Neste post, vamos atualizar a situação climática das regiões brasileiras, a partir dos dados de monitoramento por satélite obtidos junto ao Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis).
Os mapas e produtos de satélite permitem identificar como foi a distribuição das chuvas nas regiões brasileiras. Há ainda a análise de outras variáveis, como situação da cobertura vegetal, previsão climática, temperaturas, intensidade da seca e umidade do solo.
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No mapa do Índice de Risco Climático (IRC) para o dia 14 de dezembro, as áreas em vermelho intenso indicam altas temperaturas, que coincidem com as áreas mais secas, principalmente no Nordeste e Centro-Oeste. A escala de IRC de +5 significa que a temperatura está 5 vezes maior, por influência da mudança climática (sobretudo poluição por dióxido de carbono, causada pela ação humana).
Essa escala de risco indica o quanto o aquecimento global alterou a temperatura local. Ou seja, IRC alto (+5) indica maior chance de os impactos na temperatura local estarem atribuídos à mudança climática. Vale lembrar que há outras influências sobre a temperatura local, requerendo estudos específicos.
O alto risco climático do Brasil se concentra atualmente em áreas do Centro-Sul. A atual fase úmida da Oscilação Madden-Julian (OMJ), que passa pela região, favorece à formação de nuvens “overshootings”, com grande desenvolvimento vertical e topo frio, sobre o Paraguai e no Sul brasileiro, associadas a áreas de baixa pressão.
Na meteorologia tropical, “overshootings” é o nome dado às nuvens Cumulonimbus (Cb). São nuvens enormes, que chegam na estratosfera e liberam muito calor latente. Estão associados a fortes ventos, granizo, chuva pesada e até tornados. Nas imagens de satélite, na faixa do Visível, os topos dessas nuvens são frequentemente rugosos e aparecem sombras onde as nuvens penetram acima do topo. Essas regiões são conhecidas como "overshooting tops".
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O mapa semanal da precipitação, baseado em dados de satélite, destaca a distribuição das chuvas pelo Brasil, no período de 03 a 07 de dezembro deste ano. De acordo com o monitoramento do Laboratório Lapis, o início do mês contou com chuvas frequentes desde a Amazônia até a região Sul. O mapeamento também destaca predomínio de estiagem em grande parte do Nordeste. No oeste da região, as chuvas estão mais irregulares.
O mapa da precipitação faz parte do portfólio de produtos de monitoramento por satélite, do Laboratório Lapis. Com essa ferramenta, é possível se manter atualizado sobre a distribuição das chuvas, em qualquer área do território brasileiro, com frequência mensal ou semanal.
O mapa semanal foi gerado no software livre QGIS, a partir do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). Esse índice de seca permite analisar a duração, frequência e gravidade das secas meteorológicas, usando dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).
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O Laboratório Lapis monitora semanalmente a situação da cobertura vegetal nas regiões brasileiras, a partir de dados de satélites. O mapa foi gerado no software livre QGIS, por meio do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), com dados do período de 02 a 08 de dezembro.
Você pode observar, no mapa, a recuperação da cobertura vegetal em quase todo o Brasil, principalmente no Centro-Sul, em razão das chuvas regulares. Mas desde o nordeste da Bahia até o Ceará e Rio Grande do Norte, a vegetação continua seca.
O mapa foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km. O NDVI é um dos indicadores mais importantes para monitoramento das áreas com vegetação saudável ou sob impactos da seca.
Em 2009, o Laboratório implantou um protótipo para gerar o mapa de NDVI de frequência diária, para todo o Brasil. Esse modelo foi aperfeiçoado e calibrado, de modo que hoje, são divulgados mapas semanais cobrindo todo o território brasileiro. O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km.
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Recentemente, divulgamos neste post uma atualização sobre a condição das temperaturas dos oceanos, na primeira semana de dezembro. O Pacífico tropical continua mais frio do que o normal, enquanto o Atlântico Sul está com temperatura de normal a mais aquecida. Até o fim do próximo verão, não deve ocorrer um La Niña ou um El Niño.
Destaca-se também o forte aquecimento das águas superficiais no Atlântico Norte. Já no Atlântico Sul, predominam águas mais quentes em grande parte do litoral brasileiro, inclusive na costa norte e leste do Nordeste. Essa situação pode favorecer clima da região.
Apesar de ser muito comum se estabelecer a relação entre o El Niño e secas no Semiárido brasileiro, o El Niño não tem sido suficiente para explicar as secas. Embora fortes eventos de El Niño estejam associados a severas secas no Semiárido, em muitos casos, não há tal relação.
Outro fator que influencia fortemente as secas no Semiárido são as anomalias da temperatura da superfície do Atlântico. A seca extrema de 2012 foi causada principalmente por padrões anômalos das temperaturas superficiais nos oceanos Pacífico e Atlântico.
Eventos de El Niño, associados a um clima mais quente do que o normal do oceano Atlântico Norte e mais frio no oceano Atlântico Sul, influenciaram na posição latitudinal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Assim, reduziram as chuvas na região. Esse fenômeno é conhecido como Dipolo do Atlântico.
No Livro “Um século de secas”, analisamos as secas do período de mais de um século (1901-2016). Das 32 secas ocorridas no Semiárido brasileiro, no período, e dos 30 eventos de El Niño (fracos, moderados e fortes) também registrados, em 70% dos casos, houve associação direta entre secas e El Niño. Por outro lado, foi observado que quase 30% das secas ocorridas não coincidiram com o El Niño. Foram as seguintes secas: 1904, 1907, 1908, 1909, 1915, 1936, 1942, 2012 e 2013.
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O conteúdo deste post foi aprofundado no Livro “Um século de secas”, que analisa os vários tipos de secas e políticas hídricas implementadas na região, por mais de cem anos (1901-2016).
Os mapas e produtos de satélite utilizados neste post foram gerados no QGIS, o software livre de Geoprocessamento mais usado do mundo. Você pode passar 01 ano inteiro sendo treinado pelo Laboratório Lapis. Inscreva-se no Curso online "Mapa da Mina", que ensina o método exclusivo do Laboratório Lapis para dominar o QGIS, do zero ao avançado.
LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].
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