Nas primeiras semanas de dezembro, a temperatura do Atlântico Sul, na costa leste do Nordeste brasileiro, apresenta tendência de aquecimento. De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), essa mudança é importante para a previsão climática das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
O mapa acima mostra a atual condição das temperaturas dos oceanos, na primeira semana de dezembro. Observe que o Pacífico tropical continua mais frio do que o normal, enquanto o Atlântico Sul está com temperatura de normal a mais aquecida. Até o fim do próximo verão, é improvável que ocorra um La Niña ou um El Niño.
As anomalias de temperatura da superfície do Pacífico oscilam na região entre -0,5 °C e +0,5 °C. O termo “anomalia” indica o desvio da temperatura em determinado momento, em relação à média histórica.
No início de novembro, o Laboratório Lapis alertou para o risco de seca no Nordeste, em 2025, com base nas condições observadas nos oceanos e na atmosfera naquele momento. Todavia, ressaltou que os sistemas meteorológicos são dinâmicos, de modo que qualquer mudança identificada, seria feita a atualização da previsão.
Nesta quinta-feira, dia 12 de dezembro, o Laboratório Lapis divulgou uma nova análise da previsão climática sazonal. De acordo com a prévia, as condições atuais indicam melhorias na expectativa de chuvas para o Centro-Norte do Brasil. Com isso, há chance de chuvas em torno ou acima da média na região Norte e Nordeste.
"Apesar das incertezas, modelos climáticos já recalcularam a previsão climática para o próximo verão, considerando os novos dados de temperatura dos oceanos. O cenário está mais favorável para as chuvas no Norte e Nordeste, mas só iremos divulgar a previsão climática sazonal nas próximas semanas", explica o Humberto.
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No início de 2024, a maioria dos modelos indicava que o mundo entraria em um La Niña, mas essa previsão não se concretizou. Desde o último mês de junho, a região central do Pacífico equatorial se encontra em condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS). É possível que essa condição se mantenha até o outono (março a junho) de 2025.
Como explicamos no Livro “Um século de secas”, nessa situação de neutralidade, com ausência de La Niña e do El Niño, a temperatura do Atlântico Sul se torna decisiva para a previsão climática, especialmente na região Nordeste. Quando o Atlântico Sul está mais aquecido do que o Atlântico Norte, as perspectivas são boas para as chuvas no Nordeste e na Amazônia.
O Atlântico Sul mais aquecido favorece a posição da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal fenômeno que trás chuvas para o Norte e Nordeste, durante o verão.
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Desde o mês de maio, o Laboratório Lapis destaca a situação de seca prolongada na Amazônia brasileira, em razão do aquecimento do Atlântico Norte. Com isso, os ventos alísios de sudeste mantêm a ZCIT muito afastada da região, inibindo as chuvas.
O Atlântico exerce uma influência decisiva no clima do Brasil. A imagem acima mostra a variação da temperatura da superfície do mar (TSM), na região do Atlântico tropical, no último dia 06 de julho. As áreas em tons amarelo, laranja e vermelho mostram águas superficiais mais quentes que 26 ºC, enquanto as cores verde e azul indicam águas mais frias do que esse limiar.
No oceano caribenho, as temperaturas estão acima de 28 °C, com águas mais quente que o normal, condição favorável à formação furacões. Também é um indicativo de continuidade da seca no leste da Amazônia. Você pode observar no mapa da precipitação, as áreas da região Norte onde houve melhoria nos volumes de precipitação, no final de novembro.
O Laboratório Lapis atualizou o monitoramento da atual situação da seca nas regiões brasileiras, a partir do mapa da intensidade da seca. De acordo com o mapa, as áreas em laranja e vermelho mostram como piorou o percentual de umidade do solo e dos volumes de precipitação em áreas do Sudeste, Centro-Oeste e Matopiba, quando comparado com a média histórica.
A Amazônia enfrenta impactos cumulativos de uma seca hídrica e atualmente está com risco hidrológico maior do que no ano passado. Rios da bacia amazônica registram níveis mínimos históricos para esse período. Comparando com a média histórica, atualmente a seca afeta mais a região de Roraima.
O ano de 2024 já é considerado o mais quente já registrado na história. Até então, o recorde havia sido o ano passado, segundo o Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus. Esse aumento da temperatura global também influencia na situação oceanos, com impactos no clima global.
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O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que analisa os vários tipos de secas e políticas hídricas implementadas na região, por mais de cem anos (1901-2016).
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LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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