Ao longo de 2024, fizemos a cobertura dos assuntos mais importantes da área ambiental e climática do Brasil. Foram 55 posts publicados, com resultados do monitoramento da situação climática e ambiental de cada região. Dentre os destaques, estão eventos meteorológicos extremos, como secas e inundações, e seus impactos na vida da população.
Também acompanhamos temas que estão na ordem do dia, como o fim do El Niño e o La Niña que até agora não chegou, bem como suas consequências combinadas com o atual cenário de aquecimento global.
Todas as previsões climáticas e do tempo, além das análises ambientais, foram baseadas em dados e imagens de satélites. Isso foi possível a partir da parceria que o Letras Ambientais mantém com o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
Neste post, selecionamos os 5 fatos que consideramos mais marcantes da nossa cobertura climática e ambiental em 2024, com grande repercussão no Brasil.
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A combinação atípica de sistemas meteorológicos simultâneos causou um grave desastre por inundações no Rio Grande do Sul, no período de 29 de abril e 02 de maio. As imagens do desastre rodaram o mundo e comoveram todo o Brasil. Dados de satélite do PlanetScope mostram a situação do Aeroporto, antes e depois das inundações (Veja imagens acima).
Temporais de forte intensidade e inundações devastaram a maioria dos municípios do estado. O desastre causou a morte de 179 pessoas e 34 desaparecidos, além de danos às infraestruturas, serviços públicos e residências.
Os volumes extremos de chuva registrados no estado, durante o período, ficaram entre 200 milímetros (mm) e 300 mm em diversas áreas. Em menos de uma semana, alguns municípios, como Bento Gonçalves, superaram o extremo de 540 mm.
Neste post, explicamos como a combinação atípica dos 3 sistemas meteorológicos provocou chuvas persistentes e volumosas no estado.
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Em 2024, a Amazônia brasileira enfrentou mais uma seca incomum, pelo segundo ano consecutivo. No último mês de outubro, cerca de 75% dos municípios do Amazonas estavam em Situação de Emergência, em razão do evento climático extremo.
Essa foi a quarta seca extrema registrada na região, em apenas duas décadas. De acordo com o Laboratório Lapis, somente neste século, foram quatro períodos de secas extremas: 2005, 2010, 2015-2016 e 2023-2024.
O meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório Lapis e responsável pelo estudo, destaca que é totalmente incomum essas secas extremas na Amazônia.
“Era esperado que um desses eventos severos de seca na Amazônia ocorresse apenas uma vez a cada século. Mas nos últimos 20 anos, duas dessas secas extremas se prolongaram por dois anos, o que é totalmente atípico para a região”, explica Humberto.
Além da Amazônia, a área central do Brasil também enfrentou uma seca severa em 2024. Um bloqueio atmosférico persistente atingiu o Sudeste, Centro-Oeste e áreas da região Sul, pelo menos do período de abril a setembro. A intensa redoma de calor afastou as chuvas, que só voltaram à região desde o mês de outubro.
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Além das inundações, incêndios florestais frequentes e furiosos estão entre as consequências mais nefastas da mudança climática. Em 2024, o Brasil enfrentou uma grave crise causada pelo fogo, com danos e prejuízos significativos para a população.
A explosão de incêndios florestais em São Paulo, principalmente no período de 19 a 25 de agosto, gerou uma enorme crise ambiental no estado. O aumento dos focos, associado à fumaça das queimadas vinda de outras regiões, como da Amazônia e do Pantanal, além dos países vizinhos, tornou-se uma ameaça à saúde da população.
Além do impacto da mudança climática, que torna os períodos de seca mais longos e o ambiente mais propício ao fogo, utilizamos dados de satélites para demonstrar que os incêndios florestais são intencionais e provocados pela ação humana.
Inclusive, vários inquéritos foram abertos pela Polícia Federal para investigar um suposto novo “Dia do Fogo”, desta vez em São Paulo. As autoridades policiais analisam se houve ação orquestrada, como ocorreu no Pará, em 10 de agosto de 2019.
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No dia 09 de agosto, uma aeronave da companhia regional Voepass caiu em Vinhedo (SP), provocando a morte de 62 pessoas. O voo decolou de Cascavel (PR), com destino a Guarulhos (SP), mas foi interrompido, ao atravessar condições severas de tempo.
Comparando dados da velocidade e altitude do trajeto do avião que caiu com a situação de fenômenos meteorológicos encontrados ao longo da rota, o Laboratório Lapis concluiu que a aeronave enfrentou condições meteorológicas “caóticas” antes do acidente.
Para reconstituir as condições adversas enfrentadas pela aeronave, foram utilizadas imagens de satélites e radar, associadas aos dados da rota do voo.
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Uma pesquisa inédita, publicada pelo Laboratório Lapis este ano, constatou que mais da metade das terras de Agreste do Nordeste brasileiro se tornaram semiáridas. De acordo com a pesquisa, uma área total de 725 mil km2 da região passou da condição de subúmida seca para semiárida, apenas nas últimas três décadas (1990-2022).
Em janeiro deste ano, um total de 1.477 municípios passou a integrar a nova delimitação do Semiárido brasileiro. Esse número representa um aumento de 43%, em relação aos limites da região em 2005.
As secas mais severas e a degradação das terras pioram a situação. O Laboratório Lapis também constatou que 13% das terras da região já estão desertificadas e que a degradação da superficie já influencia na redução das nuvens de chuva na região.
Em 2024, as chuvas normais no Semiárido foram a melhor novidade, contrariando as expectativas dos que esperavam uma seca severa para a região, em razão da influência do El Niño.
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Os mapas e produtos de satélite utilizados em nossos posts são gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis. Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado. Inscrições abertas neste link.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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