Dezembro chegou com o início da temporada de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) no Semiárido brasileiro. O sistema meteorológico costuma trazer chuvas para o interior do Nordeste na pré-estação chuvosa (meses de dezembro e janeiro).
O início da pré-estação chuvosa no Semiárido traz alívio à situação climática de seca extrema e altas temperaturas no Nordeste. Desde o mês de agosto, a região enfrentava uma sequência de vários meses de seca-relâmpago (ausência de chuvas combinada com altas temperaturas).
Você pode observar, no mapa do número consecutivos de dias secos (Veja imagem abaixo), a situação de seca extrema no Nordeste Setentrional, no último mês de novembro.
Desde o último dia 02 de dezembro, um VCAN passa pelo Nordeste brasileiro e traz volumes significativos de chuva para a região. É um sistema de pressão que atua em altos e médios níveis da troposfera, caracterizado pela circulação dos ventos em sentido horário, em torno do seu centro seco.
Enquanto a área coberta pelo centro do VCAN costuma ficar mais seca, há muita nebulosidade e chuva em suas bordas.
Quando o VCAN se forma, costuma atuar de forma dinâmica, posicionando-se ora sobre a área oceânica, ora sobre o continente. A localização do seu centro (seco) e das suas bordas (úmidas) influencia diretamente nas condições de tempo da região.
No dia 03 de dezembro, o centro do VCAN ficou posicionado na área oceânica. A imagem do satélite GOES-16 mostra a posição do VCAN próximo à costa leste do Nordeste (Veja na imagem acima).
A influência das bordas desse sistema deixa o tempo instável, com muitas nuvens em alguns momentos, no centro-norte da região. A chance de chuvas deve aumentar, inclusive com possibilidade de temporais isolados em alguns municípios, nos próximos dias.
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Os VCAN's são sistemas difíceis de serem previstos, embora sejam comuns durante a pré-estação da região. O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), ressalta que uma pré-estação com chuvas significativas no Nordeste não significa que haverá uma boa quadra chuvosa na região, que acontece no período de fevereiro a maio.
Ele alerta que o Semiárido brasileiro corre risco de enfrentar uma seca, no verão de 2025. Mesmo havendo uma pré-estação favorável às chuvas, não há garantia de que a região terá uma boa estação chuvosa.
No atual cenário, há aquecimento anormal das águas do Atlântico Norte, bem como em grande parte do litoral brasileiro, com exceção da costa leste do Nordeste. A quadra chuvosa da região depende da posição favorável da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Para a ZCIT ficar favorável às chuvas nesse período, é importante que as águas do Atlântico Sul, próximo à costa leste do Nordeste, estejam mais aquecidas.
“A pré-estação chuvosa no Nordeste não depende da temperatura dos oceanos, mas de outros sistemas meteorológicos, como os VCAN’s. Atualmente, o Pacífico se encontra em condição de neutralidade, enquanto o Atlântico está em situação desfavorável para a quadra chuvosa no Nordeste”, ressalta Humberto.
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O Laboratório Lapis divulgou uma atualização sobre a situação das temperaturas no Brasil, de acordo com o mapa do Índice de Risco Climático (IRC), deste dia 07 de dezembro.
A posição do centro do VCAN no sul do Maranhão aumenta gradualmente as temperaturas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Por outro lado, nas áreas sob influência das bordas do sistema, as temperaturas tendem a cair, aumentando o risco de temporais.
“O VCAN, combinado com um canal de umidade em altitude e um sistema de baixa pressão, cria um cenário propício para temporais, especialmente no leste da Amazônia”, explica Humberto.
O mapa do IRC permite estimar como a mudança climática alterou as temperaturas diárias, em qualquer localidade. O mapa é baseado no IRC, que varia de -5 a +5, indicando o impacto da mudança climática para o aumento da temperatura local.
Você pode comparar a diferença nas temperaturas das regiões Nordeste e da Amazônia, com o novo mapa do dia 07 de dezembro (Veja nas imagens acima). Observe a recente tendência de redução das temperaturas nessas regiões.
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O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que analisa os vários tipos de secas e políticas hídricas implementadas na região, por mais de cem anos (1901-2016).
Os mapas e produtos de satélite utilizados neste post foram gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis. Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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