cifra corresponde a 56% do total de prejuízos por desastres climáticos no Brasil.
O mapa de monitoramento, gerado pelo Laboratório Lapis, com dados atualizados em 10 junho, mostra situação de umidade do solo muito baixa na maior parte do Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste brasileiro. Nessas regiões, predomina umidade do solo inferior a 10% (insuficiente para o desenvolvimento das lavouras).
Atualmente, um total de 507 municípios, de diferentes regiões brasileiras, recebem recursos emergenciais do governo federal, em razão da emergência por seca e estiagem. Os dados são da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa e Defesa Civil (Sedec/MDR).
Confira o número atualizado de decretos por seca ou estiagem, para cada região brasileira:
• Nordeste: 258 municípios (estiagem e seca);
• Sudeste: 194 municípios (estiagem e seca);
• Centro-Oeste: 41 municípios (estiagem);
• Norte: 13 municípios (estiagem);
• Sul: apenas 01 município (estiagem);
A previsão do Laboratório Lapis indica chuvas abaixo da média em junho, com grande irregularidade na distribuição espacial e temporal (períodos mais secos, alternado por excesso de chuva).
O mapa da “umidade do solo” estima o percentual de água retida na superfície do solo, a partir de satélites. A ferramenta é um dos principais indicadores da condição de seca e estiagem, por permitir detectar, com maior rapidez, o início dessa condição climática, em uma grande escala regional.
“Em um cenário de redução das chuvas no Brasil, que ficará mais grave nas próximas décadas, a questão da água se torna central. Com secas mais frequentes e altas temperaturas, a tendência é aumentar o uso da água para irrigação, acirrando os conflitos e a pressão sobre os recursos hídricos”, pontua Humberto Barbosa, fundador do Lapis.
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O mapa semanal da precipitação (à esquerda), baseado no Índice de Precipitação Padronizado (SPI), destaca a distribuição das chuvas nas regiões brasileiras, no período de 03 a 07 de junho deste ano.
Comparando com o mapa da última semana de maio (à direita), você pode observar que o Rio Grande do Sul continuou com chuvas frequentes, na última semana de maio. O oeste de Santa Catarina, sudoeste do Paraná e do Mato Grosso do Sul, além de grande parte da Amazônia, também recebiam volumes significativos de precipitação. Todavia, no início de junho, as chuvas ficaram escassas nessas áreas, embora os solos continuem saturados de umidade.
Atualmente, além da redução das chuvas no Rio Grande do Sul, a estiagem predomina em grande parte do Brasil, com exceção da Amazônia. Isso ocorre em razão de uma forte massa de ar seco, que persiste sobre essas regiões do País, desde o mês de abril.
O mapa faz parte do portfólio de produtos de monitoramento por satélite, gerados semanalmente pelo Laboratório Lapis. Com essa ferramenta, é possível se manter atualizado sobre a distribuição das chuvas, em qualquer área do território brasileiro, com frequência mensal ou semanal.
O mapa foi gerado no software livre QGIS, a partir do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). Esse índice de seca permite analisar a duração, frequência e gravidade das secas meteorológicas, usando dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).
O Laboratório Lapis monitora semanalmente a situação da cobertura vegetal nas regiões brasileiras, a partir de dados de satélites. O mapa atualizado foi gerado no software livre QGIS, a partir do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), com dados do período de 03 a 09 de junho deste ano.
De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo mapeamento, chama-se atenção no mapa para a seca na região do Médio São Francisco, uma área que normalmente não era tão seca.
“Em nossas pesquisas, constatamos um maior risco de secas nas regiões do Médio e Alto São Francisco nas últimas décadas, o que antes era mais comum se concentrar no Baixo São Francisco”, explica.
Você pode observar no mapa que a vegetação da área central do Brasil e de Matopiba (sul e oeste do Nordeste) ficou mais seca, em razão dos impactos da massa de ar seco persistente nessas áreas. No Rio Grande do Sul, é possível detectar os estragos das enchentes sobre a cobertura vegetal. As áreas em vermelho na Amazônia se referem à ausência de dados, em função da cobertura de nuvens durante toda a semana.
Em 2009, o Laboratório implantou um protótipo para gerar o mapa de NDVI de frequência diária, para todo o Brasil. Esse modelo foi aperfeiçoado e calibrado, de modo que hoje são divulgados mapas semanais cobrindo todo o território brasileiro.
O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km. O NDVI é um dos indicadores mais importantes para monitoramento das áreas com vegetação saudável ou sob impactos da seca.
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No último dia 17 de junho, foi celebrado o Dia Mundial da seca e da desertificação. Na ocasião, o Laboratório Lapis lançou um novo mapeamento da cobertura vegetal do Semiárido brasileiro, que permite identificar a existência de áreas degradadas na região.
Na porção norte do Nordeste brasileiro, onde houve maior reverdecimento da vegetação, em razão das chuvas frequentes, detectou-se com clareza essas áreas degradadas (vermelho muito intenso, no mapa). Já da área central até o sul da região, a seca já tem impactado a cobertura vegetal, desde o mês de abril.
O mapeamento semanal atualizado da cobertura vegetal no Semiárido brasileiro, gerado no software livre QGIS, com dados do período de 03 a 09 de junho, permite identificar as áreas com cobertura vegetal saudável ou sob influência da estiagem.
O produto de satélite “mapa da cobertura vegetal” possibilita detectar não só o início e o fim de uma seca, mas também monitorar sua intensidade, duração e impactos. Em especial, permite detectar as secas-relâmpago, extremos climáticos intensos e de curta duração (em média, duram cerca de 30 dias no Brasil).
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Passe um ano sendo treinado pelo Laboratório Lapis para aprender a gerar esses mapas e produtos de satélites. Estão abertas as inscrições para o Curso de QGIS "Mapa da Mina”, do zero ao avançado. É um treinamento 100% prático e online, similar a um MBA.
Você terá a oportunidade de aprender a dominar o mesmo método usado pela equipe interna do Laboratório Lapis, para gerar mapas e produtos de satélites, semelhantes aos que divulgamos neste post. Assista à videoaula introdutória do Curso e entenda como funciona o método.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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