O La Niña acabou, e agora? Saiba como fica o clima nas regiões brasileiras



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O Centro de Previsão Climática (CPC) da  Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) reconheceu que o La Niña já foi embora. O fenômeno atuava desde meados de dezembro, mas em intensidade muito fraca. No último mês de março, a condição de neutralidade do El Niño Oscilação Sul (ENOS) retornou ao Pacífico equatorial. 

O La Niña é a fase fria do ENOS, marcada por temperaturas da superfície do Pacífico equatorial mais frias que o normal, em relação à média. No final de março, as temperaturas da superfície do mar naquela região se aproximaram da média, sinalizando que o La Niña desapareceu.

A mudança de La Niña fraco para neutro é influenciada por vários fatores, incluindo flutuações nos ventos alísios, pressão atmosférica e temperaturas oceânicas. O ENOS é considerado em estado climático neutro quando regiões do Pacífico central e oriental apresentam anomalias de temperaturas entre 0,5 °C e -0,5°C.

Segundo Humberto Barbosa, fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), essa condição de neutralidade deve durar pelo menos até o inverno (junho a agosto) no Brasil. A partir da primavera (setembro), as chances de La Niña ou El Niño retornarem começam a aumentar. Atualmente, um verão com La Niña parece mais provável do que com El Niño, no final de 2025 e início de 2026.

O ENOS neutro significa que as temperaturas da água do Pacífico equatorial não terão impacto previsível no padrão climático do Brasil. Com isso, outros sinais e mudanças de padrão de curto ou longo prazo são observados, para prever a situação climática das regiões do País. Espera-se que esse padrão de neutralidade continue durante o inverno.

Por outro lado, na costa oeste da América do Sul, as anomalias de temperatura já ultrapassam 2,8 °C acima da média, caracterizando um evento de El Niño costeiro. Esse fenômeno tende a ter impacto mais localizado, inclusive sobre o clima da região Centro-Norte do Nordeste do Brasil.

>> Leia também: Laboratório divulga previsão climática para as regiões brasileiras no próximo trimestre

Áreas áridas do Brasil enfrentaram calor extremo de 5 °C acima da média

Mapa das altas temperaturas_QGIS

O Laboratório Lapis lançou um novo mapa de monitoramento da condição de calor extremo nas regiões brasileiras. Baseado em dados do satélite Meteosat Terceira Geração (MTG-I), o mapeamento destaca anomalias de temperatura máxima, no período de 31 de março a 06 de abril deste ano. O termo “anomalia” indica o desvio da temperatura de determinado momento, em relação à média histórica.

Você pode observar, no mapa, que o Semiárido brasileiro foi impactado por temperaturas de até 5 °C acima da média histórica, durante o período. Ou seja, as temperaturas estão mais altas na região do que eram no passado, com dias com ondas de calor e dias com calor extremo mais frequentes.

No mapa, as cores em vermelho e rosa destacam áreas que estão se tornando mais quentes, em ritmo duas vezes maior do que as áreas subúmidas secas, ou seja, do que o Agreste (subúmidas secas).

Essas áreas mais quentes coincidem com o mapeamento feito pelo Laboratório Lapis, que identificou áreas áridas em 8% das terras do Semiárido brasileiro. O estudo também concluiu que 55% das áreas de Agreste se tornaram semiáridas, nas últimas três décadas. Acesse o estudo completo neste post

Sobre o Semiárido brasileiro, as áreas de calor extremo (em tons de vermelho e rosa, no mapa), apresentam os seguintes impactos: 1) Déficit severo de precipitação, aumentando o risco de incêndios florestais; 2) Baixos níveis das água, que impactam diretamente o transporte fluvial e terrestre, afetando a economia da região; 3) Solo seco, com déficit de umidade a longo prazo.

>> Leia também: Calor extremo atingiu cerca de 60% da população brasileira em fevereiro

Mapa mostra distribuição das chuvas nas regiões brasileiras

Mapa da distribuição da precipitação_QGIS

O mapa da precipitação, baseado em dados de satélite, destaca a distribuição das chuvas nas regiões brasileiras, no período de 01 a 05 de abril. De acordo com o monitoramento semanal do Laboratório Lapis, a seca predominou desde a área central do Rio Grande do Norte até o norte de Minas Gerais. A situação de seca se deve à influência de uma massa de ar seco persistente, desde o início de fevereiro.

O mapeamento também destaca chuvas regulares em áreas da porção norte do Nordeste, região Norte e Mato Grosso, durante o período. Já no Centro-Sul, as chuvas foram irregulares.

O mapa da precipitação faz parte do portfólio de produtos de monitoramento por satélite, do Laboratório Lapis. Com essa ferramenta, é possível se manter atualizado sobre a distribuição das chuvas, em qualquer área do território brasileiro, com frequência mensal ou semanal.

O mapa semanal foi gerado no software livre QGIS, a partir do cálculo do Índice de Precipitação Padronizado (SPI). Esse índice de seca permite analisar a duração, frequência e gravidade das secas meteorológicas, usando dados do Climate Hazards Group InfraRed Precipitation with Station data (CHIRPS).

>> Leia também: Meteorologista explica por que chegada do El Niño ainda vai demorar

Mapeamento mostra situação da cobertura vegetal no Brasil

Mapa da cobertura vegetal_QGIS

O Laboratório Lapis monitora semanalmente a situação da cobertura vegetal nas regiões brasileiras, a partir de dados de satélites. O mapa foi gerado no software livre QGIS, a partir do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), com dados do período de 31 de março a 06 de abril.

Você pode observar, no mapa, a recuperação da cobertura vegetal em quase todo o Brasil, principalmente em áreas do Centro-Sul. Todavia, em áreas do Nordeste, o mapa apresenta cobertura vegetal com sinais de seca.

Você pode observar que do Rio Grande do Norte até a Bahia, as áreas em vermelho e amarelo indicam, respectivamente, seca forte e moderada. Em outras localidades, o vermelho mais intenso coloca em evidência as áreas degradadas na região.

A demora na recuperação da cobertura vegetal do Nordeste se deve à memória da longa seca e altas temperaturas enfrentadas pela região. Desde o último mês de fevereiro, uma massa de ar seco atinge grande parte da região, inibindo os sistemas geradores de chuva.

O mapa foi processado com dados do satélite Meteosat-10, com resolução de 3 km. O NDVI é um dos indicadores mais importantes para monitoramento das áreas com vegetação saudável ou sob impactos da seca.

Em 2009, o Laboratório implantou um protótipo para gerar o mapa de NDVI de frequência diária, para todo o Brasil. Esse modelo foi aperfeiçoado e calibrado, de modo que hoje, são divulgados mapas semanais cobrindo todo o território brasileiro. O produto foi processado com dados do satélite Meteosat-10 e resolução de 3 km.

>> Leia também: Pesquisa mostra como manejo do fogo combate à mudança climática na Amazônia

Mais informações

Os mapas e produtos de satélites utilizados neste post fazem parte do portfólio de produtos de monitoramento do Laboratório Lapis. Se você quer aprender a dominar o software livre QGIS, para gerar mapas e produtos de monitoramento por satélite, você tem a oportunidade de passar 01 inteiro sendo treinado pela equipe do Laboratório Lapis. Para dominar as Geotecnologias, até o nível avançado, inscreva-se para o Curso de QGIS “Mapa da Mina”

COMO CITAR ESTE ARTIGO:

LETRAS AMBIENTAIS. [Título do artigo]. ISSN 2674-760X. Acessado em: [Data do acesso]. Disponível em: [Link do artigo].

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